SOB A MAIS LIVRE DAS CONSTITUIÇÕES UM POVO IGNORANTE É SEMPRE ESCRAVO Condorcet (1743/1794)
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sexta-feira, 16 de dezembro de 2022
Um pequeno... grande livro
segunda-feira, 12 de dezembro de 2022
"A mentira tem sempre perna curta"
A expressão idiomática "a mentira tem sempre perna curta" adequa-se ao que aqui me traz. Há políticos, julgo eu, que não estão convencidos disso, e, vai daí, discursam conforme as plateias como se toda a audiência fosse menos capaz para cruzar e interpretar as palavras ditas. Mentem de forma descarada pouco se ralando de serem apanhados na primeira curva. A realidade é uma coisa, porém, o discurso interessa, apenas, na medida que a repetição venha a gerar uma ideia de significativa prosperidade, de lugar único pelo conjunto de medidas políticas que consideram de relevante alcance.
Há dias, a propósito do meritório trabalho realizado pelo Lions Clube do Funchal, no âmbito dos Prémios do concurso Paz - Liderar com Compaixão, o secretário da Educação da Madeira assumiu:
"Todos nós somos diferentes, mas devemos ser todos iguais nas oportunidades. É por isso que procuramos assegurar, nas escolas da Região, as condições para que todos os alunos, todas as crianças, independentemente dos seus traços, tenham a oportunidade de percorrer um caminho de sucesso, que possa conduzir à concretização do seu projecto de vida, dos seus sonhos. Uma escola inclusiva, que recebe todos, integra todos e, acima de tudo procura criar as condições conducentes ao sucesso à medida de cada um (...)" - Dnotícias.
O contexto não interessa, concretamente, se a sessão se destinou aos portadores de qualquer diferença no quadro da inclusão. Interessam-me as palavras ditas face à realidade. E este naco discursivo tem muito que se lhe diga. Falou de igualdade de oportunidades, de caminhos de sucesso à medida de cada um, de projectos de vida e de sonhos. Tudo o que este sistema, pelo qual é responsável, não garante.
Ora bem, não existe uma política educativa caracterizada pela igualdade de oportunidades, quando as assimetrias são inquietantes, cuja prova está nos 32% de pobres ou em risco. É um erro crasso argumentar a igualdade como se esta pudesse situar-se, apenas, no quadro da acessibilidade à escola. Essa constitui um direito constitucional. Era o que faltava se os governantes não cumprissem a Lei Fundamental! A verdade que contraria a mentira oficial está nos Censos de 2021, divulgada num excelente trabalho do jornalista do Dnotícias, Francisco José Cardoso: 36.485 residentes não terminaram a primeira fase (4º ano); 50,3% tinham escolaridade até ao 9º ano; 15 em cada 100 não tem qualquer nível de escolaridade; 8,1% com 15 ou mais anos não possui nível de escolaridade completo e o analfabetismo continua superior à média nacional. Quase 50 anos depois de Abril! E sabe-se, também, no quadro deste sistema, as pressões sobre a escola no sentido de evitarem retenções. Perguntem aos professores. É a estatística a prevalecer sobre o conhecimento. Ah, os indicadores referem que se verificou uma melhoria em relação à primeira década deste século! Pois, até se formos mais atrás, ao fundador da nacionalidade, obviamente que a comparação se tornará ridícula!
Depois, quais caminhos de sucesso à medida de cada um, quando o sistema é heterónomo, subordinado à vontade e preceitos de quem se encontra no topo da linha hierárquica, gente política que asfixia a autonomia dos estabelecimentos com uma infernal e paranóica burocracia, onde, genericamente, nada se faz sem uma "devida autorização"; quando a liberdade criadora é cerceada; a centralização de todos os processos constitui norma, onde tudo passa pelo rolo compressor que entende que, ao contrário de um fato à medida de cada um, exige um fatinho de tamanho único. Todos têm de se ajustar, mesmo que, qual metáfora, as calças fiquem abaixo do joelho e as mangas pelos cotovelos. É falso, portanto, que exista qualquer caminho de sucesso à medida de cada um! O sucesso não é determinado pelos alunos, mas por um sistema que estandardiza e, por isso mesmo, afasta os alunos do conhecimento. Os números acima enunciados testemunham isso mesmo.
