terça-feira, 22 de dezembro de 2020

Número de alunos com acção social em queda. A excepção é o 1.º ciclo do ensino básico


O número de alunos a beneficiar de acção social escolar (ASE) está a descer, seguindo uma tendência que se tem observado “ao longo dos últimos dez anos”, diz o relatório Estado da Educação 2019. Mas o documento do Conselho Nacional de Educação aponta uma excepção. No ano lectivo 2018/19 o número de alunos do 1.º ciclo do ensino básico apoiados subiu em relação ao ano lectivo anterior: foram mais 12.317 crianças. Já em relação aos restantes ciclos de ensino houve “menos 8025 alunos no 2.º CEB [abrangidos], menos 11.211 no 3.º CEB e menos 5038 no ensino secundário”.



O balanço anual, que é divulgado nesta segunda-feira, mostra que no ano lectivo 2009/10 havia 494.106 estudantes com ASE, enquanto no último ano foram 365.811. Verifica-se que em quase todos os anos lectivos analisados a maior percentagem de alunos apoiados concentra-se no 1.º ciclo (do 1.º ao 4.º ano), destacando-se o último (2018/19) em que esta proporção foi a maior (34,5% dos alunos abrangidos). Quantos aos restantes ciclos e secundário, as percentagens caíram em relação a 2017/18, estando agora em 28,4% no 3.º ciclo, em 19,4% no 2.º e em 17,6% no secundário.

Olhando apenas para a rede pública, o decréscimo também é visível. Se em 2009/10, dois quintos dos alunos (42,7%) eram beneficiários de ASE e em 2014/15 eram 40,1%, no último ano lectivo ficou-se pelos 34,1%. Neste último ano, o 2.º ciclo foi o que teve maior percentagem de alunos com ASE (41%), seguido pelo 3.º ciclo (37,7%), pelo 1.º ciclo (32,4%) e pelo secundário (27,1%).

Ainda assim, 2018/19 registou o terceiro valor mais alto da década em termos de financiamento de ASE. Foram cerca de 250 milhões de euros, embora menos quase nove milhões em relação a 2016 (valor mais alto). A ASE abrange apoios, por exemplo, para material escolar, refeições e visitas de estudo e o montante dos apoios depende dos escalões de rendimento das famílias.



Aumentar
Questionado sobre a descida geral de alunos apoiados e à subida registada no 1.º ciclo, o Ministério da Educação fala em “três questões fundamentais”. A diminuição da natalidade e a melhoria do sucesso escolar, que “tem vindo a diminuir o número de alunos no ensino básico” e “por isso, a percentagem de alunos apoiados pela ASE tem permanecido estável, ligeiramente acima dos 30% no ensino básico e dos 15% no ensino secundário” e a aproximação da percentagem — “em torno dos 32%” — de alunos apoiados no 1.º e 2.º ciclos em 2018/19, “o que significa que a informação às famílias e os processos de atribuição dos benefícios estão mais céleres do que nos anteriores”.

Por fim, o ministério destaca “a disponibilização dos manuais escolares a todos os alunos”, que deixou de fazer parte do ASE mas que “permitiu a este programa alargar efectivamente outro tipo de apoios aos alunos em condições mais vulneráveis”. Refere ainda que o orçamento da ASE tem aumentado “na ordem dos 3% anuais desde 2016” e para 2021 esse “aumento é de 10% em relação ao ano anterior”.

Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas, também destaca o efeito da gratuitidade dos manuais escolares, “que representava uma grande fatia da acção social escolar”. “Mas também sinto que há um conjunto alargado de encarregados de educação da classe média em que pelos rendimentos pode não ter direito a escalão, mas que os alunos deveriam ter algum apoio da acção escolar”, diz.

Metas a cumprir

O relatório lança ainda um olhar sobre as metas estabelecidas pela União Europeia a alcançar até ao final deste ano. Registaram-se melhorias em 2019. Mas, por exemplo, na meta de ter pelo menos 40% das pessoas entre os 30 e 34 anos diplomadas, Portugal ainda está a 3,8 pontos percentuais (pp) do objectivo. E na de ter pelo menos 15% dos adultos a participar na aprendizagem ao longo da vida, o país estava a 4,5 pp da meta. A média da UE 28 [União Europeia] está 3,7 pp do objectivo. “Observam-se alguns progressos desde 2013, mas ainda parece não haver uma clara aposta na aprendizagem ao longo da vida”, diz o relatório.

