sexta-feira, 23 de setembro de 2022

Faltam professores?

 

Segundo li no jornal Público faltam 871 professores, o que significa 12 967 horas por preencher (60% nos distritos de Lisboa e Setúbal). A pergunta que coloco é esta: temos professores a menos ou sistema educativo a mais? 



A mais pela existência de uma política educativa que mantém o padrão organizacional do passado, os currículos densos, complexos e disparatados, os programas extensos e sem interligação, que privilegiam a manutenção de um conceito de "conhecimento fragmentado" (decompondo as partes, por disciplinas, quando a sociedade funciona na globalidade), que prefere a centralização de todos os processos, à abertura da Escola à comunidade (não há duas escolas iguais) e que assume a rotina em detrimento de uma escola que faça pensar. Significa isto que este sistema está morto, pois já nem consegue atrair jovens para o exercício da profissão docente! Não é, pois, de estranhar que a classe dos professores esteja cada vez mais envelhecida e desejosa de lá sair.

Esta sumária caracterização leva-me a questionar se faltariam professores se outro fosse o pensamento organizacional (a todos os níveis), curricular, programático e pedagógico? Estou em crer que não faltariam. Neste pressuposto, considero que o problema reside, não no número de professores, mas no pensamento sistémico do que se deve entender por verdadeira e consistente aprendizagem, no quadro de uma escola onde o professor assuma o papel de mediador e não de "debitador" de matéria. 

Por isto mesmo, a preocupante fragilidade relativamente ao cada vez menor número de alunos, deveria transformar-se numa oportunidade para gerar uma escola para o tempo que estamos a viver e para o futuro que fervilha à nossa frente. Há, portanto, uma nova mentalidade a implementar, que implica um novo caminho a percorrer. Ainda hoje, para salvaguardar o número de alunos sem as ditas "aulas" (conceito ultrapassadíssimo), o Ministro veio assumir a necessidade de um terço do recrutamento ser da iniciativa do próprio estabelecimento de aprendizagem. Porquê um terço? Isto é, descentralizam um pouco o recrutamento ("enquanto o pau vai e volta folgam as costas"), mas o funcionamento da Escola permanece rotineiramente igual. 

Paralelamente, não se pode ter professores com uma tabela salarial miserável face à responsabilidade que lhes é atribuída. O Público, este é um mero exemplo, destaca uma Professora de Alemão, Manuela Laginha, que preferiu emigrar para a Suíça (recrutamento aberto pelas escolas e municípios) a penar pelas estradas portuguesas com a "casa às costas". Lá, está a 12 minutos de casa e recebe € 9 223,00, o equivalente a Francos suíços que é de 8 900,00. Espantoso! 

Ilustração: Google Imagens.

quarta-feira, 21 de setembro de 2022

E por aí, alguém disse que a taxa de participação era de 50%!


Por
Facerbook

Olympikamente... os melhores resultados de sempre.

Eu, se nos últimos 20 anos tivesse sido durante mais de 12 responsável por várias organizações da cúpula do desporto nacional e um dos grandes, senão o maior, "influencer" das políticas públicas em matéria de desporto, perante os dados agora divulgados no relatório do Eurobarometer (2022), em vez de ter ido a Cuba em busca da "pedra filosofal", devolvia as condecorações e os "honoris causa" acumulados e, simplesmente, demitia-me.

No relatório do Eurobarometer relativo a 2017 a proporção de pessoas que se exercitavam ou praticavam desporto regularmente ou com alguma regularidade era maior na Finlândia (69%), Suécia (67%) e Dinamarca (63%).

Os países cujos entrevistados afirmavam nunca praticar qualquer atividade física ou desportiva eram a Bulgária, a Grécia e Portugal onde, em cada um deles, 68% cidadãos afirmou nunca se exercitar ou praticar desporto.

No relatório do Eurobarometer relativo a 2022, a proporção de pessoas que se exercitam ou praticam desporto regularmente ou com alguma regularidade é maior na Finlândia (71%), Luxemburgo (63%), Holanda (60%) e Dinamarca e Suécia (59% em ambos os países). Os países cujos entrevistados afirmam nunca praticar qualquer atividade física ou desportiva são Portugal (72%), Grécia (68%) e Polónia (65%).