Finalmente, projectos de vida e sonho? Mas alguém neste sistema pode aspirar a traçar o seu projecto de vida e de correr atrás do seu sonho? São os alunos que dizem: "não existe um propósito para ir à escola"; "o sistema educativo foca-se em coisas que não são importantes para a vida"; "a nossa formação é demasiado quadrada"; "estamos a desperdiçar tantas qualidades que os alunos têm" - do livro "A Escola é uma seca", página 26. E isto acontece porque, na esteira de Jaume Carbonell, in Pedagogias do Século XXI, "a função do professor não é ditar pensamento, mas ensinar a pensar". Poderá, neste quadro, haver lugar ao sonho? Escreveu uma aluna, Ariana da Silva Araújo, que "o sonho é uma planta que deve ser regada todos os dias para que cresça". Percebeu, Senhor Secretário? Ou, ainda, uma aluna madeirense que passou pelo curso de Medicina Universidade da Madeira. Em artigo, no Dia do Estudante, dirigiu-se aos colegas nestes termos: "(...) não deixes que outros te determinem. Tu és o teu próprio criador. Temos de dizer não a este círculo vicioso". Nesse artigo, dirigiu-se aos políticos com uma frase de potência máxima: "Ousem criar a escola que a sociedade vos exige". Percebeu, Senhor Secretário? É discursivamente obsoleto e falso falar de projectos de vida e de sonhos quando são os alunos a assumirem que esta escola está genericamente desfasada das suas preocupações, interesses, talentos e vocações.
Percebeu, Senhor Secretário?
Ilustração: Google Imagens.
sábado, 10 de dezembro de 2022
Então o Secundário é acessório?
É mais uma particularidade de um sistema educativo estruturalmente desadequado e que integra uma terminologia sem sentido. Pelo menos do meu ponto de vista. Vejamos esta: neste momento, após o terceiro ciclo do básico segue-se o secundário. Certo? Pergunto: secundário, porquê?
Chamem-lhe tudo, menos secundário: "Nível 4 de Aprendizagem", pré-universitário ou pré-superior, agora, secundário, obviamente que sugere qualquer coisa de segunda ordem e de pouca valia. E aquilo que o actual sistema defende é que ele não é de menor importância. Até enquadra exames nacionais de acesso ao superior, logo, de redobrada importância. Que paradoxo!
Parecendo que se trata de uma questão de pormenor, não é. Talvez fizesse algum sentido quando a obrigatoriedade da aprendizagem terminava no 9º ano! O que vinha a seguir, lamentavelmente, era considerado "secundário" nessa lógica da obrigatoriedade do Estado garantir a todos a universalidade "tendencialmente gratuita" (que mal isto me soa) até aos nove anos de escola básica. Portanto, não é aceitável deixar transparecer que, apesar da escolaridade obrigatória ser agora de doze anos, aqueles três anos finais, sejam acessórios.
E se trago à colação esta designação, muito semelhante a outras na classificação internacional, é porque entendo que, por um lado, não me parece correcto que se siga uma dada classificação assumida por outros, porque sim, por outro, porque o sistema deve constituir-se em harmonia quer nas designações, quer nos currículos, quer, ainda, nos programas ou nos formatos organizacionais. A diversidade é fundamental, o que me faz rejeitar padronizações europeias ou outras.
Mais, ainda. Porquê 1º, 2º e 3º ciclos? Hoje, não vejo onde reside a lógica da diferenciação dos ciclos. Então, repito, a obrigatoriedade da aprendizagem não é de 12 anos? E a aprendizagem não deve assentar num continuum e sustentada na integração do conhecimento, respeitando a interligação e cadência dos diversos patamares da aprendizagem?