O Ministério da Educação lembra que “ainda não existem os dados de 2020, mas em vários casos a proximidade que já existia em 2018/19 torna possível alcançar a meta este ano”. Dá o exemplo do abandono escolar precoce. O objectivo definido era reduzi-lo para 10% em 2020. “Em 2019 esse valor foi de 10,6%, o que representa um decréscimo muito significativo, e os valores dos três primeiros trimestres de 2020 são já inferiores a 10%, o que indica que seja possível alcançar este difícil objectivo em 2020.”

Refere ainda o ministério que “Portugal encontra-se perfeitamente em linha com vários outros países europeus, alguns deles, aliás, com um PIB superior” e nota que “quando se alcança um patamar elevado, se torna mais complexa qualquer progressão”.

Fonte: Público

domingo, 13 de dezembro de 2020

Escolas. Demasiado tempo a ouvir o professor


Portugal é um dos países da Europa em que há aulas com maior duração. Na maior parte das escolas, nomeadamente no ensino básico, os conhecidos 90 minutos por aula, que à partida serviriam para proporcionar aos alunos um momento essencial de aprendizagem, acabam por se transformar num verdadeiro pesadelo. E é por isso que há professores que já optaram por aliviar a carga horária, adotando uma estratégia mais eficaz que se afasta completamente do simples facto de debitar matéria durante largos minutos. (...) Rui Correia, professor do ensino básico e secundário, sublinhou que, para os seus alunos, há apenas «15 minutos de atenção máxima» antes de se dedicarem a questões mais didáticas, realçando que ainda existe muito a ideia de que um professor, ao entrar numa sala de aulas, tem apenas de cumprir determinados programas e conteúdos.



«Estar 90 minutos com atenção máxima parece-me um bocado irrealista. Nesse sentido, o que há a fazer, julgo eu, é entender-se que tem de haver espaço para uma certa descontração na sala de aula. Quando estamos a lecionar, é bom perceber se a mensagem está a passar ou não. Fala-se muito desta questão do regime presencial, mas considero que, às vezes, é mais uma aula de corpo presente do que uma aula em regime presencial. Nem sempre o regime presencial é o mais benéfico, porque nos traz pouco retorno em relação àquilo que deve ser feito», começou por dizer, admitindo a importância da «escrita» e também dos «jogos de computador» no que toca à parte mais lúdica.

«É surpreendente ver a forma como os jogos de computador podem ser incrivelmente didáticos e úteis para uma aula de História, por exemplo. Uma aula serve para os alunos estarem ativos e a produzir, seja a pensar ou a escrever. A escrita é uma forma privilegiada de estruturar a informação. Os meus alunos escrevem muito, mas escrevem o que eles querem. Depois desses 15 minutos de aula de atenção máxima, são convidados a explicar-me aquilo que acharam, o que teve mais e menos interesse ou apenas dúvidas que tenham. Uma ideia que acho muito importante é perguntar-lhes se sabem alguma coisa que eu não sei», reforçou. E acrescentou ainda que as aulas não podem ter o foco nos professores, uma vez que se trata de aprendizagem. «A sala de aula não pode ser a nascente do conhecimento, mas sim a foz do conhecimento. A aula não é sobre o professor. O assunto é a aula que os miúdos vão ter. E enquanto não invertermos esta lógica das coisas vamos continuar a assistir a algo que não queremos ver», atirou.

Aulas de 90 minutos logo de manhã

Em 2012 foi aprovado um decreto-lei que permitiu que as escolas pudessem optar pelos horários que queriam utilizar, tal como revelou (...) o ex-ministro da Educação Nuno Crato. Mas os estabelecimentos escolares parecem não querer livrar-se das aulas mais longas. Filinto Lima, presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas, deixou claro que, na maior parte das vezes, as escolas optam por colocar as aulas de 90 minutos nas primeiras horas do dia, quando os alunos ainda estão «frescos».

