sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

A MADEIRA PODERIA ESTAR NO TOPO E COMO REFERÊNCIA INTERNACIONAL


Por razões que aqui já enunciei, os estudos PISA (programme for international student assessment), entre outros estudos congéneres, devem servir de meros indicadores e nunca de um resultado absoluto sobre a realidade de um país ou região no que concerne aos sistemas educativos. Há, por um lado, diversas realidades históricas, económicas, sociais e culturais, o que não permite, com rigor, comparar o que é incomparável, e, por outro, sabe-se que não é seguro o carácter aleatório de escolha dos alunos que se submetem aos testes. Factos que colocam em causa o resultado final. Bastam estes dois aspectos para que se fique de pé atrás na análise dos resultados. Parece-me muito mais importante conhecer a estrutura dos diversos sistemas educativos, se eles estão ou não adequados ao tempo que vivemos, à própria investigação, se transportam ou não um princípio hierárquico contrário à verdadeira autonomia dos estabelecimentos de ensino, o grau de formação dos docentes e a sua disponibilidade para aceitar novos paradigmas pedagógicos, mais ainda, qual a relação entre o sistema educativo (a jusante) e as preocupações de natureza social (a montante). São estes aspectos que determinam se os sistemas são ou não portadores de futuro.


Há dias, assisti a tanto contentamento regional, com tirinhos a fazerem ricochete, pelos resultados de um estudo da OCDE sobre as "Tendências Internacionais no Estudo da Matemática e das Ciências (TIMSS)" no primeiro ciclo. No essencial, o governo esforçou-se por transmitir a ideia que a Madeira estava no caminho certo. Todos quantos se opõem estão errados. Sugeri que guardassem as declarações feitas para memória futura. Não foram necessários muitos dias e novo estudo foi dado à estampa: o PISA 2015. Em 25 regiões portuguesas (NUT3 - Nomenclatura das Unidades Territoriais para Fins Estatísticos) a Madeira encontra-se:
  • 19º lugar em Ciências.
  • 20º lugar em Leitura
  • 15º lugar em Matemática
Em todas as situações abaixo da média, apesar do grande investimento no número de horas (lectivas e de apoio) destinadas à Língua Portuguesa e Matemática, em detrimento de uma formação mais global. Obviamente que não me alegra este quadro que nos remete para uma zona cinzenta da tabela. Trata-se, apenas, de um indicador. Fico triste, isso sim, por assistir à repetição dos modelos curricular, programático, pedagógico e organizacional de escola, assente no pressuposto que se não aprendes a bem, aprendes a mal, isto é, com maior carga horária. É aqui que o processo, do meu ponto de vista, segue um caminho contrário à natureza da evolução. Estou convicto, na esteira de tantos observadores, que através de um outro paradigma, o sistema educativo da Madeira poderia estar no topo e como referência internacional. Muito acima da média europeia por países. Aliás, globalmente, todo o sistema contempla quarenta e poucos mil estudantes, entre os sectores público e privado. Uma ninharia comparada com outros espaços territoriais. Com órgãos de governo próprio, uma proximidade entre os extremos da ilha (57x22 km) e estando o Porto Santo ali tão perto, se a preocupação entre os factores de crescimento e os do desenvolvimento tivessem uma natureza equilibrada, julgo ser óbvio que outros poderiam ser os resultados.
Acresce, ainda, o facto da Região da Madeira continuar a apresentar altíssimas taxas de abandono escolar. A Madeira confronta-se com cerca de 23,6% quando no Continente, a taxa ronda os 12,9%. Um em cada quatro jovens madeirenses, entre os 18 e os 24 anos, abandonou, em 2015, a sua formação. Um facto preocupante e merecedor de reflexão. Finalmente, enalteço, apesar de ser um indicador, estes resultados não me alegram. Bem pelo contrário.
Ilustração: Google Imagens.

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