Ora bem, era aqui que queria chegar. Tenho tido a feliz possibilidade de cruzar muita informação, desde o que leio até aos contactos com professores e alunos, enfim, com pessoas preocupadas com o conhecimento que está muito para além da resposta dita "certa" (!) a um qualquer assunto do manual, por seu turno sucessiva e obsessivamente avaliado. E o que leio e o que oiço leva-me a concluir que o sistema tem de passar por um profundíssimo debate que adeque a sequência da aprendizagem ao tempo que nos coube viver. Temos o dever de virar o sistema de pernas para o ar.
Não devem os políticos de plantão brincar com o tema Educação. A Educação é política e não partidária. É um desígnio de todos. Eu diria, menos propaganda e mais acção consistente no sentido de, corajosamente, preparar a Região para que o povo seja feliz cá dentro. Para isso, torna-se imperativo revolucionar o sistema educativo. E quem não tem essa capacidade, quem não consegue ver para além do horizonte visual, desampare o caminho. Em nome dos jovens e da resposta aos problemas sempre novos.
Ilustração: Google Imagens.
sexta-feira, 9 de dezembro de 2022
Ovelhas negras
“És mais parecida com a mãe.” – afirma um adulto.
“Não, não, ela é mais parecida com o pai.” – diz o outro adulto.
“Eu sou parecida comigo mesma.” – responde a criança, determinada.
Crescemos a escutar comparações a todos os níveis, como se tivéssemos que seguir sempre as pisadas dos nossos antepassados e não nos fosse dada qualquer escolha. Às crianças, muitas vezes, traçam caminhos que não são os delas e exigem que sejam boas nisto ou naquilo, quando elas têm outros talentos prontos a eclodir para o mundo. Mais tarde, são encaminhadas para carreiras profissionais porque são “as melhores”, ou servem melhor às necessidades da família naquele momento, só que nem sempre as realizam enquanto pessoas. Seguem determinados padrões familiares porque é o mais aceite, e não querem problemas.
Depois, vão tentando colmatar os vazios dentro de si através de escapes como vícios e consumismo. Cada criança é uma pessoa, mas nem sempre é vista como tal. Nasce com um caminho próprio, com capacidades inatas, com defeitos e qualidades, com sentimentos. Em primeiro lugar, precisa de amor e compreensão, para que se sinta segura e seja amparada ao longo do seu crescimento, educada para olhar o mundo duma forma ampla, com respeito, e perceber a responsabilidade de fazer as suas próprias escolhas, e os tesouros e os perigos que o mundo oferece. As crianças e os jovens não são moldes, nem têm que reproduzir as expetativas dos adultos da família. Têm direito à diferença. A serem quem são e a deixarem brilhar a sua luz cá para fora.
sábado, 3 de dezembro de 2022
O Estado da Educação
Na passada Quarta-feira participei, como orador, na Escola Francisco Franco, num encontro sobre o "Estado da Educação". No final do debate, quando já poucos se encontravam na sala, um aluno aproximou-se e sem rodeios disparou: "oh professor, depois do que escutei, considera mesmo que isto está tudo errado?"
Ora, a pergunta daquele aluno reflecte, também, a inteligência de quem não se acomoda. Respondi, serenamente, colocando-lhe a mão sobre o ombro, dizendo-lhe: que importante questão está a colocar! Sabe, não está tudo errado, mas não acha estranho que cerca de 11% dos rapazes e 15% das raparigas assumam que gostam da escola? Há muita "coisa" boa desenvolvida nos estabelecimentos de aprendizagem. Existem excelentes professores, só que, como eu salientei na minha exposição, tal como disse Alvin Tofller, não se pode meter o futuro nos cubículos do passado. Este sistema tem mais de duzentos anos, disse-lhe.
