Pouco ligo à data. Dia 5 é o "nosso" dia. Pois, e daí? Alguma coisa se altera, por mais enternecedores que sejam os discursos? Que os professores são peças fundamentais na estrutura e no progresso da sociedade, todos o sabem; que para aquilo que fazem a esmagadora maioria tem salários não proporcionais à sua responsabilidade, não tem discussão por tão óbvio que é; que penam para subir de escalão, constitui uma outra verdade corriqueira; que são subtilmente ofendidos e até perseguidos pelos mais diversos canais, muitos factos provam-no; que estão envolvidos em uma burocracia sem sentido, imposta por burocratas que justificam os seus lugares infernizando a vida dos outros, é coisa que de tão badalado já não tem como dela falar. Portanto, o "nosso" dia deveria sê-lo, lá vou eu para um lugar comum, todos os dias, porém com outros conteúdos.
Mas não, por todo o lado repetir-se-ão as cenas de enaltecimento da importância dos docentes, todavia, prenhes de palavras inconsequentes. No dia 6 tudo continuará na enervante rotina, até nos cochichos de corredor ou nos intervalos, nos murmúrios que apenas acrescentam angústia e até síndromes depressivos. O caminho não é esse. Se existe um dia para expressar o descontentamento propositivo, então, esse dia 5 terá de tocar na ferida. Onde dói torna-se necessário meter o dedo nas feridas abertas que provocarão uma dor maior em quem tem o dever de reflectir e de não obstaculizar a mudança de paradigma. De resto, há outros dias e momentos para debater, nos locais próprios, a revisão das tabelas salariais, reivindicar direitos perdidos ou para colocar em causa diplomas, portarias e repetidas circulares.
O 5 de Outubro marca uma Revolução. Há 110 anos o povo disse não à Monarquia Constitucional e implantou a República. Na Educação, Portugal precisa de uma Revolução na forma de interpretar a aprendizagem consequente, de resposta a um mundo todos os dias surpreendente e que, há muito, não se coaduna com as regras do passado. Recordo o que, recentemente, destacou o Engenheiro Carlos Moedas, ex-Comissário Europeu: "(...) O que é importante não é a inovação, mas o inovador. As políticas públicas que hoje, mais do que nunca, precisamos, é termos uma reforma profunda do sistema educacional (...) o papel do professor será sobretudo de tutor, de ajudar a resolver problemas (...) será necessário fazer uma aposta nas qualificações que cruzem o mundo físico e o digital (...) os que conseguirem navegar melhor nestas duas realidades serão os melhores profissionais". Ora bem, continuar a martelar nas lógicas do passado, é como querer meter o amanhã nos cubículos de ontem. Arrepia-me esta tendência para confinar o aluno à sala de aula, quando hoje a sala é o planeta. Não faz sentido e, por isso mesmo, constitui um grosseiro erro estratégico a fuga ao difícil (o novo é sempre complexo) para manter, de forma fácil, um razoável, previsível e "infeliz conforto" do dia-a-dia.
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