FACTO
Secretário da Educação garante que o novo ano lectivo arranca na "MAIS COMPLETA NORMALIDADE". Fonte: 1ª página do Dnotícias de 30.08.2020
COMENTÁRIO
Disco riscado |
Na mesma edição do Diário leio outros títulos: "Este é um ano dramático", a propósito da restauração (páginas 2 e 3); logo a seguir "Primeiro semestre de 2020 com tendência crescente de pensões" (páginas 4 e 5); nas duas páginas seguintes: "Novo ano lectivo começa com problemas antigos". Isto é, por razões distintas, porém relacionadas com a pandemia, todos estão aflitos menos o secretário da Educação, quando sublinha que o ano lectivo arranca na "mais completa normalidade".
Normalidade porque existem edifícios? Porque existem salas? Porque as cantinas funcionarão? Porque os professores têm os seus horários? Porque há administrativos e funcionários de acção educativa? Se tudo isto confere normalidade ao funcionamento da escola, enquanto instituição de aprendizagem, tudo bem. O problema é a gestão da pandemia! Pois, como se diz no desporto, o futebol é fácil, a bola é que atrapalha! A chatice é a pandemia e as severas limitações impostas em defesa da saúde pública. E sendo assim, NÃO EXISTE, não pode existir a "mais completa normalidade". Até, no plano político, é um grave erro assumir esse quadro, quando tudo está configurado na incerteza. Basta que surjam (oxalá que não) um caso aqui e outro ali e o pânico instala-se. Basta ter presente a primeira fase do surto epidemiológico.
Mas há um outro aspecto que considero da maior relevância voltar a equacionar: o velhíssimo e ultrapassado sistema organizacional que, tal como "a bola que atrapalha", também não facilita a dinâmica educativa neste tempo complexo, não só ao nível da saúde pública, mas também no quadro de uma resposta à sociedade que está a despontar. Este sistema, para quem estuda estes problemas, bloqueia as experiências portadoras de futuro. E esta seria uma óptima oportunidade para mudar, corrigir, desenhar e responder às novas necessidades. E nada disso foi ou está a ser concretizado.
Pior, ainda, e aqui a situação constrange-me: a Autonomia da Região da Madeira. Por que raio o sector educativo continua agarrado às determinações do Ministério da Educação? Se isto por aqui existe para cumprir ou "adaptar", então não é necessário ter uma estrutura tão pesada quanto a que a Região dispõe. Mas que fique claro que a Autonomia permite, sem ferir o quer que seja a Constituição da República, traçar o seu próprio caminho. A Constituição não impede uma nova política arquitectónica dos edifícios, não impede a organização do sistema, não impede que se avance no conceito de turma, de aula, de "ano lectivo" e não impede que tenhamos uma orientação pedagógica distintiva. Tudo isto é possível. Entretanto, do meu ponto de vista, não obsta que a Região deva lutar para, em sede de uma próxima revisão constitucional, caminhar no sentido de "um país, três sistemas educativos", sem que tal coloque em causa os desígnios nacionais.
O que, porém, constato, é a insistência em um "modelo", que não tem ponta por onde se pegue, daí que não estranhe a "MAIS COMPLETA NORMALIDADE".
Ilustração: Google Imagens.
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