quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

QUE SOCIEDADE QUEREMOS FORMAR?


Perpectuar a organização, os conteúdos e as pedagogias do passado, significa matar a formação das crianças. A escola tal como hoje é concebida, ACABOU. Tomemos consciência disso. Este vídeo tem origem no Brasil e deveria sensibilizar governantes, pais e professores.  

 

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

FELIZ NATAL PARA TODOS


O NATAL, Caros Amigos, diz-me muito. Diz muito a qualquer ser humano, independentemente de convicções. Em primeiro lugar, é o significado que me move. A Palavra, o humanismo, o sentimento de que é possível um Mundo melhor, não creio que ingenuamente, mas esses são os desígnios que mobilizam o meu pensamento muito para além da "Festa". A escalada de atrocidades que estão a acontecer, a ausência de sentimentos, a maldade, a crueldade, a hipocrisia da condenação dos actos, de guerra e outros, ao mesmo tempo que vendem armamento, a falta de princípios e de valores solidários, a ganância e sofreguidão dos "mercados", enfim, tudo isto constitui uma clara oposição ao significado do Nascimento, da Vida e da Palavra. Repito, sejam quais forem as convicções. Por isso, o Natal não deveria ser apenas um ritual de comércio, de ofertas, de convívio e de alguma boa comida. Deveria, também, constituir o momento solene de tomada de consciência de tudo quando afecta o ser humano. A EDUCAÇÃO, por exemplo. Sem um Sistema Educativo que corresponda aos novos tempos, jamais conseguiremos romper com o círculo vicioso da pobreza. Mas, tal como certamente todos(as), também gosto do respeito pela tradição. Há rituais que nos enchem, obviamente que sim. Por isso, para TODOS(AS) os que por aqui passarem, desejo que esta quadra seja inspiradora dos nossos direitos, dos nossos deveres e do quanto podemos fazer para sermos felizes, professores, alunos, pais e governantes. Tudo isto, também depende de nós e das nossas manifestações de cidadania.
Um BOM NATAL, em Paz.
Voltaremos após o Natal.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

QUANDO SERÁ QUE O CONHECIMENTO SE CRUZA COM A VIDA?


"Precisamos de uma mudança conceptual. Precisamos de reaprender a ver, a ouvir e a PENSAR. O pensamento fragmentado (as disciplinas do currículo) afasta o ser humano da única coisa que existe que é a VIDA". Viviane Mosé -Filósofa.

 

domingo, 18 de dezembro de 2016

O QUE O SECRETÁRIO REGIONAL DA EDUCAÇÃO DEVERIA APRENDER ANTES DE GOVERNAR


Porque, cada vez mais, considero uma aberração o estabelecimento de "ranking's" de estabelecimentos de ensino, era minha intenção não lhes dedicar uma linha. Este tipo de posicionamento que tenta rotular e/ou destacar um pressuposto mérito é, do meu ponto de vista, perverso, desde logo porque assenta em pressupostos errados. Só se pode comparar o que é comparável. O sector público de educação, por exemplo, porque é Constitucional, portanto, um direito de todos, recebe nos estabelecimento de ensino, todos, sem distinção de níveis económicos, sociais e culturais, enquanto que, no sector privado, as regras de acesso têm natureza selectiva. Há colégios que submetem os candidatos a testes e a estudos no quadro psicológico e, depois, aplicam mensalidades acima dos 800,00 euros. Conheço a situação. Logo, estabelecer uma lista onde se hierarquizam, de forma fria, contextos diferentes é de uma total ausência de senso. Uma escola (Madeira) com mais de 90% de Acção Social Educativa não pode ser comparada com um colégio pago a peso de ouro! Os seus resultados são um "milagre". A não ser que os defensores dos "ranking's" pretendam reforçar a peregrina ideia que o privado é melhor que o público. Talvez. O governo regional da Madeira atribui, grosso modo, 25 milhões de euros anuais ao privado. Ora, retomando, os "ranking's" são uma falácia. Os resultados dependem de muitos factores. Um exemplo: um colégio privado do Funchal foi 3º do "ranking" nacional do Básico (2009), tendo sido 1º na Matemática. Em 2016 posicionou-se em 53º lugar. Isto diz bem do que são os "ranking's". Ainda bem, ao contrário do secretário regional da Educação da Madeira, que o governo da República se posicionou de forma bem distintiva. Um bom prenúncio para as necessárias mudanças. 