Ficamos a aguardar o que é que os políticos dos vários partidos, que nos últimos vinte anos se deixaram ir no canto das sereias das medalhas olímpicas, têm a dizer sobre o descalabro nacional das políticas públicas em matéria de desporto do ensino ao alto rendimento.

Pode ser uma imagem de mapa e texto que diz "QB2R And how often do you engage in other physical activity such as cycling from one place to another, dancing. gardening, etc.? By other physical activity" we mean physical activity for recreational non-sport-related reasons. (%-Never) PT RO ES EU27 27 23 Map Legend 46-100 31-45 14-30 0-13 LT DE 18 15 14 13 13 HU RO BE BG NL FI SE Base: All Respondents (N=26,578)"


quinta-feira, 15 de setembro de 2022

Entre rotos e esfarrapados...


A propósito da contagem do tempo de serviço congelado aos professores, o Ministro fez umas declarações quanto a mim inócuas e, portanto, sem qualquer relevância política. Considero que não merecia contraponto. É daquelas situações que o Ministro deveria estar calado e o governante regional mudo. Mas não, o secretário resolveu ripostar: "(...) Nós entendemos que estas declarações, sendo completamente despropositadas, não deixam de ter também uma outra intenção que é a de encobrir aquilo que são as incompetências do Partido Socialista para governar a educação em Portugal", disse Jorge Carvalho, secretário da Educação, Ciência e Tecnologia da Madeira - Dnotícias, 14.09.2022.



A parte interessante, aqui sim, de natureza política está na passagem "(...) encobrir aquilo que são as incompetências do Partido Socialista para governar a educação em Portugal". Admitamos que sim. A questão é perceber as incompetências do Partido Social Democrata para governar a educação na Madeira. A questão reside aqui. No quadro da Autonomia Político-Administrativa, pergunta-se, então, que avanços foram proporcionados?

Estou completamente imune às questões partidárias. Como vulgarmente se diz, "por aí passei e por aí perdi o cabelo". Tenho convicções, obviamente que sim. Tenho leituras de processo, claro que sim. Como qualquer um outro português insulano. Sobretudo porque tento perceber e cruzar a informação dos vários dossiês. Mas não entro no despique inconsequente porque se esgota na espuma dos dias. Por isso, é caso para dizer que há qualquer coisa ali de roto e de esfarrapado!

Ainda há dias, li um desabafo de um professor que sublinhava o facto de, na Madeira, no sector educativo, nada restar que faça a diferença. Apenas foram "10 anos perdidos... como é possível? Já não é folclore é algo totalmente absurdo". Mas há muitas outras posições sobre o que a Região poderia ser em matéria de política educativa e aquilo que realmente é. No mínimo, eu diria que é uma cópia do Continente. Não é em vão, também na Educação, que se diz que a Assembleia é mais adaptativa do que legislativa. No leque das tais incompetências, vá lá, portanto saber-se quem ocupa o primeiro lugar!

O debate deveria centrar-se em matérias muito mais profundas. As de natureza estrutural, de pensamento, de aferição do que dizem e escrevem os grandes pedagogos e cientistas da actualidade (e não só) face ao mundo que está na frente dos nossos olhos. Constata-se a existência de um claro desfasamento, quase total e muito perigoso, entre a rotina do sistema que é proporcionada e a estabilidade e êxito da população em todos os sectores e áreas do desenvolvimento. Enquanto uns buscam a antecipação do futuro, outros amam o passado, idolatrando figuras e conceitos absolutamente desadequados. A universidade nada lhes deu. É caso para perguntar a quem interessa uma população distante, alienada, ignorante, pobre e dependente?


O futuro não se constrói com paleio, repetições, centralização de políticas abstrusas, intencionais perseguições e silenciamentos, distribuição de algumas benesses, controlo total da máquina e imposição de uma lógica de medo. Esse é o caminho do desastre colectivo. Que egoísmo por aí vai! Defender a imagem pública, puxar dos galões, manobrar por detrás do palco, ameaçar ou mandar ameaçar, comprar silêncios e muito mais, deixará uma indelével marca que só prejudicará a afirmação de uma Educação ao serviço do desenvolvimento. São os rotos a vangloriarem-se face aos esfarrapados!