«Estas aulas de 90 minutos são dadas mais de manhã, porque os alunos estão menos cansados. Nesse caso, os professores optam por lecionar Matemática ou outras disciplinas que exigem mais dos alunos, sendo mais teóricas. E, ao longo do dia, da parte da tarde, lecionam Educação Física, Educação Visual, ou seja, as disciplinas mais dedicadas às artes», disse (...), explicando, porém, que considera que, mesmo nestes termos, as aulas com esta duração são «duras» tanto para os alunos como para os professores.

«Parece-me ser demasiado tempo seguido, principalmente no 5.º e 6.º anos. No secundário já não, porque são mais autónomos. Há disciplinas em que têm experiência laboratorial. Mas, com alunos mais novos, acho que 90 minutos é, de facto, duro para eles e também para os professores. Manter a atenção dos jovens durante tanto tempo não é fácil», reconheceu Filinto Lima.

O sociólogo Elísio Estanque foi mais longe e, em tempos de covid-19, sublinhou que os problemas já existentes nas escolas antes do aparecimento da pandemia em Portugal podem ter-se tornado ainda mais difíceis de contornar. «Esta situação da covid-19 também pode dar-nos indicações para aquilo que vamos fazer no futuro, em situação pós-covid», começou por dizer (...), salientando que são necessárias pedagogias mais atrativas.

«As aulas de 90 minutos são excessivas para crianças. Mas até na universidade são. Para jovens já com mais responsabilidades, a partir de um determinado momento começa a sentir-se perturbação da parte deles. Há sempre uma parte das turmas que desliga nas aulas. Por isso, entre crianças e adolescentes, ainda é pior. E é necessária a tentativa de conjugar uma componente de ensino, em algumas disciplinas, com a componente lúdica. Nas crianças, a aprendizagem requer uma dimensão lúdica para que o gosto pela leitura, por exemplo, seja encarado por elas na combinação com o jogo, porque facilmente atrai as crianças», disse.

Aulas nos outros países da Europa

Em Portugal, o Ministério da Educação esclareceu (...) que a tutela «introduziu, durante o XXI Governo, o projeto de Autonomia e Flexibilidade Curricular, posteriormente consubstanciado no DL 55/2018, enquadrador do currículo nacional, que visa a promoção de melhores aprendizagens indutoras do desenvolvimento de competências de nível mais elevado, assumindo a centralidade das escolas, dos seus alunos e professores, e permitindo a gestão do currículo e da distribuição de horas de forma flexível e contextualizada». E é este o esforço que tem sido feito ao longo dos últimos anos nas escolas em Portugal. Mas, no estrangeiro, o cenário é distinto.

De acordo com os dados divulgados pela Comissão Europeia, em 2019, as aulas no ensino básico em Espanha, por exemplo, têm a duração de 60 minutos, em geral, e situação semelhante acontece na Bélgica, Áustria e Irlanda, com aulas de 50 minutos. Já na Alemanha há uma duração mínima de 45 minutos por aula – com o máximo de seis aulas por dia – e, na Escócia, de 55 minutos cada. No que toca aos países nórdicos, na Finlândia, a duração das aulas varia entre os 45 e os 60 minutos.

Três países e tudo muito diferente

Matilde, de nove anos, e Sthan, de 11, já frequentaram escolas em três países diferentes: Portugal, Espanha e França. Agora estão no 4.º e 6.º anos de escolaridade, na comuna francesa de Saint-Malo, mas dizem existir muitas diferenças em relação ao tempo em que andavam na escola em Portugal, entre 2017 e 2018. (...) Maria, a mãe das duas crianças, sublinhou que uma das principais diferenças é a carga de trabalhos de casa que, em Portugal, são distribuídos aos alunos.

«Aqui onde estamos, em França, por exemplo, nos primeiros anos escolares, os trabalhos de casa estão proibidos. O que eles podem ter é, no máximo, 20 minutos por dia para terminar aquilo que não conseguiram completar na escola. Mas não há trabalhos de casa. Podem ter uma poesia para rever, duas linhas de um texto que não conseguiram terminar, mas mais do que isso não», começou por relatar, explicando que, no que toca a Portugal, os trabalhos de casa tornam-se um exagero. «No ano em que os meus filhos estiveram em Portugal, eram horas de volta dos trabalhos de casa. Acordavam às 6h da manhã, chegavam a casa quase às 20h e ainda tinham trabalhos de casa para fazer. Os professores exigem imenso. A sensação com que eu fiquei em Portugal foi que os pais fazem o papel dos professores. Os franceses são muito rígidos nesse sentido, ou seja, pai é pai e professor é professor», revelou, antes de salientar também a elevada quantidade de fichas que são entregues aos miúdos em Portugal.