Comecei por salientar que não era minha intenção escrever sobre este assunto. Constitui uma matéria repetitiva e profundamente analisada. Porém, o secretário regional da Educação veio logo comunicar que "(...) considerando os resultados esperados, os quais ponderam os contextos e o número de provas realizadas, as médias da maioria das escolas básicas e secundárias da Região são positivas (...)". Face a esta declaração, e só por isso, decidi escrever algumas linhas. Desde logo, a partir de duas perguntas: que resultados o governo regional esperava? Segunda: terá o secretário analisado os resultados, comparando-os ao longo dos anos?
Circunscrevo-me às características do actual sistema educativo que, saliento, repudio. Esperava resultados positivos? É isso? Vejamos o secundário, considerado importante para o acesso ao ensino superior. Em 627 escolas, a primeira da MADEIRA AUTÓNOMA aparece, na posição geral, em 280º lugar. As restantes, 313ª, 349º, 373º, 377º, 407º, 491º (...) a última em 610º em 627 estabelecimentos de ensino. Pelas médias, o secretário, que não esconde a defesa do actual sistema educativo, pelo menos não o condena, nove escolas obtiveram uma média inferior a 10 (entre 9,74 e 8,43) e seis entre 10,72 e 10,17. São estes os resultados positivos de que fala o secretário regional da Educação!
No ensino básico:
001 - 300 - 4 escolas: 53º, 63, 87, 110, 207, 267.
301 - 600 - 4 escolas: 365º, 468, 490, 525, 578.
601 - 900 - 8 escolas: 683º, 698, 762, 767, 787, 792, 831, 847.
901 - 1228 - 12 escolas: entre 946º e 1170. 
Onze escolas (avaliação de 0 a 100%) obtiveram mais de 50% (71,08% e 51,36); da décima segunda até à última escola (31ª) a variação foi entre 49,69% e 39,43%. São estes os resultados "positivos" do sistema defendido pelo governante.
Finalmente, defender o "ranking" das escolas é assumir que existem boas e más escolas e esquecer três aspectos, entre muitos outros: primeiro, o estado da sociedade a diversos níveis; segundo, que a generalidade dos professores, no actual quadro do sistema, imposto, burocrático e bloqueado, desempenha de forma muito meritória a sua função; terceiro, a pobre política de investimento. Mais sensato teria sido, à luz da História, que o secretário colocasse em causa todo o sistema, onde paira um deserto de ideias, assumir que este tipo de ensino, que repete o passado, está completamente errado, que os "ranking's" não espelham nada (hoje assumo que nem constituem um indicador) e que há necessidade de introduzir, paulatinamente, mudanças significativas, deixando de lado, por mais que isso custe a quem faz da vida uma rotina, estes resultados que ignoram, completamente, o que de bom ainda por aí se faz.
NOTA
Intencionalmente, omiti o nome dos estabelecimentos de ensino, apesar de estarem disponíveis na NET e na comunicação social, porque considero INDIGNO rotular escolas, mesmo que essa não seja a intenção. Em segundo lugar, peço desculpa por algum erro na seriação dos estabelecimentos de ensino, apesar do cuidado que tive. Globalmente, é esta a "fotografia" do sistema!
Ilustração: Google Imagens.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

A EDUCAÇÃO PROIBIDA


São duas horas e vinte e cinco minutos de vídeo. Segui-lo, tal como fiz, no silêncio de um quarto, mergulhando nas palavras e nos conceitos, parando e reflectindo, valeram-me mais que centenas de horas de "formação" a que assisti ao longo da minha carreira. Que de nada valeram, a não ser para juntar "créditos" visando a progressão na carreira. Guardei este vídeo e procurei o melhor momento para divulgá-lo. Ele passa em revista todo o mundo pretensamente educativo, criado pelos adultos, quebra as rotinas e ajuda a ser professor. Julgo que importante seria que todos os que têm responsabilidades políticas na condução da Educação, educadores, professores de todos os graus e direcções executivas, obrigatoriamente, vissem este vídeo e discutissem os conteúdos. Seria a melhor forma de caminhar no sentido de uma escola que corresponda aos interesses e desenvolvimento de cada criança ou jovem. Daí eu reclame: esqueçam o que aprenderam e naveguem neste tempo novo.

 

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

AINDA SOBRE PISA, A SOCIEDADE E O SISTEMA EDUCATIVO PORTUGUÊS

Li um artigo de opinião da Doutora Isabel Torres, ex-docente universitária e hoje Vice-Presidente da Assembleia Legislativa da Madeira. O título: "E agora Ministro Tiago Brandão"? Texto a propósito dos resultados PISA (Programme for International Student Assessment) 2015, da OCDE. Obviamente que é importante que existam posições completamente divergentes (aqui), quer as que se fundamentam na compaginação de todas as variáveis, quer as de pendor claramente partidário. No plano pessoal e democrático aceito-as todas e retiro, apenas, as minhas conclusões. Neste artigo, de elogio às políticas do ex-ministro Nuno Crato, que não acompanho, retirei duas ideias: "(...) O Mário Nogueira e a Catarina Martins, que não defendem a exigência, mas antes, a felicidade dos professores e das crianças, ainda estarão por certo, a neutralizar a hiperacidez que este facto notável lhes causou" (...) "E agora Sr. Ministro Tiago Brandão, como explica a sua política desastrosa em substituir o que estava bem, os resultados do PISA comprovam-no, por aquilo que não trará nada de bom e de positivo para o ensino e a aprendizagem das nossas crianças?"