Ilustração: Google Imagens.

quinta-feira, 8 de setembro de 2022

O folclore - "Repisa rapaz, repisa e torna a repisar..."

 

"Folclore" foi como o secretário da Educação do governo da Madeira caracterizou uma manifestação, no essencial, de chamada de atenção para os problemas, alguns muito graves, apontados pelo Sindicato de Professores da Madeira. Eu que liderei, durante dois mandatos, a mesa da assembleia geral de professores do SPM, fiquei estupefacto com aquela forma de caracterizar o importante trabalho de alerta e tentativa de correcção dos processos que aos professores dizem respeito. Participei em inúmeras reuniões de professores e nunca me apercebi de qualquer ausência de bom senso na análise dos temas em debate. Os professores sempre partiram do pressuposto que numa negociação todos perdem. Perde-se para que todos possam ganhar alguma coisa.



A resposta veio célere, educada e apropriada, através do Coordenador do Sindicato, Dr. Francisco Salgueiro Oliveira: "O folclore não vem da parte do sindicato nem dos professores. O sindicato denuncia aquilo que encontra nas escolas. O folclore fá-lo-á quem não reconhece a realidade das escolas e, para nós, não nos espanta que isso aconteça. A música que encontramos nas escolas é uma música que está claramente dita por esses colegas que rejeitam colocação na Madeira. É uma música que não é agradável (...)".

Transcrevo de um site (meusdicionários): "folclore é um termo proveniente do inglês, com a junção das palavras folk, cujo significado é povo, e lore, que tem o significado de conhecimento, de saber. A palavra foi usada pela primeira vez pelo arqueólogo William John Thomas, em 1846. Assim, entende-se como folclore o conjunto de tradições e manifestações populares, com todas as lendas, mitos, danças, costumes e provérbios de um povo, passadas oralmente de geração em geração". 

Em aproximação, parafraseando, eu diria que o saber do povo, leia-se professores, porque entendem que há que acabar com os mitos e as lendas passadas ao longo das últimas décadas por uma certa casta de políticos, decidiram, uma vez mais, juntar-se para alertar para os erros que o tal "folclore" apresenta no quadro de uma escola portadora de futuro. Erros estruturais de concepção e de atitudes que os tem levado, serenamente, mas contrariados, a dançar ao ritmo desajeitado do chefe (diferente de líder). Tenho por assumido que eles estão fartos de dançar o "baile pesado", curvados e com o nariz quase colado aos joelhos. Portanto, se há "folclore" na Educação, diz o Dr. Francisco Oliveira, não é da parte dos professores, tampouco de quem os representa, mas de quem tem tido a responsabilidade de conduzir o sistema educativo regional autónomo. É o que nos diz o "baile pesado" uma das quadras dita: "Repisa rapaz, repisa e torna a repisar (...)". O que corresponde a uma manifestação de desconsideração pelos professores.

Ademais e, finalmente, pergunto, quais são as linhas programáticas conhecidas, susceptíveis de uma mudança para uma escola de resposta às exigências do século que estamos a viver? Oficialmente, não existe. 

Ilustração: Google Imagens.

terça-feira, 6 de setembro de 2022

Regresso às aulas ou o regresso à rotina?

 

A pergunta tem a sua razão de ser. Não tolero a expressão "regresso às aulas", porque a aprendizagem é permanente, mesmo em tempo de pausa, mas sobretudo pela carga que ela transporta no quadro do sistema educativo; muito menos me conformo com a "rotina". Ambas, por múltiplas razões tantas vezes aqui equacionadas, constituem a antítese da escola que aos jovens deveria ser proporcionada, enquanto espaço de conhecimento significativo, como, por outro lado, traduz o oposto relativamente a um mundo que não se compraz com repetitivas atitudes tradicionais. De forma absurda e ininteligível, os políticos são capazes de olhar e até compreender a velocidade com que a ciência acontece, mas continuam a preferir encostar os olhos e o nariz numa parede. Ainda ontem, em contraponto, o Papa Francisco, numa entrevista na TVI, embora num outro contexto, alertava para a necessidade de "abrir a janela" para ver o mundo, digo eu, de oportunidades que os novos caminhos sugerem. Abram a janela, disse! Escancarem a janela.



