Nos últimos dias tenho andado a pensar sobre a posição dos professores da Escola de S. António, no Funchal, de aceitarem ou não, a anexação da Escola do Curral das Freiras. Já não falo das outras fusões, uma vez que não conheço os contextos. Sei que os sindicatos consideram que se trata de um processo muito mal gerido e ditatorial, ignorando que há comunidades para além dos "cérebros" da secretaria. Estranho a generalidade das fusões, mas não comento. A do Curral das Freiras, uma escola com resultados e reconhecimento nacional, face ao número de alunos (253), à perseguição a uma direcção legitima e recentemente eleita, aí apetece-me tecer mais algumas considerações. O assunto está escalpelizado de onde resulta uma atitude de VINGANÇA, apenas porque aquele estabelecimento de aprendizagem tenta não seguir os cânones normais, sobretudo organizacionais e pedagógicos, impostos pela hierarquia. Por outro lado, parecem-me notórios três aspectos: primeiro, por parte do secretário, a ausência de um estado emocional que permita saber gerir os processos com tranquilidade, bom senso e equilíbrio. Pressinto a existência do medo de perder a mão sobre tudo quanto depende da sua esfera de influência e a confiança de quem fez o "casting"; segundo, naquela secretaria, todos se agacharem e ninguém lhe fazer a frente necessária, alertando-o e dizendo-lhe NÃO aos erros. Há um terceiro aspecto, o chefe do governo, ao deixar o marfim correr, ou anda distraído ou ainda não percebeu que o desprestígio político está frente aos seus olhos.
Não domino as razões mais substantivas! Tenho alguns sinais que, talvez, me permitam dizer que percebo o alheamento. Desde logo tem tido um mandato muito atribulado e inconsequente. Substituiu dois secretários da Saúde; arriscou e perdeu na Inclusão e Assuntos Sociais; mandou embora o secretário dos Equipamentos e Infraestruturas; o secretário regional da Economia, Turismo e Cultura foi substituído por uma figura que ele próprio tinha dito, de forma pouco elegante, que andava a "dormir na forma", quando era presidente do Instituto do Vinho, Bordado e Artesanato; vários foram os directores regionais substituídos, enfim, de instabilidade governativa estamos conversados. Substituir mais um secretário seria complicado, embora todos os outros tenham menos "pecados políticos" que o da Educação. Por isso, para ele, presidente do governo, seja melhor manter a Educação ao ritmo de uma "morna".
A questão que agora se coloca, já não é tanto no plano político, mas no profissional. Interessante será perceber se os professores da escola de S. António aceitarão de bom grado a anexação da escola do Curral das Freiras. Se vão ou não na história de uma fusão que traz, inequivocamente, traços muito claros de vingança. Eu diria que até estão em causa questões éticas e deontológicas.
Falo por mim. Se fosse membro na direcção da escola de S. António nunca aceitaria, demitia-me se insistissem, por respeito aos colegas do Curral. Não me demitia por questões de aumento do trabalho, mas, fundamentalmente, analisado o contexto, por dever e obrigação, circunscrever-me-ia à função da docência. Porque o dinheiro, as gratificações pelos lugares que se ocupa, não podem, não devem, subverter os princípios e os valores da conduta. Immanuel Kant dividiu o significado da palavra deontologia em dois conceitos: razão prática e liberdade. Ora, exactamente por razões de ordem prática, no sentido genérico, e por liberdade de pensamento, também em sentido genérico, diria um rotundo não, inequívoco e irreversível. Portanto, aguardo, sentado na bancada outonal da vida, depois de muitas experiências vividas, pelo comportamento dos Colegas.
Há momentos na vida extremamente singulares. Um deles é a capacidade, perante determinadas situações, de saber dizer NÃO. O não, tantas vezes, em função de determinados contextos, pode exprimir assertividade e controlo sobre a nossa própria vida, ao contrário do sim que pode significar medo de decepcionar, medo do conflito, medo de perder oportunidades futuras(?), conivência com o notoriamente errado, violentando a consciência para gerar a simpatia de outros à sua própria custa. É isto que está em causa. Não mais do que isto. Daí a expectativa na verificação da autoestima dos professores da escola de S. António perante um quadro de todo muito nebuloso, que implica uma resposta serena, honesta e respeitosa para ambos os lados. Inocentemente, aguardo!
Ilustração: Google Imagens.
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