A edição de ontem do DIÁRIO apresentou dois artigos de opinião sobre política educativa. De quem seria expectável uma preocupação sensata e profunda, infelizmente, li o vazio, uma tentativa de "clarificação" oca que corre atrás dos erros há muito cometidos. Escreveu, apressada e descontextualizadamente sobre a taxa de abandono: "(...) O nosso registo em 2005 era de 48% (quando a escolaridade obrigatória ainda era o 9º ano), o que quer dizer que a RAM progrediu, entre este ano e 2016, 25 p.p.". Continhas à moda da casa! Por esse caminho, como por aí se ouve, no tempo de D. Afonso Henriques era bem pior. Certo, explicam os estudos, é que a Madeira evidencia uma taxa que a todos envergonha e deixa um rasto de frustração e sobretudo de grande preocupação relativamente ao futuro. Mas para o secretário da Educação, os resultados constituem: "(...) um feito assinalável, fundado no trabalho dos professores, no esforço das escolas, no empenho dos estudantes, no compromisso das famílias, no apoio das administrações (...)". Paleio. Um texto penoso, que constitui uma fuga à realidade, a negação de um quadro preocupante e que bastas vezes tem sido enquadrado.
O mais interessante é que, na mesma edição, logo por baixo, li um excelente e clarividente artigo do Dr. José Júlio a que deu o título "Iliteracia". Um texto, com uma visão nacional do problema, Madeira incluída, claro, que tocou na ferida que sangra e que o governante regional, infelizmente, à defesa, não consegue ver. Ou melhor, tem uma tendência para colocar pensos rápidos onde se exige uma intervenção profunda. Deixo aqui algumas significativas passagens: "(...) só cerca de 45% dos alfabetizados são capazes de ler um texto, observar um gráfico, perceber um aviso, um comunicado e interpretá-lo devidamente. (...) O próprio sistema de ensino está construído nessa base. As famílias não têm tempo. As escolas debitam “informação” não ensinam a aprender e, muito menos, a questionar, a duvidar, a ter opinião devidamente estruturada e fundamentada. O sistema agradece. É sempre mais fácil lidar com cidadãos dóceis, não reivindicativos, fáceis de convencer e manipular. Evitemos as controvérsias sérias. Os problemas sérios. As situações graves que campeiam por todo o lado. Sejamos bons meninos. Bons alunos. Bons cidadãos. Bons trabalhadores. A injustiça social, o compadrio, o roubo descarado, a corrupção, a injustiça, existem mas... há quem vele por nós!
(...) A escola continua a ignorar que é preciso melhorar a literacia dos agentes de ensino e dos alunos, que é urgente encontrar novos modelos educacionais, que é fundamental apoiar uma aprendizagem mais personalizada, que é crucial preparar as pessoas para aceitarem a mudança, que é imprescindível ligar as aprendizagens extracurriculares dos alunos às actividades de aprendizagem em aula, que a escola deve guiar os alunos no conhecimento do processo de aprendizagem ao invés de debitar matéria que, frequentemente, já está desactualizada no momento em que é transmitida. (...) Os hábitos de leitura, a análise factual, a dúvida metódica, a capacidade de pôr em causa tudo na procura da verdade, o pensar pela própria cabeça, a necessidade de fundamentar opiniões e certezas não se decretam, quando muito, incentivam-se.
Se não tivermos uma estratégia para combater a iliteracia aos múltiplos níveis micro e ao nível macro, de nada nos serve a acessibilidade às mais diversas plataformas comunicacionais, às toneladas de informação que nos caem em cima diariamente. Continuaremos a sofrer de iliteracia (...)".
O mais interessante é que, na mesma edição, logo por baixo, li um excelente e clarividente artigo do Dr. José Júlio a que deu o título "Iliteracia". Um texto, com uma visão nacional do problema, Madeira incluída, claro, que tocou na ferida que sangra e que o governante regional, infelizmente, à defesa, não consegue ver. Ou melhor, tem uma tendência para colocar pensos rápidos onde se exige uma intervenção profunda. Deixo aqui algumas significativas passagens: "(...) só cerca de 45% dos alfabetizados são capazes de ler um texto, observar um gráfico, perceber um aviso, um comunicado e interpretá-lo devidamente. (...) O próprio sistema de ensino está construído nessa base. As famílias não têm tempo. As escolas debitam “informação” não ensinam a aprender e, muito menos, a questionar, a duvidar, a ter opinião devidamente estruturada e fundamentada. O sistema agradece. É sempre mais fácil lidar com cidadãos dóceis, não reivindicativos, fáceis de convencer e manipular. Evitemos as controvérsias sérias. Os problemas sérios. As situações graves que campeiam por todo o lado. Sejamos bons meninos. Bons alunos. Bons cidadãos. Bons trabalhadores. A injustiça social, o compadrio, o roubo descarado, a corrupção, a injustiça, existem mas... há quem vele por nós!
(...) A escola continua a ignorar que é preciso melhorar a literacia dos agentes de ensino e dos alunos, que é urgente encontrar novos modelos educacionais, que é fundamental apoiar uma aprendizagem mais personalizada, que é crucial preparar as pessoas para aceitarem a mudança, que é imprescindível ligar as aprendizagens extracurriculares dos alunos às actividades de aprendizagem em aula, que a escola deve guiar os alunos no conhecimento do processo de aprendizagem ao invés de debitar matéria que, frequentemente, já está desactualizada no momento em que é transmitida. (...) Os hábitos de leitura, a análise factual, a dúvida metódica, a capacidade de pôr em causa tudo na procura da verdade, o pensar pela própria cabeça, a necessidade de fundamentar opiniões e certezas não se decretam, quando muito, incentivam-se.
Se não tivermos uma estratégia para combater a iliteracia aos múltiplos níveis micro e ao nível macro, de nada nos serve a acessibilidade às mais diversas plataformas comunicacionais, às toneladas de informação que nos caem em cima diariamente. Continuaremos a sofrer de iliteracia (...)".
Ora, isto significa que se impõe um outro paradigma da aprendizagem. Falta cultura à Escola. Tudo tão claro, tudo tão evidente. Por que raio teimam em seguir o caminho errado?
Ilustração: Google Imagens.
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