Aprendi, com o decorrer dos anos, e transmiti isso aos meus alunos, inclusive na Universidade, duas sínteses que observei dos Mestres com quem muito aprendi e privei: primeiro, só é legítima uma opinião séria e fundamentada quando se faz, também, um esforço sério e fundamentado de estudo das variáveis de um determinado tema; segundo, complementarmente, à partida, todos têm razão, desde que a justifiquem de forma consistente e inequívoca a sua análise. É basilar. Daí que, no que concerne aos resultados PISA, há muito que faço esse esforço de estudo, através do cruzamento de muitas análises, desde investigadores a autores, expurgando das minhas conclusões qualquer posicionamento ideológico e partidário. Ainda anteontem aqui publiquei declarações de Pablo Gentili, Doutor em Educação na Universidade de Buenos Aires e secretário executivo do "Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales (CLACSO)". São dele, entre outras, estas palavras: "La OCDE parte de un principio equivocado, de que hay una forma de pensar el desarrollo y el mundo (...) Las pruebas PISA son el concurso de belleza da la pedagogia". Curiosamente, no dia anterior, tinha eu escrito aqui: "(...) Há, por um lado, diversas realidades históricas, económicas, sociais e culturais, que não permitem, com rigor, comparar o que é incomparável, e, por outro, sabe-se que não é seguro o carácter aleatório de escolha dos alunos que se submetem aos testes. Factos que distorcem e colocam em causa o resultado final. Bastam estes dois aspectos para que se fique de pé atrás na análise dos resultados. Parece-me muito mais importante conhecer a estrutura dos diversos sistemas educativos, se eles estão ou não adequados ao tempo que vivemos, à própria investigação, se transportam ou não um princípio hierárquico contrário à verdadeira autonomia dos estabelecimentos de ensino, o grau de formação dos docentes e a sua disponibilidade para aceitar novos paradigmas pedagógicos, mais ainda, qual a relação entre o sistema educativo (a jusante) e as preocupações de natureza social (a montante). São estes aspectos que determinam se os sistemas são ou não portadores de futuro (...)".
Ora bem, ao contrário do que li e acima reproduzi (Isabel Torres), sublinho agora que se defende a exigência através da felicidade das crianças e dos professores. Crianças infelizes, e este conceito de felicidade envolve múltiplos aspectos económicos, sociais e culturais, não podem demonstrar interesse pela aprendizagem. Da mesma forma que professores sujeitos a uma enervante rotina e a processos que só quem os vive dispõe de uma leitura correcta, acabam por desempenhar menos bem o seu mister. É, por isso, que, por um lado, as taxas de repetência e de abandono são altíssimas e, por outro, um terço dos professores encontra-se em esgotamento físico e mental (Síndrome de Burnout).
Depois, há um outro aspecto que merece reflexão. Enganam-se os que pensam que estes testes PISA, entre outros, não escondem outras subtis, mas profundas intenções. Obviamente que não são inocentes. Tal como não foi o "Processo Bolonha", essa tendencial uniformização da formação (conducente ao pensamento único), do qual resultou, entre outras, a desresponsabilização do Estado pelo 2º ciclo de estudos. Parece-me claro que Bolonha escondeu outras intenções. Há "Mestrados" que custam os olhos da cara! De igual forma, estes "ranking's" de países (PISA), repito, passando ao lado das realidades históricas, económicas, sociais e culturais, trazem no seu bojo uma intenção subliminar conducente à visão do Mundo que a teia deseja operacionalizar. OCDE é uma sigla que significa "Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Económico". Certo? Portanto, não sejamos inocentes e não façamos de um qualquer "ranking" a radiografia do País para esgrimir, partidariamente, posicionamentos que, tarde ou cedo, rebentam nas próprias mãos. Um País com 30% de repetências, com 30% de pobres, com sérias dificuldades na empregabilidade, com baixos salários, com altíssimas necessidades de Acção Social Educativa, do básico ao universitário, com lacunas graves na mentalidade e usufruto dos bens culturais, é lógico que não pode ser um País cujas crianças, globalmente, sejam felizes e com apetência pelo conhecimento. Mais. Um País com uma estrutura do Sistema Educativo assente no Século XIX não pode ter aspirações ao desempenho de países que ultrapassaram o analfabetismo há mais de um século e cujas economias nada têm a ver com a situação portuguesa. É comparar o incomparável. Esqueçamos os "ranking's ou olhemos para eles de forma distante e preocupemo-nos, sim, com as estruturas em que assenta o sistema educativo nacional. Porque mais escola e mais horas de Português e de Matemática, não significam melhor escola e melhor futuro. PISA, por tudo isto, não "comprova" nada. E para que fique claro, sou pelo rigor e pela exigência, só que através de um paradigma organizacional, programático e pedagógico completamente diferente de tudo quanto enformaram os Séculos XIX e XX.
Ilustração: Google Imagens.

sábado, 10 de dezembro de 2016

"LAS PRUEBAS PISA SON EL CONCURSO DE BELLEZA DE LA PEDAGOGIA"


El resultado de las pruebas PISA (Programa Internacional para la Evaluación de Estudiantes) se refleja en un ranking de quién hizo "mejor" y "peor" las cosas, como un concurso de belleza de la pedagogía, dijo a Sputnik el secretario ejecutivo del Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales (CLACSO), Pablo Gentili. "El PISA construye un mecanismo artificial, lo impone y nadie lo cuestiona, y luego compara, porque en realidad es un complejo mecanismo de evaluación, pero al final hace un ranking, es como un concurso de belleza de la pedagogía para ver quién salió primero y quién salió último", dijo Gentili. 


El 6 de diciembre se difundieron los últimos resultados de las pruebas PISA, un sistema estandarizado para evaluar los conocimientos de estudiantes de 15 años aplicado por la OCDE (Organización para la Cooperación y el Desarrollo Económico) y se reactualizaron las polémicas. Entre los 72 países participantes se encuentran nueve latinoamericanos: Brasil, Chile, Costa Rica, Colombia, República Dominicana, México, Perú, Uruguay y Puerto Rico. Varios investigadores llevan años cuestionando los procedimientos y varios de los fundamentos que dieron origen a estas pruebas.

"La OCDE parte de un principio equivocado, de que hay una forma de pensar el desarrollo y el mundo, que es universal, de Shanghái hasta República Dominicana, todos los jóvenes con 15 años tienen que saber un conjunto de cosas que son fundamentales para sobrevivir y progresar en la vida", arguyó Gentili. 

El fundamento se basa en lo que piensan "un conjunto de burócratas" de una organización dedicada a la economía mundial "de los países más poderosos del mundo" y que se impuso como la visión dominante "a partir de la cual es posible pensar y presentar los objetivos de la educación", criticó Gentili, profesor de la Universidad del Estado de Rio de Janeiro.

Lea más: Argentina, descalificada de la prueba educativa PISA por errores técnicos 

"Esto no es nada menos que una evaluación de los sistemas educativos nacionales a la luz de estos principios y estas competencias que nunca se ponen en duda y que establece un horizonte, un modelo educativo colonial, dominante y para nada universal ni científico", añadió el especialista en ciencias de la educación. Para Gentili, a pesar de que las pruebas PISA son "un verdadero desastre", se imponen por la fuerza que ejerce la organización poderosa que las realiza en los medios de comunicación.

"A muchos medios les resulta fantástico porque simplifica algo que es muy complejo presentando un ranking, (lo cual) es patético", criticó. 

