FACTO
"Aumentamos o número de dias de aulas do próximo ano, encurtando, por um lado, a pausa lectiva da Páscoa e prolongando a duração do ano lectivo para os anos de escolaridade que não estão sujeitos a exame" - Tiago Brandão Rodrigues. Segundo o ministro, o alargamento do próximo ano lectivo serve, sobretudo, para permitir que os alunos e professores tenham mais tempo para recuperar e consolidar aprendizagens.
COMENTÁRIO
A primeira reflexão que me assalta é a propalada história do enorme sucesso que foi o "ensino a distância". Isso mereceu visitas, inflamadas declarações, muitas palavras de enaltecimento ao trabalho dos professores, eu sei lá quantas foram as cores que pintaram a resposta do sistema à pandemia. Mesmo sem meios informáticos para todos. Fico perplexo quando, agora, o mesmo ministro anuncia um maior número de dias de actividade no próximo ano lectivo para, note-se bem, "os alunos e professores tenham mais tempo para recuperar e consolidar aprendizagens". Esquisito. Nada bate certo. Em linguagem informática eu diria que vai dar "erro". Só posso deduzir que, realmente, até o próprio ministro admite que o "ensino a distância" foi uma farsa!
O ministro ainda não percebeu aquilo que há tantos anos é salientado: "mais escola não significa melhor escola". Portanto, na incerteza do que a pandemia reserva, mais avisado teria sido, no quadro do actual sistema educativo, a definição de dois grandes objectivos: primeiro, o de caminhar, paulatinamente, para uma série de mudanças estruturais no pensamento estratégico no que concerne à organização dos estabelecimentos de aprendizagem, currículos, programas e exercício de uma pedagogia motivadora; segundo, o de sugerir, repito, no quadro do actual sistema, a aprendizagem do fundamental de cada disciplina no contexto interdisciplinar. No fundo, em uma lógica do que é animador, encorajador, incentivador e portador de futuro.
Sabe-se que muito do que é transmitido destina-se ao teste e logo ao esquecimento. Há muita tralha nos programas. Ora, manter, como objectivo, a transmissão de toda tralha acaba por ser do tipo "timex": não adianta nem atrasa. Daí que, mais dias de aulas, mais trabalho para os professores, mais testes de avaliação, mais burocracia e mais reuniões não acrescentarão rigorosamente nada. Tornar-se-á, apenas, penoso para toda a comunidade escolar. A não ser que o objectivo continue a ser o da escola enquanto "armazém" de crianças e jovens e não o espaço determinante da formação.
Ilustração: Google Imagens.
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