O Professor Doutor Hélder Spínola foi dispensado pela Universidade da Madeira. Um caso muito estranho e que deveria o Senhor Reitor explicar a situação. Entretanto, esta "carta do leitor", publicada na edição de hoje do DN-Madeira, assinada pelo Catedrático António Brehm, é muito elucidativa. Na Região estão a acontecer casos estranhos, muito estranhos.
"Hélder Spínola,
um exemplo a seguir
Veio mencionada no DN, uma carta assinada pelo meu antigo aluno e há vários anos, colega, Hélder Spínola, queixando-se de perseguição que lhe está a ser movida na Faculdade de Ciências da Vida (FCV) da Universidade da Madeira e que ditou o seu afastamento do conjunto de professores que aqui leciona. Mágoas justíssimas. Tenho por este meu amigo e colega, a obrigação moral de vir a público fazer o seu elogio e dar-lhe a minha solidariedade. Uma universidade constrói-se através das competências do seu pessoal docente e pela qualidade do seu ensino. Não me cabe aqui falar dos outros, mas sim do Hélder Spínola que, nos últimos 15 anos, foi mão para todo o trabalho em termos de lecionação. O Hélder deu de quase tudo, e deu com um nível de exigência máxima, de que só beneficiaram os alunos que tiveram o privilégio de serem seus.
Foi meu aluno, e logo lhe vi o potencial não só para desenvolver investigação, como de transmitir o seu saber aos discentes. Doutorei-o depois em genética molecular, e desde os primeiros momentos (mesmo antes do seu doutoramento) publicou inúmeros artigos científicos (mais de uma trintena), a maioria nas melhores revistas internacionais da especialidade. O seu curriculum científico (o único que me cabe aqui julgar) é impressionante e, seja em que universidade for, nomeadamente na da Madeira, é absolutamente exemplar.
A actividade do Hélder Spínola não se resumiu à investigação, que nos últimos tempos esteve dedicada ao estudo de marcadores genéticos específicos de certas patologias existentes na população madeirense. Decorreu deste estudo a implementação de testes que o Laboratório de Genética Humana desta universidade presta aos agentes de saúde da Região. Algumas destas técnicas são feitas a pedido de laboratórios muito bem credenciados do país, sinal do reconhecimento da nossa experiência e do saber do agora “dispensado” Hélder Spínola.
A dispensa dos serviços de um docente com qualidades tão evidentes, mesmo a nível nacional, é um triste fim, mesmo para aqueles que, como eu, sempre se bateram por um ensino de qualidade, com pessoas com qualidade. E se essas pessoas forem filhas da própria “casa” tanto melhor. Resta-me dizer, no entanto, que é com mágoa que verifico que, lutando por uma implementação de um ensino superior de qualidade, se ignorem, por santas e insondáveis razões, os produtos do nosso próprio trabalho e saber. Manifestações de um povo notoriamente superior."
António Brehm, FCV, Professor Catedrático.
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