Calidad de la educación 

Hablar de educación en la región requiere tener en cuenta que los países tienen experiencias educativas diferentes, según Gentili. En Argentina o Brasil "el problema de la igualdad es central, porque vivimos en la región más desigual del planeta", afirmó.
"Calidad es inversión en América Latina, inversión pública, trabajo decente de los docentes; en cada región hay una lógica para pensar la calidad y no creo que PISA refleje esto para nada", añadió el politólogo. Gentili expresó asimismo preocupación por el desprestigio al que es sometida la escuela pública por gobiernos conservadores de América Latina. "Cada vez que tienen que exponer algo que funciona mal en nuestros países lo explican atribuyéndoselo a la educación y a los docentes (lo cual) ha alejado a muchísima gente de la escuela pública", señaló. En el caso de Chile, que presenta el mejor desarrollo educativo de América Latina en las pruebas PISA, se trata de un "excelente promedio" resultado de una "profunda desigualdad, hay escuelas de élite que tienen muy buenos resultados, pero hay un montón que tienen pésimos resultados", observó.
En la evaluación divulgada el martes participaron alrededor de 540.000 estudiantes de 15 años de 72 países. La prueba de dos horas de duración evalúa los conocimientos y habilidades en ciencia, matemáticas, lectura, solución colaborativa de problemas y alfabetización financiera. 

sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

A MADEIRA PODERIA ESTAR NO TOPO E COMO REFERÊNCIA INTERNACIONAL


Por razões que aqui já enunciei, os estudos PISA (programme for international student assessment), entre outros estudos congéneres, devem servir de meros indicadores e nunca de um resultado absoluto sobre a realidade de um país ou região no que concerne aos sistemas educativos. Há, por um lado, diversas realidades históricas, económicas, sociais e culturais, o que não permite, com rigor, comparar o que é incomparável, e, por outro, sabe-se que não é seguro o carácter aleatório de escolha dos alunos que se submetem aos testes. Factos que colocam em causa o resultado final. Bastam estes dois aspectos para que se fique de pé atrás na análise dos resultados. Parece-me muito mais importante conhecer a estrutura dos diversos sistemas educativos, se eles estão ou não adequados ao tempo que vivemos, à própria investigação, se transportam ou não um princípio hierárquico contrário à verdadeira autonomia dos estabelecimentos de ensino, o grau de formação dos docentes e a sua disponibilidade para aceitar novos paradigmas pedagógicos, mais ainda, qual a relação entre o sistema educativo (a jusante) e as preocupações de natureza social (a montante). São estes aspectos que determinam se os sistemas são ou não portadores de futuro.


Há dias, assisti a tanto contentamento regional, com tirinhos a fazerem ricochete, pelos resultados de um estudo da OCDE sobre as "Tendências Internacionais no Estudo da Matemática e das Ciências (TIMSS)" no primeiro ciclo. No essencial, o governo esforçou-se por transmitir a ideia que a Madeira estava no caminho certo. Todos quantos se opõem estão errados. Sugeri que guardassem as declarações feitas para memória futura. Não foram necessários muitos dias e novo estudo foi dado à estampa: o PISA 2015. Em 25 regiões portuguesas (NUT3 - Nomenclatura das Unidades Territoriais para Fins Estatísticos) a Madeira encontra-se:
  • 19º lugar em Ciências.
  • 20º lugar em Leitura
  • 15º lugar em Matemática
Em todas as situações abaixo da média, apesar do grande investimento no número de horas (lectivas e de apoio) destinadas à Língua Portuguesa e Matemática, em detrimento de uma formação mais global. Obviamente que não me alegra este quadro que nos remete para uma zona cinzenta da tabela. Trata-se, apenas, de um indicador. Fico triste, isso sim, por assistir à repetição dos modelos curricular, programático, pedagógico e organizacional de escola, assente no pressuposto que se não aprendes a bem, aprendes a mal, isto é, com maior carga horária. É aqui que o processo, do meu ponto de vista, segue um caminho contrário à natureza da evolução. Estou convicto, na esteira de tantos observadores, que através de um outro paradigma, o sistema educativo da Madeira poderia estar no topo e como referência internacional. Muito acima da média europeia por países. Aliás, globalmente, todo o sistema contempla quarenta e poucos mil estudantes, entre os sectores público e privado. Uma ninharia comparada com outros espaços territoriais. Com órgãos de governo próprio, uma proximidade entre os extremos da ilha (57x22 km) e estando o Porto Santo ali tão perto, se a preocupação entre os factores de crescimento e os do desenvolvimento tivessem uma natureza equilibrada, julgo ser óbvio que outros poderiam ser os resultados.
Acresce, ainda, o facto da Região da Madeira continuar a apresentar altíssimas taxas de abandono escolar. A Madeira confronta-se com cerca de 23,6% quando no Continente, a taxa ronda os 12,9%. Um em cada quatro jovens madeirenses, entre os 18 e os 24 anos, abandonou, em 2015, a sua formação. Um facto preocupante e merecedor de reflexão. Finalmente, enalteço, apesar de ser um indicador, estes resultados não me alegram. Bem pelo contrário.
Ilustração: Google Imagens.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

UMA ESCOLA PARA TOLOS


Os professores "infelizmente, como humanos que são, também erram: do seio da escola por vezes saem maus políticos e, logo, más políticas. Mas não é por isso que se deixam abater, já que exercem uma profissão que exige a reflexão permanente, a busca de consensos, e a capacidade de ser persistente, sem teimosia".


