Alguns governantes habituaram-se a mentir ou a contornar a verdade. Sempre que lhes dá jeito. Um dado assunto, não sendo mentira, no entanto, pode esconder uma montanha de fragilidades. Por isso, divulgam o que interessa e mascaram ou esquecem tudo o resto, no pressuposto que uma larga maioria engolirá com relativa facilidade. Ontem foi, novamente, dia de mascarar e de auto-elogio. Talvez porque, na véspera, tinham sido divulgados os "ranking's" dos resultados obtidos nos exames nacionais, os quais, globalmente, deixaram os estabelecimentos da região em posições nada agradáveis. Daí, terão sentido a necessidade de falar de "mais casos de sucesso em todos os ciclos de ensino", de uma "inspiração e motivação para procurar melhorar", de uma enorme "qualidade dos projectos educativos" e até da "grande motivação dos alunos". Não bate certa uma coisa com a outra!
Tratou-se, claramente, de um contraponto político, para esconder a realidade factual do dia anterior. Quem se apresenta contra os "ranking's", naturalmente que não precisa de se justificar com números estatísticos que têm muito que se lhe diga. Não precisa se, por acaso, está certo do caminho que escolheu.
Aliás, já aqui o referi, há um livro clássico "Como mentir com a Estatística", escrito por Darrell Huff, onde o autor sublinha: "(...) A linguagem secreta da estatística, tão atraente no quadro de uma cultura baseada em factos, é usada para causar sensacionalismo, para amplificar, para confundir e para simplificar o mais possível. Os métodos e termos estatísticos são necessários para comunicar um grande volume de dados sobre tendências socioeconómicas, condições de mercados, pesquisas de opinião e recenseamentos. Todavia, sem autores que usem as palavras com honestidade e sentido e sem leitores que saibam o que elas querem dizer, o resultado só poderá ser um completo disparate semântico (...) Como se fossem uns pozinhos de perlimpimpim, as estatísticas fazem muitos factos importantes parecerem aquilo que, de facto, não são (...)".
Ora, por mais voltas que possa o secretário dar, lamentavelmente, o facto é este: "(...) 65% da população da Madeira, com 15 ou mais anos, tem apenas até o 9º ano de escolaridade. (...) A Madeira continua a estar pior do que a média nacional, naquela que é a taxa de abandono precoce de educação e formação (jovens dos 18 aos 24 anos que estão fora do sistema de ensino e sem o secundário): 23% na Região e 14% no País" (22.07.2019)
Coexistem múltiplas razões, não apenas as organizacionais do sistema, isto é, de pensamento relativamente à Educação. Mas basta pegar em um indicador, o tal que aponta para 30% de pobreza, para percebermos que se a sociedade não está bem, a escola não pode estar melhor! Concordo com o que disse o Senhor Presidente da Assembleia Legislativa da Madeira no dia 1 de Julho:
“Não podemos continuar a ser uma das Regiões com mais desigualdades territoriais e sociais”. Um tiro certeiro que a caridade não resolve.
Mas nesta semana assisti a uma outra situação, penosa e de mau gosto, em que a secretaria da Educação tentou passar uma imagem de vitoriosa no processo judicial da Escola do Curral das Freiras, o tal que envolveu o Dr. Joaquim José de Sousa. O caso, segundo julgo saber, está em fase de recurso, mas o que se depreende da leitura de um texto, é que a única justificação para essa dita "vitória" está no facto da contestação ter sido apresentada "fora de prazo" (um dia). Ora, o governante, do meu ponto de vista, quer ganhar na secretaria uma monumental derrota que teve em todo o processo que conduziu à perda da autonomia da Escola do Curral e à respectiva incorporação como "anexo" da Escola de S. António. Os Acórdãos são manifestamente favoráveis ao Professor Joaquim Sousa.
Curiosamente, a Escola do Curral, onde o Professor em causa ajudou a levá-la ao topo nacional, com vários prémios ganhos, depois de anulada a sua autonomia e a respectiva integração, no contexto da nova escola (S. António), diz o "ranking" que esta se classificou em 599º lugar.
Não me interessa a classificação para nada, porque uma escola é muito mais que um "ranking", mas não deixo de dizer que aquela posição, sim, foi a derrota de quem, por inexplicável ciúme ou seja lá o que for, acabou com o trabalho que vinha a ser realizado, com amor, na recôndita escola do Curral. A maldade, conduziu, relembro, o Professor Joaquim, por ninharias (ridículas) administrativas, a seis meses sem salário (vergonha), sem acesso aos documentos administrativos que o podiam inocentar, através de um processo maquiavélico em que nem a instrutora era inspectora. Decorrente deste aspecto, continuo incrédulo como é que a Inspecção Regional de Educação tenha reconhecido, a 17 de Dezembro de 2019, que as ACTAS, assinadas pelos membros do executivo da escola, tinham sido perdidas e, como tal, o "arguido" não as poderia utilizar como defesa. Coloco a questão: se desapareceram é que alguém as desviou e, neste caso, pergunto, se a secretaria comunicou tal situação às autoridades policiais?
Destas trapaças e ofensas à dignidade de um Professor, o governante queda-se pelo silêncio. Lamento.
Ilustração: Google Imagens.
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