sábado, 9 de junho de 2018

DRAMÁTICO


FACTO

"65% da população da Madeira, com 15 ou mais anos, tem apenas até o 9º ano de escolaridade. O valor está acima da taxa nacional que, no ano passado, ficou pelos 61%. A Madeira continua a estar pior do que a média nacional, naquela que é a taxa de abandono precoce de educação e formação (jovens dos 18 aos 24 anos que estão fora do sistema de ensino e sem o secundário): 23% na Região e 14% no País". Fonte - DN-Madeira/Pordata/Jornalista Ana Luísa Correia.


COMENTÁRIO

Quarenta e quatro anos depois de Abril são estes os resultados da política educativa regional autónoma. Dados que já eram conhecidos, não com a precisão agora divulgada. Pelas consequências futuras que estas percentagens denunciam, só há uma palavra que caracterize a situação: DRAMÁTICO. Entre os desempregados são cerca de dois terços que apresentam habilitações iguais ou inferiores ao 9º ano. O futuro está comprometido. Ora bem, esta, repito, dramática situação, é explicada, fundamentalmente, por quatro vectores:

Pelo estado de pobreza. Se existem, segundo os estudos, 30% de pobres, 15% destes em pobreza persistente, é óbvio que esta significativa fragilidade social se reflecte no quadro do insucesso e abandono escolar. Tenhamos presente que uma família pobre não pensa a educação a vinte anos. Pensa a sua vidinha ao mês, à semana e ao dia, porque as prioridades básicas imediatas são outras. E é assim pela necessidade de juntar dinheiro que corresponda às necessidades. As questões de política social estão, assim, na primeira linha do insucesso e do abandono. Junta-se a isto a mentalidade, consequência de uma menoridade cultural em sentido genérico. Resta saber, através de estudo, se essa política foi ou não intencional. Pode ser perverso, mas é uma hipótese.

Pela resposta do sistema educativo. O sistema só é aparentemente inclusivo. O facto da escola pública estar aberta a todos, não significa que o sistema não traga consigo o gérmen da exclusão pelas razões sociais. Não é inclusivo, por múltiplos factores: de ordem organizacional, curricular, programática e, sobretudo, pedagógica. Há uma substancial diferença entre o que designam por estabelecimentos de ensino e o que deveria se designar por estabelecimentos de aprendizagem. Aquelas percentagens acabam por ser como o algodão, não enganam. A escola, desde há muito que parou no tempo, estando a sua resposta descontextualizada da vida, da ciência e da espantosa evolução tecnológica. A escola não é apelativa, pois segue, teimosamente, os caminhos do passado. Funciona "by the book". Por alguma razão, a síntese do Prof. José Pacheco é repetida por tantos: o sistema destina-se a "alunos do século XXI, porém com professores do século XX, que utilizam as metodologias do século XIX". Em linguagem informática só podia dar erro. Ademais, o sistema vive de aparências, das olimpíadas disto e daquilo, da gabarolice da minha escola ser melhor que a tua, dos ranking´s, dos prémios no quadro de uma balofa meritocracia, dos momentos de espectáculo, portanto, vive muito do superficial com reduzidas preocupações sobre aquilo que é estruturalmente essencial.

Pela centralização e padronização. Não é possível nos dias que correm a manutenção de uma "política de interruptor". No seu gabinete, o político determina e todos cumprem do Porto Santo à Ponta do Pargo. O interruptor, a avaliar pelos resultados, tem produzido uma "luz de candeeiro a petróleo. E o retorno é também verdadeiro, para isso, a burocracia, com a elaboração de muitos relatórios de acompanhamento e muito, muito controlo dissimulado. Não satisfeitos com a centralização, continuam a padronizar tudo. Não têm consciência que não existem duas escolas iguais, pois os públicos são diferentes, os grupos de professores idem e as suas dinâmicas distintas. Entretêm-se na produção de um "fatinho igual para todos", quando o desejável seria um corte por medida. Continuam a basear-se na lógica da Sociedade Industrial (fábrica) e não em um tempo que exige atenção a diversidade e ao mundo que não para de surpreender. Ter os cordelinhos na mão continua a ser o objectivo primeiro do governo.

Pela negação da regionalização e da Autonomia. A Madeira conquistou a sua Autonomia e regionalizou a Educação. Porém, não deu um passo no sentido de caminhar no sentido de um sistema próprio. Não legislou no âmbito das suas competências, porque, genericamente, a Assembleia optou por ser mais adaptativa que legislativa. Todas as iniciativas com outra visão foram sempre literalmente chumbadas. Isto, quando a Constituição da República permitia ter ambição. A Lei Fundamental nunca impediu uma organização própria do sistema, englobando os estabelecimentos de aprendizagem; não impediu que o próprio parque escolar fosse construído de acordo com uma moderna concepção de escola; nunca impediu uma organização pedagógica própria; nunca impediu estabelecimentos com menos alunos e "turmas" com menos estudantes; nunca impediu que os políticos pensassem a escola como bem público; nunca impediu, na esteira do Professor Sampaio da Nóvoa, a existência de "vistas largas, um pensamento que não se fechasse nem nas fronteiras do imediato, nem na ilusão de um futuro mais-que-perfeito" (...), nunca impediu "(...) a defesa de uma escola centrada na aprendizagem que procurasse inverter a deriva transbordante de uma escola a quem a sociedade vai, progressivamente, atribuindo todas as missões". Portanto, houve, claramente, uma negação da regionalização e da Autonomia. E tanto assim é que, hoje, desejam que seja a República a pagar o sistema, sendo certo que quem paga tem tendência a "mandar".

CONCLUSÃO

E agora, senhores governantes? É que nem há possibilidades de repartir culpas, uma vez que foram sempre os mesmos a governar. Ridiculamente, falam de projectos no âmbito da robotização, quando o estado da Região é aquele que as percentagens apontam. Na Educação como em tudo não é conveniente subir os degraus de quatro em quatro! O pior, é que tudo isto foi aplaudido nas urnas pelos que passam necessidades, por uma sociedade não da inclusão, não da transmissão de valores humanos, mas uma sociedade que a todo o momento está a ser passada pelo ferro triturador que atenta, desumanamente, contra os próprios direitos do Homem.
Ilustração: Google Imagens.

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