«Em França e Espanha não há fichas. São coisas mais lúdicas e didáticas. No segundo ano já começam a aprender a fazer trabalhos de grupo, por exemplo. Em Portugal adoramos as fichas e, se os professores não completarem o programa escolar, ficam em pânico. Gastei também imenso em livros em Portugal, mais de 200 euros. Depois percebi que o Governo oferece livros, mas não estive nessa situação. Houve livros que eles nunca abriram. Em França, o material até ao 6.º ano é todo oferecido pela escola e pelo Governo, à exceção do estojo», acrescentou.

Além disso, as atividades lúdicas, bem como as artes e a música, são disciplinas que têm a mesma importância do que as outras em França, diz. No País Basco, no norte de Espanha – onde estiveram entre 2014 e 2015 –, a situação é semelhante, com uma ligação muito direta à cultura. «Fazem muita coisa ligada às artes, assim como no País Basco. A música e as artes, em França, têm o mesmo valor das outras disciplinas. Em Portugal estamos muito ligados aos livros, ou seja, muito agarrados ao estudo empírico. No País Basco existe um sistema muito criativo e artístico», concluiu.

Os horários dos pais e dos filhos

Em Portugal há alunos que passam diariamente 12 horas nas escolas por causa dos horários de trabalho dos pais, segundo confirmou Filinto Lima (...), sublinhando ainda que é estritamente necessário ter em atenção a carga horária que não está relacionada com as aulas, mas sim com o tempo que as crianças passam no interior do estabelecimento escolar.

«Entre as 16h, que é quando saem das aulas, e as 19h30, há pais que vão buscar os filhos. Ou vão passear com os avós. Outros, a carrinha do ATL [atividades de tempos livres] vai buscá-los e leva-os para os centros para fazer os trabalhos de casa. E muitos outros ficam nas escolas até às 19h30. Muitos deles fazem os trabalhos de casa logo na escola, mas também há atividades lúdicas. As autarquias ajudam os pais nesse sentido, ou seja, permitem que os pais deixem os filhos mais cedo nas escolas para não chegarem atrasados ao trabalho e depois podem ir buscá-los até por volta das 19h30», esclareceu, dizendo ainda ser um luxo, nos tempos que correm, os alunos saírem das aulas às 16h e os pais estarem lá, à porta, para os ir buscar.

«Estamos em Portugal, não podemos esquecer. E, em Portugal, os pais começam a trabalhar cedo e terminam tarde. A escola depende muito do horário e da economia dos pais. Noutros países europeus, tais como a Finlândia ou a Suécia, que são países mais ricos, os alunos saem das aulas e vão para casa, porque os pais conseguem ir buscá-los a essa hora. Mas em Portugal não. Estamos muito longe de conseguir atingir esse patamar», reconheceu Filinto Lima.

Em França, por exemplo, Maria conta que os horários dos pais são ajustados aos dos filhos, com o intuito de evitar que as crianças possam passar muito tempo na escola. «Em França, a hora máxima para ir buscar os filhos à escola é às 19h – entram às 8h30 e saem às 16h30. Eu, por exemplo, começo a trabalhar às 8h e acabo às 13h. E depois, à tarde, faço pequenas coisas que faltam. Às quartas-feiras não há aulas em França e no trabalho dos pais já sabem isso. Há um ajuste que é feito entre o trabalho dos pais e as escolas. Mas isto também acaba por ser muito cultural. Aqui em França, as pessoas revoltam-se muito. Se em Portugal não se manifestarem convenientemente, o Governo não muda nada», atirou, explicando até que a comunicação entre as escolas e os pais é muito mais dinâmica, deixando os encarregados de educação mais descansados e informados.

«Recebo emails de tudo, sobre todas as atividades que os meus filhos fazem nas escolas. Em Portugal, nunca ninguém me consultou. Em França, mesmo que eu não queira, recebo informações das escolas. Até o meu marido recebe», rematou.