E a conversa continuou até à porta de saída da escola. Pelas escadas fomos conversando sobre as disciplinas e sobre a palavra conhecimento; falámos da tralha que invade os currículos e os programas; falámos do decorar para esquecer; falámos da excessiva burocracia que inferniza os professores e que lhes retira tempo para serem professores; falámos da pouca participação dos alunos na aprendizagem que continuam a ser mais receptores passivos de matéria, muita que para nada serve para a vida e falámos, ainda, do direito ao sonho e ao respeito pelo talento de cada um. Ao contrário de uma escola igual para todos, devíamos ter uma escola à medida de cada um, disse-lhe. Portanto, não está tudo errado. A configuração da estrutura do sistema é que tem de ser completamente diferente. E já no final do diálogo falámos de cidadania. Questionei-o: faz algum sentido, por exemplo, uma disciplina de Cidadania, no Básico, sujeita a avaliação? A cidadania é transversal, pertence a todos os professores, aos pais e todas as situações devem ser aproveitadas para dela falarmos.
Fiquei feliz por este fugaz diálogo com um jovem à procura de uma interpretação da escola na compaginação com a vida. No regresso a casa, pensando sobre aquela sessão e sobretudo no interesse daquele aluno, veio-me à memória um jovem que, quando eu desempenhava funções políticas, irrompeu pelo meu gabinete para me pedir aquilo que considerou o "vosso projecto político para a Região". Estávamos a semanas de umas eleições legislativas e ele que, nesse ano, ia pela primeira vez votar, queria saber mais e daí a sua ronda por todos os partidos concorrentes. O seu voto não podia ser à toa, deduzi, por "influência" familiar ou qualquer slogan de campanha. Entreguei-lhe todos os papéis e apenas lhe disse: é a primeira vez que vivo uma situação destas. Parabéns. Leia todos e decida o seu voto. O voto consciente!
Parecendo nada ter a ver uma situação com a outra, a verdade é que ambos estão unidos na busca da compreensão dos diversos ambientes que a vida confronta: um na escola que frequenta; o outro preocupado com um dos mais importantes actos de cidadania. E isto é salutar.
No caso daquela sessão sobre o "Estado da Região", oxalá, eu e a Professora Liliana Rodrigues, tenhamos conseguido despertar para a necessidade de um debate muito mais alargado. Bem disse a Professora Liliana que o processo educativo está muito centrado no professor quando devia estar centrado no aluno. É verdade. Só que, aos políticos de plantão, sobra-lhes em teimosia o que lhes falta em conhecimento, acreditam, piamente, numa escola igual para todos quando todos são diferentes; pedem aos jovens projectos "fora da caixa" quando bloqueiam, desde as primeiras idades, a criatividade, a inovação, o risco e a liberdade de cumprir o talento que cada um de nós transporta. Ainda hoje li uma interessante entrevista ao velejador de 83 anos, Sir Robin Knox-Johnston, que a páginas tantas salientou: "(...) Aos 8 anos eu já sabia que ia ser velejador, não sei o motivo, simplesmente sabia". Pois, o talento estava lá! Foi assim com Ronaldo que se esquecia dos livros, mas não abandonava a bola, com o aluno mediano e distraído Albert Einstein que deixou cedo a escola tradicional, foi assim com um outro que passava a vida a fazer riscos e o professor queixava-se de nunca estar com atenção... Pablo Picasso! Foi assim com Thomas Edison, considerado um idiota e aconselhado a deixar a escola. Decididamente, um fatinho de tamanho único não encaixa em todas as vocações.
O drama de tudo isto é que os políticos continuam a viver, ilusoriamente, no pedestal da autosuficiência, incapazes de aceitarem que as traves-mestras da escola de há duzentos anos não se adequam ao exponencial desenvolvimento em todas as frentes do conhecimento. Mantêm, por isso, e porque é mais fácil, uma escola fechada sobre os seus muros, impedindo-a de olhar para além do horizonte visual. Falta-lhes cultura no que concerne à capacidade de cruzar o entendimento de todos os sistemas (económico, financeiro, social, político, religioso, saúde, educativo, empresarial, enfim, todos) para daí partirem para uma aprendizagem compaginada com a vida. Sobra-lhes tempo para a propaganda mediática o que lhes falta para visitar, conhecer, escutar, ler, debater e colocar em dúvida os seus propósitos. Vivem no medo de arriscar na criação de actos portadores de futuro.