O teimoso prosseguimento da implementação das actuais medidas de política educativa anuncia uma clara mudança de paradigma: a transição do modelo sixtie da “escola para todos”, para o modelo pós-modernista da “escola para tolos”. A grande reforma educativa sorvida dos quentes e vibrantes anos do final da década de sessenta, consubstanciada nas filosofias do Maio de 68, apontava para uma escola aberta, universal, inclusiva, interclassista, meritocrática, solidária, promotora da cidadania e, até, niveladora, no sentido que deveria esbater as desigualdades sociais detectadas à entrada do percurso escolar.
Os professores passavam a ser mediadores da aprendizagem, promotores da socialização e do trabalho partilhado. Os alunos metamorfoseavam-se em aprendentes activos, participativos, concretizadores, co-líderes da sala de aula e do rumo a dar às planificações. Os pais, descolarizados ou iletrados, por vergonhosa opção de quatro décadas de ditadura, entregavam os seus filhos naqueles centros de promoção do sucesso social. Era a escola aberta à comunidade, uma escola moderna, que se impunha à escola tradicional. Era, enfim, a escola para todos.
Com o decorrer dos anos, os governantes, lá no alto do seu douto saber, entenderam que, já agora, os professores e a escola poderiam também cumprir uma imensidão de funções até então cometidas ao Estado, às famílias e à sociedade. Mesmo que não tivessem tido preparação para isso, os professores tinham demonstrado que sabiam desenvencilhar-se e, sobretudo, que não sabiam dizer não.
E desde então, essas passaram também a ser tarefas e funções da escola e dos seus docentes. A partir desse momento, passámos a ter uma escola que, por acaso, também era um local de aprendizagem formal, mas que, sobretudo, se foi desenvolvendo como um espaço de aprendizagens sociais, informais, socializadoras. E, por essa via, se baralha e se estigmatiza uma escola que, altruisticamente, queria ser para todos, numa escola que poderia ser para tudo. Era a escola para tudo.
Mais recentemente (reportando-nos ao baronato de Maria de Lurdes Rodrigues e ao principado de Isabel Alçada), entendeu-se que a escola gastava muito e os professores, numa mandrionisse secular, faziam pouco. Logo, quem sabe? até poderiam ser substituídos uns pelos outros, à molhada, degradantemente. Ou até secundarizados por skinnerianas máquinas de ensinar, que apressadamente se viram baptizadas de Magalhães, porque os governantes portugueses gostam que a história, tal como as telenovelas, se repita.
Aos professores, era exigido que reincarnassem de novo: uns em avaliadores, outros em avaliados; uns em directores, outros em assessores, outros em assessorados; uns em titulares, outros em titulados. E desta vez, a culpa não iria morrer solteira. Era preciso desviar as atenções: o resvalar da escola não se podia correlacionar com o acumular dos insucessos de continuadas e desastrosas políticas educativas. Com o derrapar da instituição escolar, a responsabilidade tinha que ser apenas atribuída a um dos actores: aos docentes, claro… e, logo, à sua falência profissional. Acreditam? Pois… é a escola para tolos.
O que eles não sabem nem sonham é que os professores têm dentro de si a força regeneradora do saber, da cultura e da utopia social. Modelando sabiamente os seus alunos, são os construtores de futuros. Dentro e fora da escola querem partilhar a discussão do amanhã, porque aprenderam que ter, é ceder e partilhar.
Infelizmente, como humanos que são, também erram: do seio da escola por vezes saem maus políticos e, logo, más políticas. Mas não é por isso que se deixam abater, já que exercem uma profissão que exige a reflexão permanente, a busca de consensos, e a capacidade de ser persistente, sem teimosia.
Hoje, e talvez por estarmos à beira de uma pressentida reedição do Maio de 68, com os jovens na rua a contestarem as políticas e os políticos que se enredaram em rotinas de salamaleques e na narcísica gestão das suas imagens e carreiras, fazemos nossas as palavras dos Deolinda: “ E fico a pensar/ que mundo tão parvo/ onde para ser escravo/é preciso estudar”.

NOTA
Artigo de João Ruivo, publicado na Página da Educação.

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

O SISTEMA EDUCATIVO PORTUGUÊS TEM DE MUDAR DE ALTO A BAIXO - JORNAL PÚBLICO DE 28.01.2002


Texto do Jornal: "Tudo tem de mudar no sistema educativo português e os próximos 20 anos são a grande oportunidade de recuperar 20 décadas de atraso educativo, conclui um estudo exaustivo sobre a educação em Portugal, intitulado "O Futuro da Educação em Portugal, Tendências e Oportunidades - Um Estudo de Reflexão Prospectiva".


O que mudou? Nada. O pensamento político e a estrutura mantém-se exactamente igual. As rotinas são as de ontem, talvez com um pouco de mais burocracia, muita da qual apenas passou do papel para o computador. A sala, a aula, o teste, a avaliação, a retenção ou a progressão de ano, mantém a característica de um sistema qual vaca sagrada! Tudo igual, apenas com umas pinceladas aqui e ali, uns projectos bem intencionados, não digo que não, mas aquilo que é fundamental permanece no ramerrame. 
Tudo igual, não é bem assim. Em alguns aspectos piorou. Hoje temos um sistema educativo onde as crianças estão ao serviço dos adultos e não os adultos ao serviço das crianças. Paulatinamente, roubaram-lhes o tempo para ser criança, fecharam-nas em espaços de tempo inteiro, escolarizando e "curricularizando" o que deveria ser do domínio do lazer e do jogo enquanto mola impulsionadora do crescimento, impondo desde muito cedo uma excessiva ocupação do tempo e uma nociva competição como se a educação fosse uma corrida. A revista "Science", tem já algum tempo, titulou um interessante trabalho: "A Educação não é uma corrida". Neste arrastão, perpetrado por adultos, levam os pais à frente, eles que acabam por contribuir para o agravamento dos factores de stress. Pelo que vou lendo, e não é pouco, os adultos não sabem o que estão a fazer. Congratulam-se com um ou outro resultado circunstancial, repito, circunstancial e aconselho, para memória futura, a guardarem os últimos resultados das "Tendências Internacionais no Estudo da Matemática e das Ciências (TIMSS)" para comparação nos próximos anos.
O Ensino Básico é de uma importância vital na construção dos saberes. Fazer PENSAR, questionar tudo, procurar respostas, participar activamente, descobrir os porquês, suplanta tanto programa repetitivo que inferniza e pouco acrescenta ao verdadeiro interesse pelo CONHECIMENTO. Guardo uma frase do Professor Alexandre Quintanilha, de 72 anos, que em uma entrevista à Página da Educação, sublinhou: "Eu vivo porque sou curioso". É isto que interessa. Desenvolver a curiosidade de tal forma que aos setenta anos, porque está na matriz, a curiosidade seja uma palavra-chave. Este sistema, pergunto, desenvolve o pensamento e a curiosidade? Não. De todo, NÃO. Antes, mata a curiosidade.
Ilustração: Google Imagens.