Fonte: Sol por indicação de Livresco

NOTA
Publico este artigo, apesar de algumas incoerências que detectei.

sábado, 5 de dezembro de 2020

É para avaliar ou é para aprender?


Desde muito cedo que o desafio entre equilíbrio e gravidade, em cima de rodas, me desafiou! Motas e bicicletas entre outros. Gosto de veículos com rodas! Sendo o filho mais novo de três irmãos, aprender a andar de bicicleta foi uma autoaprendizagem. Não havia tempo para tudo! Ainda hoje ando nos dois. Mesmo quando estou meses ou anos se lhes tocar. Aprendi sozinho! Por vezes ganhou a gravidade, mas a resiliência vencia a gravidade e, rapidamente, o equilíbrio venceu e tornou-se mais constante. O gosto pelas rodas levou-me a vencer o desafio da gravidade. Sou teimoso!



Ter ajuda facilitava? Claro que sim! E evitava algumas nódoas negras também! Como pode esta minha história de vida ser um exemplo pedagógico, no âmbito da educação?

É muito simples! A escola, os professores devem desenvolver atividades que sejam desafiadoras, considerando o gosto de cada aluno (motivações, interesses e capacidades), promovendo a autoaprendizagem (autorregulação). Existe aqui um elemento exclusivo do indivíduo que é a resiliência (a minha teimosia). Mas falta aqui acrescentar um elemento central e inerente ao processo de aprendizagem - a avaliação.

A propósito da avaliação, recordo aqui uma história que o professor Domingos Fernandes conta sobre o professor Sebastião da Gama. Estava Sebastião da Gama a propor um trabalho aos seus alunos, quando um deles pergunta «É para a avaliação?». A esta pergunta, o professor responde «Não! É para aprender!».

O título deste texto deve-se a esta história. Ter alguém a ajudar-me a aprender a andar de bicicleta poderia ter levado a que o processo fosse mais rápido e menos doloroso. Sobretudo se me fosse dito o que eu estava a fazer bem (e deveria manter) e o que estava a fazer mal (e como corrigir). Estou a referir-me à avaliação formativa.

Mas, e se esse «instrutor» me atribuísse constantemente, uma nota? Se me classificasse, de acordo com o que eu fazia ao longo desta aprendizagem, de forma constante. Será que aprendia da mesma maneira?Quero com isto dizer que a avaliação formativa ou avaliação para as aprendizagens é a ação fundamental para a aprendizagem dos nossos alunos. 

É fundamental mobilizar a informação recolhida ao longo do processo de aprendizagem para dar feedback ao aluno. Dizer o que está bem e o que pode ser melhorado. Então, todas as atividades a desenvolver devem servir o propósito da aprendizagem e não o propósito da avaliação. Recordando a história: «É para avaliar?, pergunta o aluno, «Não, é para aprender!», responde o professor».

Claro que, em contexto escolar, temos de traduzir as aprendizagens realizadas em classificações, quer sejam de final de período, quer sejam de final de ano ou ciclo. É também importante classificar noutros momentos sumativos, claro! Mas mesmo estas classificações podem ser mobilizadas para fins formativos.

Voltando à minha história da bicicleta, quando finalmente aprendi a andar, a autoavaliação do processo (ainda que espontânea) surgiu sob a forma de um pensamento, acompanhado por um elevado nível de satisfação pela conquista: «Viste como consegues? Pegaste no guiador, sentaste-te de forma correta, puseste os pés nos pedais e conseguiste pedalar ao mesmo tempo que te equilibravas. Depois de todos os esforços, cá está! Sabes andar de bicicleta. Agora podes melhorar!». 

E o passo seguinte foi aprender a fazer cavalinhos e derrapagens!

Vitor Bastos

quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

Será a relação avós-netos um porto de abrigo seguro?


Durante o confinamento avós e netos não coabitantes viram as suas casas encherem-se de saudades. Os netos mais pequeninos nem compreendiam a ausência dos avós, o que aumentava mais a mágoa de todos. A relação avós-netos tornou-se tema de muitas crónicas nos meios de comunicação social. E ainda bem! Tanto avós como netos beneficiam com a existência de um relacionamento frequente e saudável. As vantagens alargam-se aos pais das crianças.