Há dias, um jovem médico, Dr. Francisco Dionísio, num encontro acontecido no Funchal, falou exactamente desta preocupação: é preciso "deixar os jovens saírem da sua bolha para que possam ver o mundo". Assumiu que é "no sonho" que os jovens encontrarão sentido para as suas vidas. Ora, isso implica "partir e quebrar as amarras que os impedem de sonhar", sublinhou.
Ora bem, alguém uma vez me disse que a alguns (políticos) os devíamos confrontar com uma frase simples: "oh amigo, de vez em quando convém ler algumas coisitas".
Ilustração. Google Imagens.
quinta-feira, 1 de dezembro de 2022
O ESTADO DA EDUCAÇÃO
quarta-feira, 23 de novembro de 2022
E é aqui que estamos, colegas professores!
Este é o último prego no caixão que enterrará a carreira e o derradeiro lance para desregular definitivamente a transparência da provisão pública das necessidades docentes.
O Ministério da Educação quer atribuir a conselhos locais de directores a responsabilidade de seleccionar os professores e passar de quatro para cinco anos os concursos destinados aos dos quadros. Os dez quadros de zona pedagógica passarão a 23 mapas intermunicipais (as actuais 21 comunidades intermunicipais [CIM] mais as áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto). Não há ainda qualquer documento escrito, nem foram referidos os critérios a usar pelos directores. Mas, aparentemente, desaparece a natureza nacional dos concursos de colocação, esvai-se a mobilidade interna e os professores deixam de poder escolher as escolas onde querem trabalhar.
O que está em causa é a imposição de uma engenharia de gestão, que subordina os mais elementares direitos humanos dos professores e à educação dos alunos, aos mais mesquinhos interesses da austeridade da página virada. O que está em causa é uma proposta que agravará as desigualdades entre as regiões e as crianças e tornará ainda mais precária a vida dos professores, coagindo-os a trabalhar onde não querem. Em rigor, trata-se de fazer precludir os capítulos V e VI do Estatuto da Carreira Docente, que regulam os quadros e os respectivos processos de vinculação. Numa palavra, este é o último prego no caixão que enterrará a carreira e o derradeiro lance para desregular definitivamente a transparência da provisão pública das necessidades docentes.
sábado, 19 de novembro de 2022
quinta-feira, 17 de novembro de 2022
domingo, 13 de novembro de 2022
TEDX
É preciso "deixar os jovens saírem da sua bolha e ver o mundo" foi uma das frases emblemáticas no recente "TEDX - Funchal". Assumiu-a o Dr. Francisco Dionísio, jovem médico, para quem é "no sonho" que os jovens encontrarão sentido para as suas vidas. Isso implica "partir e quebrar as amarras que os impedem de sonhar", disse.
Ao contrário do que Toffler enalteceu, esta geração política continua a querer meter o futuro nos cubículos convencionais do passado. E, de falência em falência, mais tarde, qual paradoxo, pedem aos jovens iniciativas "fora da caixa", que sejam inovadores, que tenham ambição e até propõem-lhes formação para empreendedores. Matam o sonho e, depois, desejam uma geração de jovens responsáveis, de pensamento livre e capazes de agarrar todas as oportunidades que o mundo coloca à sua disposição.
Não é possível Dr. Francisco Dionísio, quando os políticos mentem, apenas desejam conservar o seu poderzito, brincam com as estatísticas jogando no campo da "verdade que engana", quando são incapazes de perceberem as razões de só 11% dos rapazes e 15% das raparigas assumirem gostar desta escola; quando existe uma debandada de professores fartos e cheios deste sistema que os inferniza com programas e burocracias (84% deseja aposentar-se); quando os empregadores querem pessoas que pensem e não pessoas com "músculos na cabeça"; quando são mantidas as traves-mestras de um sistema com 200 anos, quando, ainda hoje, prevalece a "aprendizagem" segmentada (por disciplinas) quando tudo está interligado, quando se trabalha para "ranking's" e não para o conhecimento, pergunto-lhe, se pode haver alguém capaz de "quebrar as amarras"?