NOTA

Foram publicados os resultados PISA 2015 (estudo internacional da OCDE que visa avaliar a literacia em Ciências, Leitura e Matemática dos jovens de 15 anos). Portugal fixou-se, globalmente, um pouco acima da média. De notar, porém, que cerca de 30% dos alunos têm uma história de repetências até aos 15 anos e que este tipo de avaliação entre países merece muitas reservas, entre outras, pelas substanciais diferenças económicas e sociais e porque não é certo que quem se subordina aos testes seja escolhido de forma exemplarmente aleatória. Seja como for, penso que não devem ser confundidos os resultados com a estrutura do sistema educativo. No mínimo, porque a dúvida permanecerá: se outra fosse a estrutura global do sistema, mais adequada às necessidades e  ao tempo que vivemos, tais resultados não poderiam ser melhores? 

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

PALAVRA-CHAVE: DESCONSTRUÇÃO. UM TESTEMUNHO DA PROFESSORA IVONE NIZA.


O Sistema Educativo precisa de ser objecto de MUDANÇA. A todos os níveis, desde logo, também, na formação dos professores. Porque mais importante que as "soluções" didácticas, é o professor transformar-se em um saudável agitador da descoberta. Repetir o manual é repetir o passado. É permanecer no erro.

 

domingo, 4 de dezembro de 2016

O AMANHÃ PODE SER HOJE


"Metáfora preciosa, o texto de Harold Benjamin obriga-nos a relançar a reflexão sobre os obstáculos que se deparam e a que estão sujeitos todos aqueles que tentem enveredar pelos caminhos da inovação e da renovação, que outros não são, aliás, os que todos deveríamos tentar percorrer no decurso da nossa vida profissional.

Harold Benjamin

Num curioso texto escrito em 1939, e dado à estampa por Harold Benjamin no já ido ano de 1977, relata-se a história de uma tribo pré-histórica que decidiu introduzir a educação sistemática para as suas crianças. O currículo fora elaborado especificamente para ir ao encontro de necessidades particulares de sobrevivência no meio local e, por isso, incluía matérias como “Afugentar o Tigre de Dentes de Sabre com o Fogo”.
Porém, o clima da região mudou e os tigres de dentes de sabre morreram. Em sua substituição surgiram “Grandes Ursos Ferozes” que não tinham medo do fogo e não se deixavam caçar ou afugentar com a velha técnica aprendida na escola: a técnica de “Afugentar o Tigre de Dentes de Sabre com o Fogo”.
A comunidade estava agora numa situação muito difícil. Não havia carne para a alimentação nem qualquer segurança contra a morte que se passeava pelos caminhos de dia e de noite. Tinham de fazer, imediatamente, uma adaptação a esta preocupante situação se não quisessem caminhar para a sua própria extinção. Felizmente na tribo ainda havia homens de cepa...
A partir daí, um deles, com o estômago colado às costas, quedou-se pensativamente junto ao fogo no intuito de inventar novas destrezas que pudessem ser divulgadas a partir da escola.
Todavia, sem perceber muito bem porquê, as tentativas de mudar o currículo, por parte desse membro mais “esclarecido” da tribo, por forma a adaptá-lo às novas necessidades de sobrevivência, encontravam firme resistência por parte do conselho dos mais velhos e, supostamente, mais sábios, que defendiam a “intemporalidade da educação e dos conteúdos curriculares” ministrados pela escola.
E por mais que esse membro inovador da tribo, enquanto os outros se atafulhavam de comida e dormiam, ganhasse o hábito de se levantar mais cedo e de pensar junto do fogo, de pouco lhe valia esse esforço que o levava a tentar mudar as mentalidades e o currículo, para que a tribo voltasse aos bons e velhos tempos da abundância.
Mesmo assim, pouco a pouco, foi elaborando um novo currículo, adaptado às novas circunstâncias. Só que, a partir desse instante, a partir da descoberta desse progresso, a partir do momento em que iniciou a sua divulgação tornou-se, face aos olhos dos mais conservadores... num homem muito perigoso!
Metáfora preciosa, o texto de Harold Benjamin obriga-nos a relançar a reflexão sobre os obstáculos que se deparam e a que estão sujeitos todos aqueles que tentem enveredar pelos caminhos da inovação e da renovação, que outros não são, aliás, os que todos deveríamos tentar percorrer no decurso da nossa vida profissional.
E, ao salientar o papel das “minorias” na renovação dos processos e dos procedimentos educativos, e o modo como as “maiorias” suspeitam das suas propostas e inibem as suas práticas é, em nosso entender, um modo relevante de relançar o debate sobre o eterno renascer do novo e a necessidade da permanente adaptação e da mudança".
NOTA
Um texto de João Ruivo publicado no sítio da internet educare.pt (aqui)

sábado, 3 de dezembro de 2016

QUANDO UM ALUNO DESABAFA: "SOMOS ENGOLIDORES DE MATÉRIA"