Ora, o tal regresso às aulas corresponde à janela fechada. É o regresso à turma, aos currículos, à "liturgia" programática, ao condicionamento do pensamento através do manual, à segmentação da aprendizagem por disciplinas, logo, sem interligação consistente entre elas e muito menos com a vida, à imposição do que os adultos entendem como importante, à matança de talentos, porque não se respeita a vocação, o regresso ao débito das matérias, aos testes, à nota e ao exame. É isto que configura o "regresso", palavra que significa "retorno à circunstância inicial". Uma escola assim corresponde a salas vazias de significado.

Aos que seguem a leitura deste texto, obviamente que é legítima uma pergunta: então, existirá outro formato de escola? Respondo: existem muitos, mesmo em Portugal, basta que os estudemos. O que tenho por adquirido é que o "modelo português" (trata-se, de facto, de um modelo (estático) e não de um paradigma), ano após ano, afugenta da escola os alunos e os professores. Os primeiros assumem que é "uma seca", vendo nela mais obrigação do que utilidade, e os segundos, na generalidade, não encontram o momento de fazer um corte com a profissão que abraçaram e muitos amaram. Mais grave é que são poucos os jovens candidatos ao exercício da docência. Mesmo no actual sistema, a renovação dos quadros já é deficitária. O retrato da situação é público e notório.

E não é preciso ir lá fora copiar um qualquer paradigma de escola, porque a solução está cá dentro. Há que olhar, obviamente que sim, para aquilo que outros fazem e de forma consequente, há que reflectir e produzir pensamento a partir de experiências vividas, mas sempre com a preocupação de fugir à tentação de criar um "modelo nacional" desadequado das inúmeras circunstâncias caracterizadoras do povo português. 

Ademais, os estabelecimentos de aprendizagem precisam de uma completa autonomia, de gerar a diferenciação entre eles e de deixarem de vez a trela política centralizadora.

Hoje, estamos perante um "cocktail" explosivo de graves consequências para o futuro colectivo. Os penosos resultados desta cega política estão a caminho. Aliás, já são sensíveis e devastadores os sinais em todos os sectores e áreas da sociedade. Cinquenta anos depois de Abril tudo continua estruturalmente igual, apenas com alguns enfeites e muita propaganda balofa. Para quem decide, face às configurações da IV Revolução Industrial, basta responder com os enquadramentos que provêm da I Revolução Industrial. Pergunto, será que ninguém dá conta que estamos a preparar para empregos que não vão existir e, pior ainda, estamos a gerar uma grave carência de especialistas em variadíssimos espaços profissionais? Ainda ontem, cruzei-me com um empresário que foi claro: "preciso de colaboradores que saibam do ramo a que me dedico. Não encontro". Ele não me falou de habilitações académicas, falou-me de pessoas com talento e capacidade profissional. Ora, concluo, há um evidente divórcio entre as duas faces do problema.

Depois, com uma gritante facilidade, oiço por aí frases do tipo: geração de malandros, não querem trabalhar, vivem dos subsídios, eu sei lá o que tenho escutado. Desabafos que caracterizam a situação actual, mas que ficam pela superficialidade, distante da causa dos problemas. E na causa está a estrutura da sociedade em todos os aspectos, a mentalidade enraizada por anos a fio de encolher de ombros, a ausência de rigor e de uma escola desadequada da realidade. Ninguém se questiona para onde vai, ninguém apresenta uma preocupação de sentido prospectivo, trazendo ao presente o futuro que é desenhável. E como quadros iguais resultam em respostas iguais, ninguém espere amanhã outros resultados que não os de hoje.

Preocupam-se, apenas, e este é um mero exemplo local, que este ano o sistema terá menos 800 alunos (como se martelam as estatísticas!), que os professores estão colocados (!), as salas preparadas, os diversos serviços em funcionamento, os apoios garantidos e pronto, tal qual na fábrica, as portas abrirão às 08:00 e encerrarão ao anoitecer. Pobre escola esta! Os de plantão, no topo da hierarquia política, vão-se entretendo na propaganda e nas palavras rotineiras para enganar tolos. Sem qualquer vergonha, dirão, dentro de dias, que as "aulas" recomeçaram dentro "da normalidade". Pois... o que interessa é a eleição seguinte e não a geração seguinte.

Ilustração: Google Imagens