De qualquer forma, volto a dar-lhe parabéns pela lucidez e pela esperança que mantém.
Ilustração: Dnotícias.
sábado, 12 de novembro de 2022
quinta-feira, 10 de novembro de 2022
Caso de Estudo? Chapéus há muitos...
Vasco Santana imortalizou a frase "Chapéus há muitos". Por aproximação eu diria que também "Case study" há para todos os gostos. Tal como os chapéus enfia quem quer. Ora bem, por várias razões, tenho pelo Dr. João Cunha e Silva consideração pessoal. Aliás, nas raras vezes que nos vamos cruzando na vida, a cordialidade e o respeito é mútuo. Portanto, aos que me lerem, peço que não confundam os quadrantes políticos que eu e ele protagonizámos ao longo da vida. Trata-se, apenas, de, democraticamente, estabelecer aqui um salutar contraponto.
Levaria muitas páginas a explicar isto dos manuais digitais ou então aquela história das "salas de aula do futuro". Vou-me ficar por aquilo que, há poucos dias, o Professor Doutor Santana Castilho (Membro do VIII Governo Constitucional presidido pelo Dr. Francisco Pinto Balsemão), num encontro de professores, disse sobre a utilização dos manuais digitais. Sumariamente, assumiu que nos Estados Unidos, a implementação dos manuais digitais, iniciada há oito anos, foi abandonada, porque os cientistas concluíram que o desenvolvimento cognitivo das gerações mergulhadas no digital é equivalente ao das crianças de 8/9 anos de há 30 anos; por outro lado, são cinco vezes mais caros para além de ter crescido em 30% as doenças oftalmológicas. Explicou as razões e fez-se um sepulcral silêncio. Quando uma figura académica, autor de várias Obras e colunista do Público, espoleta uma situação destas, presumo que as campainhas de alarme deviam ter tocado de forma estridente nos ouvidos dos responsáveis políticos. O secretário da Educação devia, imediatamente, sentir-se preocupado e proceder à auscultação de todos os que directamente estão ligados ao sector. Com uma pergunta-chave tão simples quanto esta: "será que estamos no percurso certo ou teremos de arrepiar caminho?" Simples! Se os neurocientistas invocam que o que parece não é, então, que se estude e que se mude de orientação. Só lhe ficaria bem. Para sermos "exemplo para toda a Europa e Ásia"!
O problema da qualidade da aprendizagem e do futuro das novas gerações, entre muitos e muitos aspectos, não está, meu Caro Dr. João Cunha e Silva, na existência de manuais digitais em conjugação com algumas ditas salas de aula do futuro. O drama está no que deve ser o Sistema Educativo, no que deve ser a Escola do Século XXI, a sua organização interna, a mudança radical da mentalidade que obriga a actos rotineiros, no drama está nos currículos, nos programas extensos, complexos e desadequados, na cultura de aprendizagem, nessa meritocracia balofa que se alastrou, na reconversão da rede escolar e na tipologia dos edifícios, na formação dos professores, na burocracia, na doentia e obsessiva avaliação, na pobreza social e no respeito pelo sonho de cada um, rico ou pobre, onde a utilização da tecnologia, necessária e extremamente importante, não se esgote, genericamente, na colocação dos manuais em papel num tablet, mantendo intocável o formato pedagógico. Manter as traves-mestras do Século XIX só poderá dar "erro".