- É verdade que os avós sentem mais saudades dos netos do que dos filhos? - perguntou a mãe de um adolescente a uma amiga, avó de um menino de pouco mais de um ano, quando se reencontraram após o confinamento. Estava incrédula e parecia até algo preocupada.

- Sim, foi o que senti. Mas não é possível comparar. O amor pelos filhos não diminui quando se lhe acrescenta o amor pelos netos – respondeu a amiga, procurando tranquilizá-la.

Durante o confinamento avós e netos não coabitantes viram as suas casas encherem-se de saudades. Os netos mais pequeninos nem compreendiam a ausência dos avós, o que aumentava mais a mágoa de todos. A relação avós-netos tornou-se tema de muitas crónicas nos meios de comunicação social. E ainda bem! Tanto avós como netos beneficiam com a existência de um relacionamento frequente e saudável. As vantagens alargam-se aos pais das crianças.

Do que sentiram com a impossibilidade de estarem com os netos durante o confinamento, falam vários escritores numa reportagem do jornal Público do dia 11 de maio: António e Isabel já viram os netos, Alice não vê a hora de os reencontrar.

O sorriso marca a cara dos avós quando pensam nos seus netos ou quando antecipam o momento do novo reencontro. Ir buscá-los à escola, ficar com eles enquanto os pais trabalham ou simplesmente almoçar com um neto já adolescente ou adulto são momentos de prazer correspondido que melhoram o bem-estar emocional de uns e outros. Avós e netos que convivem frequentemente beneficiam de uma rede social alargada a gerações mais distantes, com vantagens para todos. A competência de crianças e jovens para estabelecerem relações interpessoais com pessoas de diferentes níveis etários sai reforçada, a par com uma maior abertura e capacidade para se colocarem no lugar no outro. Quanto aos avós, têm uma melhor possibilidade de conhecer e compreender melhor a geração mais jovem. A nível cognitivo, as vantagens são, igualmente, mútuas: com uma sabedoria acumulada ao longo da vida, os avós podem, por exemplo, ajudar os netos a olhar para um qualquer problema de forma mais abrangente e com um repertório de estratégias de resolução mais diversificado; os netos, por seu turno, poderão, eventualmente, ajudar os avós a lidar melhor com as novas tecnologias. As histórias de vida e da família que os avós não se cansam de contar aos netos dão a estes um enraizamento mais sólido da sua identidade familiar, além de reforçarem os laços de afeto e de constituírem um inestimável acervo de memórias. Os desafios colocados pelo relacionamento com os netos promovem, nos avós, uma estimulação cognitiva bastante protetora das suas capacidades intelectuais.

Mas não são só avós e netos os beneficiários da relação entre ambos. Os pais que podem contar com o apoio dos avós para cuidarem dos seus filhos saem também a lucrar. Que o digam os pais que não precisam de se preocupar com o desfasamento entre o seu horário de trabalho e o horário da escola, ou os casais que gostam de sair de vez em quando e podem contar com os avós para ficarem com os seus filhos.

Finalmente, gostaria de ressalvar a necessidade de os avós respeitarem os princípios educativos dos pais e não quererem sobrepor-se a eles. Infelizmente as relações entre avós e netos ou entre avós e os pais dos netos não são sempre idílicas. As tentativas de sobreposição dos avós aos pais na educação dos netos encontram-se, muitas vezes, na base de conflitos que comprometem essas relações.

Dos seus avós, que considera que eram “heróis perfeitos”, diz Valter Hugo Mãe: “serão sempre o meu porto de abrigo” (In Serei sempre o teu abrigo, 2020, Porto Editora). Vou mais longe: os avós são um porto de abrigo seguro para os netos e os netos são um porto de abrigo seguro para os avós.

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ARMANDA ZENHAS
Professora aposentada. Doutora em Ciências da Educação pela Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto. Mestre em Educação, área de especialização em Formação Psicológica de Professores, pela Universidade do Minho. Autora de livros na área da educação.
Professora profissionalizada nos grupos 220 e 330. Licenciatura em Línguas e Literaturas Modernas, nas variantes de Estudos Portugueses e Ingleses e de Estudos Ingleses e Alemães, pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Professora profissionalizada do 1.º ciclo, pela Escola do Magistério Primário do Porto.