Os anos passam a uma velocidade estonteante. Quando damos por nós, zás, menos um na esperança média de vida. Só que, a par disso, cresce em nós, a experiência acumulada, por tudo aquilo que, através de Mestres e de revisões bibliográficas, nos transmitiram e que nos fizeram amadurecer, burilar em uma amálgama de temas marinando ao longo dos anos. Por isso mesmo, ficamos cada vez mais distantes da politiquice barata, para consumo mediático. Tenho um velho, distinto e culto Amigo, que do alto dos seus 91 anos, diz-me com frequência, que quando fala com certas pessoas do seu tempo e sobre certos assuntos, "tem de se esquecer do que sabe", para não ser inconveniente. As experiências de vida concedem-nos isso, esse bem-estar com a consciência que não se alimenta da ignorância altifalante. Quando não se sabe, o melhor é o silêncio e daí partir para o estudo, a fim de perceber e descobrir outras realidades. Simplesmente porque a verdade é múltipla.


No Sistema Educativo, tal como em todos os outros, sinto que existe pouca humildade, défice de participação e sentido de aprendizagem com os outros. A nossa cultura, infelizmente, ao nível do governante, fá-lo disparar contra quem analisa de forma distinta. Na incapacidade do argumento com substância, por norma, o poder cataloga-o de forma imbecil: é comunista, socialista, eu sei lá, um quadro para o qual não há paciência de aturar. Eu, pelo menos, não tenho. O período que atravessamos, talvez mais do que em outros tempos, precisa de reflexão, de serenidade, de saudável utopia, de um sentido prospectivo que abra horizontes de esperança e anule o princípio de que "se sempre foi assim, por que raio havemos de fazer de forma diferente". John Stuart Mill (1859), Filósofo e Economista britânico escreveu: "(...) a recusa em escutar uma opinião porque se tem a certeza que é falsa, é supor que a sua certeza é absoluta". Lembro-me de ter destacado esta frase na primeira página do meu relatório de estágio pedagógico em 1971. Não tinham alguns governantes nascido. Frase que não foi colocada por acaso, porque ficava bem, antes antecipava, da minha parte, um contraponto àquilo que constituía a norma do sistema. Sempre nutri, porque tive notáveis professores que souberam tocar nas minhas fragilidades intelectuais, essa preocupação de tentar ver os problemas não pela aparência, mas pelas suas causas. Julgo que ao sistema educativo falta isso, repito, a humildade para cruzar informação, de onde resulte uma postura de aprendizagem na arte de bem governar.
Quando o poder tende para o aproveitamento circunstancial de um dado resultado, como se a árvore pudesse esconder a floresta do desencanto, quando a história nos alerta para a inconsistência dos resultados, parece-me óbvio que não se lhe pode augurar bom futuro. Só que a ânsia pelo mediático e a ausência de memória tem suplantado e suplanta o bom senso e a definição de um caminho sem buracos. Nem a propósito, hoje, nas "cartas do leitor" do DN-Madeira li um texto subordinado ao título "Desabafo de um aluno", assinado por MW que, a espaços, alerta o(s) governante(s) para a configuração de um sistema educativo que soçobra:

"Cansei, cansei que esperem de mim números, cansei que esperem que seja igual aos socialmente vistos como mais bem pagos, cansei de entrar numa sala e ouvir que não valho nada, cansei de ser obrigado a colocar toda a minha energia em algo que realmente não me interessa... E aí? (tudo o que é adulto “bem sucedido ou não” vai dizer: pois, esta geração de hoje em dia não se interessa por nada, não tem objectivos). Esta geração tem objectivos e, provavelmente, objectivos muito maiores que os vossos! E por os ter é que é capaz de reconhecer que o vosso mecanismo de ensino não os satisfaz. É demasiado “rasco”! Porque nós não nos contentamos em saber simplesmente sobre um assunto. Somos seres com sede constante de novidade, seres que procuram a mudança. (...) Porque é isso que somos, somos engolidores de matéria. (...) Agora, pergunto, onde está todo esse poder com que nos julgam e nos privam de sermos quem sonhamos ser, quando a criatividade é precisa? Quando a capacidade de resolução de problemas é essencial?! (...) Que se levantem e digam basta! (...) A educação está na base de tudo isto... Por isso parem de julgar os comportamentos desta geração e comecem a avaliar o vosso “sistema” (...)" (aqui)

Não foi um desabafo de um encarregado de educação, de um professor no activo e cansado, de um considerado investigador, de um autor de mérito reconhecido, de um político, de um aposentado, mas de um aluno. À voz da base, que o governante, responsável pelo sistema, responda... com as estatísticas do pseudo "sucesso".
Ilustração: Google Imagens.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

EXCEPCIONALMENTE, A RESPOSTA!


O secretário regional da Educação, segundo um trabalho do Jornalista Francisco José Cardoso, a propósito dos resultados no quadro das "Tendências Internacionais no Estudo da Matemática e das Ciências (TIMSS), lembrou que "o principal crítico da política educativa e mentor do PS-M em matéria de Educação, simultaneamente, presidente da Assembleia Geral do Sindicato de Professores da Madeira (André Escórcio) defende, sistematicamente as "maravilhas" do sistema finlandês, talvez seja oportuno perguntar-lhe, porque razão os "burros" madeirenses, conduzidos por "incompetentes" em matérias de política educativa, conseguem estar à frente de tais maravilhas (...)" (DN-Madeira, edição de hoje). Achei interessante a referência, já explico porquê, embora não seja mentor político do PS ou de qualquer outro partido, não tenha qualquer actividade político-partidária, muito menos no Sindicato de Professores da Madeira. Apenas escrevo produzindo e cruzando, humildemente, sínteses do pensamento de tantos investigadores e autores onde se incluem, naturalmente, entre muitos outros, professores, filósofos, psicólogos, sociólogos, médicos e economistas. 