"Caso de Estudo" devia ser o facto de, numa Região Autónoma, com pouco mais de 40 000 alunos, a caminho de 50 anos de Autonomia, os indicadores serem, aproximadamente, estes: "65% da população da Madeira, com 15 ou mais anos, tem apenas até o 9º ano de escolaridade. O valor está acima da taxa nacional que, no ano passado, ficou pelos 61%. A Madeira continua a estar pior do que a média nacional, naquela que é a taxa de abandono precoce de educação e formação (jovens dos 18 aos 24 anos que estão fora do sistema de ensino e sem o secundário): 23% na Região e 14% no País". Fonte - DN-Madeira/Pordata/Jornalista Ana Luísa Correia / Junho de 2018. Refiro este estudo de 2018, pois, como se compreende, não é em quatro anos, de acordo com a mesma metodologia, que os dados venham a ser substancialmente diferentes.
Tudo isto significa que existe uma crónica teimosia em viver de modas e de aparências, onde o estudo fica sempre para mais tarde. Talvez possa dizer que a Escola está ao serviço da política e não a política ao serviço da Escola. E o Dr. Cunha e Silva percebe o que aqui deixo e, por isso, digo-lhe com consideração: oh Educação quando deixas de ser partidarizada, para que a Escola não seja "A Catedral do Tédio".
Ilustração: Google Imagens.
domingo, 6 de novembro de 2022
sábado, 5 de novembro de 2022
quarta-feira, 2 de novembro de 2022
“O professor não ensina aquilo que diz, transmite aquilo que é”
Entrevista a José Pacheco:
por Ana Isabel Fernandes,
“Não há alunos com dificuldades de aprendizagem; há professores com dificuldades de ensinagem…”, ressalva-nos mais do que uma vez José Pacheco que, após mais de 30 anos na Escola da Ponte, em Vila das Aves, ruma ao Brasil, tal como Agostinho da Silva, porque crê que o desenvolvimento do ensino do futuro está-se a dar a Sul e não, como etnocentricamente gostamos de pensar, a Norte. Do outro lado do oceano apoiou, por exemplo, o nascimento do núcleo projecto Âncora, que auxilia alunos socialmente desfavorecidos e é tida, actualmente, como uma das melhores escolas do mundo. Chegou à Escola da Ponte como professor substituto de uma docente em baixa de maternidade, ainda nos anos 70, e tinha a seu cargo uma turma de 60 alunos das mais variadas idades. Foi esta situação que o instigou a pensar e repensar os paradigmas da educação. Assim, dessa forma, desenvolve, na época, um novo e dinâmico projecto pedagógico, juntamente com duas colegas, a partir do qual nascem as premissas que regem a Escola da Ponte até aos dias de hoje, agora em São Tomé de Negrelos. Autonomia, liberdade, responsabilidade, entreajuda, noção de comunidade e criatividade em que é o próprio aluno a propor-se para avaliação quando se achar preparado.
Apesar da publicação de decretos e dos esforços de bons educadores, a inclusão continua a ser uma miragem. Será necessário assumir o princípio de que não há alunos com dificuldades de aprendizagem, mas professores com dificuldades de ensinagem. Será necessário reconhecer que todas as crianças são “especiais”. E de que as escolas deverão abandonar práticas fundadas no paradigma instrucionista, substituindo-as por práticas fundadas no paradigma da aprendizagem e da comunicação. A educação é um direito de todos. Só poderá ser inclusiva. Ou não será educação…
Mas ainda há quem ignore a existência do princípio do isomorfismo na formação, quem creia que a teoria precede a prática, quem considere o formando como objeto de formação quando deveria ser tomado como sujeito em autotransformação no contexto de uma equipa, com um projeto. Prevalecem práticas carentes de comunicação dialógica, culturas de formação individualistas, de competitividade negativa, de que está ausente o trabalho em equipa.
segunda-feira, 31 de outubro de 2022
"A Escola é uma seca"
O problema não está na diminuição de 1 276 professores relativamente a 2010/2011 (7 105), uma vez que se verificou uma significativa diminuição da taxa de natalidade. Há menos crianças, portanto, menos são os professores necessários nos estabelecimentos de aprendizagem. O resto é conversa para entreter. (ver Dnotícias de hoje). Importante é saber onde se quer chegar com a actual política educativa. Repetir o passado com ligeiras alterações nas margens? Por aí eu diria que "vai dar erro". Aliás, o sistema vive, permanentemente, no erro. Nem tentativas faz para o evitar e, naturalmente, caminhar. Está acomodado e sobrevive da e na propaganda, não se percebendo como é possível se afirmar que se trabalha no sentido da "contínua melhoria do sistema". Mas alguém saberá para onde caminha?