Dou de barato aquele tipo de "medições", como o dou relativamente à aferição PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes). Há, de resto, muita produção literária sobre o formato, as diferenças sociais e sobre a escolha dos alunos submetidos a essas avaliações. É a escolha, que deveria ser rigorosamente aleatória, que está em causa. Li, há dias, um texto, com o título: "No PISA nós confiamos - mas será que devíamos?" Neste pressuposto, sobre os resultados dos estudantes madeirenses (TIMSS), embora eu não seja adepto de "ranking's, por múltiplas razões, não deixa de causar alguma perplexidade quando os ditos colocam os estabelecimentos de ensino da Madeira em posições muitíssimo modestas e, qual passe de mágica, em um ápice, a Madeira "aparece" no topo da satisfação da política educativa regional. Isto leva-me a repetir a pergunta: será que devíamos acreditar?
Independentemente deste aspecto, não são os resultados pontuais que têm constituído motivo das minhas reflexões, mas sim, de forma compaginada, a estrutura do Sistema Educativo e a estrutura de toda a organização social (políticas de emprego, pobreza, cultura, etc.). E isto está, obviamente, muito para lá da simples avaliação pontual de uma ou de outra disciplina. A minha batalha, se disso se trata, é contra um sistema desintegrado, que repete o passado e demonstra incapacidade de adaptação a um mundo que não é o da Sociedade Industrial. Sou avesso à segmentação da aprendizagem por disciplinas, sujeita a questionáveis rituais programáticos. Defendo que a aprendizagem deve assumir uma outra dimensão que obriga a pensar e a questionar os porquês. Um sistema, que bloqueia a curiosidade e empareda a aprendizagem julgo que não tem futuro. Não entender isto, pelo menos para mim, constitui uma clara fragilidade intelectual. 
Ainda há poucos dias, em uma iniciativa do governo regional da Madeira, foi o Juiz Conselheiro, hoje jubilado, Laborinho Lúcio, ele que não é docente, mas evidencia uma leitura sistémica do processo, que veio transmitir que não tarda o dia que as crianças dirão que têm um adulto dentro de si, tais são as características do sistema educativo. A simplicidade e acutilância deste pensamento deveria conduzir a uma profunda reflexão, partindo de uma única palavra: porquê? A questão tem sido, exactamente, essa, questionar-me sobre a estrutura do sistema, as razões da insatisfação e esgotamento dos professores, a estrutura da rede escolar, a autonomia das escolas, o paradigma curricular e pedagócico, a estrutura e financiamento da escola pública, a burocracia, a cultura, níveis económicos, familiares e a mentalidade da sociedade em geral, daí partindo, então, para um sistema de resposta a tanto abandono e insucesso. Doze escolas da Madeira e, dentro destas, sem se conhecer como foram seleccionados os alunos, resulta uma imagem que não se compagina com outras verdades. Por exemplo, no mesmo ano (2014/2015) do tal apregoado sucesso, posto em destaque pelo secretário da Educação, foi o mesmo ano escolar onde ficaram retidos ("cumbaram") 3.800 alunos, o que equivaleu a uma desperdício de 17 milhões de euros, partindo do pressuposto que cada aluno, em média, custa cerca de € 4.500,00. Pode então, sem esforço, se concluir, que o problema deve ser analisado não pelo lado da percentagem dos "reprovados", mas pelo lado do que o sistema deveria ter realizado, a montante e a jusante, no sentido de uma escola que não repita o passado e que, pelo contrário, seja fermento para o futuro.
Sou por um Sistema e por uma Escola com pensamento crítico politizado e não partidarizado. As escolas não podem ser comparadas às "linhas de montagem". Por isso, não entrando por outras substantivas razões, estou muito próximo de Pepe Menéndez, diretor adjunto da Fundació Jesuïtes Educació, da Catalunha, quando, recentemente, enalteceu em uma entrevista ao DN-Lisboa: "(...) A mudança está em olhar para as coisas de forma diferente: o que queremos? Nós, jesuítas, dizemos: queremos alunos competentes, compassivos, conscientes, comprometidos e criativos. Que sejam capazes de construir o seu projecto de vida, é esse o centro do nosso projecto educativo. É preciso fazer coisas no colégio para que o aluno se vá construindo, e todos os conhecimentos têm de ser metidos dentro do projecto. Não é: "A minha vida é isto e os meus conhecimentos estão noutro lado. Tenho de integrá-los" (...) Há, portanto, que mudar o olhar, de acordo com o filósofo [Zygmunt] Bauman que fala de um mundo líquido. Ironizo: ele não falou da Matemática! Pepe Menéndez, a par de muitos outros autores e de experiências que estão a acontecer em tantos espaços, nessa entrevista sublinhou: "(...) Aplicamos uma parte da [Teoria] das Inteligências Múltiplas (Howard Gardner, 1985, Harvard), uma parte da aprendizagem baseada em problemas, uma parte do trabalho colaborativo, e fazemos um ecossistema. O nosso modelo baseia-se muito no trabalho interdisciplinar por projectos". Saliento eu, para que a Escola, como já alguém referiu, não seja "a catedral do tédio". Não perceber esta relevância, misturando alhos com bugalhos, expõe, repito, uma fragilidade de pensamento que gostaria que nenhum governante evidenciasse. Mas agradeço a referência, pois ela permitiu-me, dentro da minha fragilidade, eu que não sou investigador, aqui colocar algumas coisitas que me preocupam. Sinto-me feliz por chegar à aposentação e continuar a acreditar que é sempre preferível ser prospectivo do que repetir o passado. Quanto a "burros" e "incompetentes" essas são palavras do secretário, nunca minhas. Jamais, porque alunos, professores e pais estão na primeira linha do meu respeito e preocupações.
Ilustração: Google Imagens.