Gostaria de assistir era ao debate, isso sim, não das ninharias, mas de tudo aquilo que é estruturante de um sistema desenhado para dar resposta às necessidades de uma escola compaginada com a vida. Não esqueço e continuarei a repetir até à exaustão o que escutei há mais de 50 anos:
"Como pode uma escola sempre igual
competir com a vida que é sempre diferente.
O desencontro é inevitável"
Bertrand Livreiros - livraria Online
A escola é uma seca, uma pesquisa em Filosofia na Fnac.pt
Livros portugueses, livros estrangeiros, livros escolares e ebooks - Wook
terça-feira, 25 de outubro de 2022
CONVERSA SOBRE EDUCAÇÃO
Negar a ciência ou falta bom senso?
O Professor Doutor Santana Castilho esteve na Madeira e teceu algumas considerações relativamente à política de utilização dos manuais digitais. Sumariamente, tal como já neste espaço referi, assumiu que a estratégia dos tais manuais digitais, iniciada há oito anos nos Estados Unidos, está a ser abandonada. E explicou as razões.
O que me parece é que o governo seguirá a sua orientação, sendo provável que o Professor Santana Castilho será considerado como uma pessoa a não tecer, no futuro e localmente, opiniões sobre a política educativa regional. E os manuais digitais continuarão e as tais "salas de aula do futuro" emergirão por aí, embelezando e servindo a propaganda de natureza política. O conhecimento científico ficará para depois.
A utilização da tecnologia, necessária e extremamente importante, não se esgota colocando os manuais em papel num tablet, mantendo intocável o formato pedagógico. Tudo isto significa que existe uma crónica teimosia em viver de modas e de aparências, onde o estudo fica sempre para mais tarde. Professores da minha terra, acordai!
Ilustração: Google Imagens.
segunda-feira, 24 de outubro de 2022
Tecnologia não é "meter" os manuais em papel no tablet!
Quem o diz é o professor Santana Castilho, que aponta os Estados Unidos da América como um país que abandonou a estratégia. Entre as razões estava o aumento das doenças oftalmológicas.
sábado, 22 de outubro de 2022
O sistema está amarrado, estrangulado e centralizado numa pessoa!
Desde há muitos anos que nos conhecemos. Tenho pelo Engenheiro Arlindo Oliveira uma enorme consideração e estima. É um Homem esclarecido, de pensamento aberto ao Mundo, perspicaz e sensível face aos dramas sociais. Num tempo que não era fácil ter opinião, não se escondeu. Infelizmente, não foi aproveitado no plano do exercício da política. Ainda assim, em vários mandatos, servimos o Funchal enquanto Vereadores. Aquilo que escrevo relativamente ao sector da Educação, dos poucos que vêm a terreiro debatê-la, ele é um dos que se interessa apesar deste não ser o seu sector de actividade profissional.
Há dias, publicou um texto sobre a Teoria da Relatividade de Albert Eintein - De Newton (1643-1727) a Einstein, (1879-1955) uma nova visão do mundo e do Universo. Republiquei-o no meu blogue pela importância que tal texto reflecte. É fruto do seu continuo interesse pelo estudo de temas apaixonantes e que a maioria de nós não domina. Já antes tinha acompanhado uma interessante e contagiante entrevista, melhor dizendo, diálogo com o Padre José Luís Rodrigues. Uma conversa que me encheu. E se o trago aqui é pelo facto de naquele trabalho sobre Einstein, o meu Amigo Arlindo, independentemente de todo o conteúdo, ter destacado o facto de Einstein ter sido um aluno mediano nas disciplinas de Física e de Matemática. Estava sempre distraído e teve que sair da escola. O seu texto começa assim: