quinta-feira, 31 de maio de 2018

AVALIAÇÃO E APRENDIZAGEM


A avaliação externa criou uma obsessão pelos rankings e validou a utilização da classificação, como forma preferencial de avaliação dos alunos. O que é o oposto do que se passa na Finlândia, onde não existem exames, o modelo de currículo é mais flexível, existe maior versatilidade e diversificação dos métodos de avaliação, autonomia curricular e pedagógica. Desta forma, consegue-se de facto promover a aprendizagem, o desenvolvimento contínuo e a equidade educativa.


Avaliar, testar, examinar, aferir, ensinar, aprender… Contrariamente ao expectável, a maioria de nós assume que as últimas duas palavras não se relacionam com as que as antecedem. Contrariamente ao desejável, os nossos sentimentos e atitudes mudam com as primeiras e últimas palavras. Contrariamente ao que é um facto, a avaliação é subjetiva e não objetiva.
O objeto da avaliação é a aprendizagem dos alunos, mas as práticas da escola divergem deste fim. Segundo o Decreto-Lei n.º 17/2016, “A avaliação constitui um processo regulador do ensino e da aprendizagem, que orienta o percurso escolar dos alunos e certifica as aprendizagens desenvolvidas (…) tem por objetivo central a melhoria do ensino e da aprendizagem baseada num processo contínuo de intervenção pedagógica.”
Se, de acordo com a legislação em vigor, a avaliação deve servir de regulador do ensino, então é óbvio que avaliar deve estar intrinsecamente relacionado com ensinar e aprender. A avaliação deve ser vista como uma ferramenta pedagógica, um contributo para a aprendizagem e não apenas uma ferramenta de classificação. No entanto, a prática mais comum é a uma avaliação sumativa da aprendizagem com recurso a testes ou exames. Esta abordagem é causa da frequente relação frágil e conflituosa entre alunos e professores.
Já a avaliação formativa, ou uma avaliação para as aprendizagens, é a que mais favorece a aprendizagem e o sucesso escolar. Existem estudos que mostram o potencial deste tipo de avaliação para diminuir a discrepância entre classes sociais, económicas e culturais. E é este o objetivo de uma escola inclusiva, diminuir as diferenças, equiparar as oportunidades, favorecer o sucesso de todos.
Recentemente, foi atribuído o Global Teacher Prize 2018 à professora Andria Zafirakou, que, em relação à sua escola, afirmou: “Aquilo que a torna melhor (…) é o facto de não nos focarmos meramente na dimensão académica do desenvolvimento educativo dos alunos. Não somos uma fábrica, não temos a ambição de preparar em massa alunos para que consigam responder a questões de exame.” Pode ser que as suas práticas sejam inspiradoras para outras escolas.
É curioso que a vencedora deste prémio seja professora de artes, uma área pouco afetada pela avaliação baseada em testes e exames, será um acaso ou será um facilitador para uma abordagem de ensino e de avaliação diferente?
A investigação mostra que quanto maior a preocupação na avaliação externa mais as práticas de avaliação se cristalizam. Avalia-se o que é mais fácil avaliar (reprodução de conteúdos), em vez de avaliar o que foi realmente aprendido.
Os professores apontam vários fatores que dificultam a avaliação formativa, como a pressão para o cumprimento dos programas, a cultura dos números, associada à pressão da avaliação externa, entre outras.
Os instrumentos mais utilizados são os testes escritos, quando se deveria diversificar os meios e materiais de avaliação, pois seria a única forma de justamente avaliar todos os alunos, que nas suas diferenças conseguiriam, cada um, mostrar o seu conhecimento de forma diversa, permitindo, assim, ter sucesso. Mas persiste-se a utilizar maioritariamente os testes, com argumentos como “medem e avaliam melhor as aprendizagens; preparam e socializam os alunos para os exames; permitem uma menor décalage entre as classificações da avaliação interna e da avaliação externa; promovem o estudo e a aprendizagem; promovem a seriedade e a formalidade em todo o processo de avaliação; promovem a responsabilização dos alunos pelo seu processo de aprendizagem e sucesso escolar; e economizam tempo” (Flores, Alves, & Machado, 2017).
A avaliação externa criou uma obsessão pelos rankings e validou a utilização da classificação, como forma preferencial de avaliação dos alunos. O que é o oposto do que se passa na Finlândia, onde não existem exames, o modelo de currículo é mais flexível, existe maior versatilidade e diversificação dos métodos de avaliação, autonomia curricular e pedagógica. Desta forma, consegue-se de facto promover a aprendizagem, o desenvolvimento contínuo e a equidade educativa.
Desenganem-se as escolas e professores quando julgam que ao aplicar um teste estão a avaliar melhor, a ser mais objetivos. Pois os testes são subjetivos na sua natureza, desde a forma como são elaborados, até à forma como é feita a sua aplicação e classificação. A subjetividade não significa falta de rigor. A utilização de meios alternativos de avaliação pode garantir rigor através da utilização de instrumentos adequados aos conteúdos e contextos, aplicação de grelhas e registos das aprendizagens, das atitudes e valores dos alunos.
Outro aspeto frequentemente descurado na avaliação é o fornecimento de feedback aos alunos e pais sobre as aprendizagens realizadas. Não de forma quantitativa, que é pouco informativa, mas de forma qualitativa, que verdadeiramente permita aos alunos tomar consciência dos seus progressos e das áreas nas quais ainda precisam de praticar mais para conseguirem atingir o sucesso.
Concluindo, a avaliação tem assumido progressivamente uma maior relevância nas políticas educativas e curriculares, com impacto nas práticas de ensino e aprendizagem. Deve-se pensar na avaliação como um contributo para melhorar as aprendizagens dos alunos, não se deve dissociar a avaliação da aprendizagem e do ensino. Ao fazê-lo é possível que se altere a imagem do professor expositor, para professor mediador ou facilitador da aprendizagem, que vai fazendo adaptações de processos e de estratégias, para promover o sucesso, a inclusão.
Leonor Ribeiro
Técnica Superior de Educação Especial e Reabilitação no CADIn – Neurodesenvolvimento e Inclusão
Fonte: Público

segunda-feira, 28 de maio de 2018

A OBSESSÃO PELA AVALIAÇÃO

As escolas são todas diferentes, mas os exames são iguais para todos. Os públicos são distintos, as origens sociais diversas, os professores diferentes, as culturas locais díspares, como podem, então, os exames serem iguais para todos? É uma pergunta que desde há muito me intriga. Não apenas por isso, mas porque rejeito o conhecimento enciclopédico e defendo o pensamento crítico. De que interessa, hoje, a memorização e o domínio das respostas do manual, quando tudo muda no instante seguinte? Quando tudo se apresenta de forma complexa, integrada e quando as palavras de ordem constituem um misto de criatividade, inovação e competência?


Recentemente, li uma assertiva síntese de Alexandre Homem Cristo (Observador): "(...) Sem pensamento crítico ou capacidade para articular as diferentes informações, pouco distinguirá o jovem que conhece uma determinada data histórica daquele outro jovem que, em dois cliques, a descobriu pesquisando no Google (...)". A questão situa-se, portanto, entre a memorização sem sentido, a repetição exaustiva e cansativa e o PENSAMENTO CRÍTICO e interligado. O fulcro das mudanças no sistema educativo reside aqui, no completo desacerto entre as multi-respostas que a vida impõe e que exigem pensamento interligado, plasticidade e adaptabilidade e o quadro de referências, genericamente estático, salvo algumas excepções, que enforma o sistema de aprendizagem. E assim sendo, que sentido fará, em um mundo dominado pela tecnologia e pela informação, a sua utilização nos estabelecimentos de aprendizagem ainda seja, lamentavelmente, muito condicionada, senão impedida, quanto muito experimentalmente tolerada, facto que conduz à pergunta: qual o fundamento em perpectuar um sistema arcaico, obcecadamente, centrado na avaliação "do que é dado" e não no verdadeiro conhecimento? É óbvio que aquilo que é debitado para logo ser esquecido não traz no seu âmago qualquer pensamento crítico e aprendizagem. 
Ora, uma cultura de exigência e de conhecimento percorre, necessariamente, outros caminhos em qualquer área ou domínio. A descoberta do gosto pelo estudo, a sua dinâmica ao longo das etapas do crescimento, o interesse, o esforço e a dedicação, entre tantos outros factores, não se interiorizam e conquistam com repetido "paleio de cátedra", com palestrante de um lado, repetindo o manual, receptores do outro, mas como Albert Einstein sintetizou: "a única fonte de conhecimento é a experiência". Isto significa que quando apenas se avalia a memória, não é possível determinar de forma fiável as aprendizagens. Mas é essa a cultura dominante, entre professores e pais. As "notas" e os "níveis" estão doentiamente em tudo, do Português à Matemática, da Educação Física à Música, do ballet às academias disto e daquilo! Pior, ainda, do pré-escolar ao Ensino Básico, naquela etapa da vida onde as perguntas deveriam ser prioritárias às respostas.
Escrevo estas linhas quando o relógio marca 19:40 de Domingo, 27. Estou aqui, em um canto da sala, frente ao computador, para que não me esqueça de pensamentos que me assaltaram, depois de uma muito agradável festinha de anos de um dos meus netos. Os amigos de escola estiveram toda a tarde eufóricos, vivendo e convivendo. Uma mãe aproximou-se e despediu-se. Então, já vai? "Tenho de ir, porque ela ainda tem de rever "Estudo do Meio" para amanhã! Compreendi. Infelizmente. Apetecia-me dizer-lhe que o estudo (vivência) deste meio (o convívio) era, neste contexto, mais importante que a revisão do outro "Estudo do Meio". Enquanto um é irrepetível, o outro, a qualquer momento, repetir-se-á no dia-a-dia das experiências vividas. Para com os meus botões desabafei, que maldita avaliação de tudo que nem ao Domingo as deixa em paz! Isto, no dia que li um artigo de Leonor Ribeiro (Público): "(...) Desenganem-se as escolas e professores quando julgam que ao aplicar um teste estão a avaliar melhor, a ser mais objetivos. Pois os testes são subjetivos na sua natureza, desde a forma como são elaborados, até à forma como é feita a sua aplicação e classificação". 
Ora, avaliar, enquanto importante instrumento susceptível de provocar intencionais mudanças no processo pedagógico, de construção e de reconstrução, é uma coisa; outra, é esta obsessão despida de qualquer significado, como se o aluno fosse uma simples folha de Excel, onde se percorrem várias percentagens sumativas até chegar à determinação, subjectiva, de um nível ou nota. Como salientou Marta Darsi, a própria "acção de avaliar carece de avaliação para que a mesma se possa renovar, constantemente, diante das novas situações de aprendizagem". Por seu turno, Alonso et al. (1992) sintetizou: "ela deveria deixar de ser, quem merece uma avaliação positiva e quem não, para converter-se em, que ajuda precisa cada qual para seguir no processo de construção". Nesta perspectiva, a avaliação deveria tornar-se em instrumento de acção, para os professores e para os alunos, nunca uma forma de "medir" o que foi retido pela memorização descontextualizada e sem pensamento. Apenas mais um desabafo, na sequência de um artigo, de uma mãe condicionada pelo sistema e de uma aluna sujeita a uma escola sem pensamento! Porque, infelizmente, a cultura é a de estabelecimento de ensino e não a de estabelecimento de aprendizagem.
Ilustração: Google Imagens.

domingo, 27 de maio de 2018

NOVOS CURRÍCULOS. NÃO ME PARECE SENSATO.


"É oficial: a partir do próximo ano letivo a nota de Educação Física vai voltar a contar para a média de acesso ao ensino superior; o projeto de flexibilidade curricular vai ser alargado a todas as escolas que o desejarem (atualmente é seguido em 235) e vão existir novos currículos no ensino básico e secundário, com a criação de novas disciplinas e a aplicação, também em todas as escolas, das chamadas aprendizagens essenciais que vão substituir as metas curriculares aprovadas pelo anterior ministro Nuno Crato.


O diploma que introduz todas estas mudanças foi aprovado nesta quinta-feira em Conselho de Ministros, depois de ter estado em consulta pública em abril.
A nova lei, que começará por abranger os anos iniciais de cada ciclo (1.º, 5.º, 7.º e 10.º), vai também facilitar o acesso ao ensino superior aos alunos dos cursos profissionais, que passarão a ser obrigados a fazer só um exame nacional que funcione como prova de ingresso para o curso escolhido, sendo que a nota deste apenas contará para efeitos de acesso, não entrando no cálculo da média final do ensino secundário.
Em comunicado divulgado nesta quinta-feira, o Governo afirma que, com esta medida, “são eliminados os requisitos discriminatórios no acesso ao ensino superior para os alunos do ensino profissional”, que até agora estavam obrigados a fazer dois exames nacionais a disciplinas que não constavam dos seus planos curriculares.

Luz verde, apesar das críticas

Mas para o Conselho das Escolas, o organismo que representa os diretores junto do Ministério da Educação, estas novas formas de acesso irão criar novas "condições de manifesta desigualdade no acesso ao ensino superior". Razão: na fórmula de cálculo para o acesso a uma universidade ou politécnico a média final do secundário tem um peso de 50%. E a contribuição dos exames para esta média é relevante.
O comunicado do Conselho de Ministros destaca que o diploma agora aprovado vai introduzir, do 1.º ciclo ao secundário, uma nova componente de Cidadania e Desenvolvimento. No 2.º e 3.º ciclos esta é uma das três novas disciplinas inscritas nas matrizes curriculares, uma opção que o Conselho das Escolas também critica, num parecer aprovado este mês por 15 votos a favor e 12 contra, por considerar que daí resulta “uma maior e desnecessária fragmentação do currículo”.
Para o Governo, o novo diploma “representa mais um passo na concretização de uma política educativa que garanta a igualdade de oportunidades e promova o sucesso educativo”, vai “desenvolver nos alunos competências que lhes permitam questionar a sabedoria estabelecida” e levar a que as escolas possam “preparar as crianças para tecnologias não inventadas e a resolução de problemas que ainda se desconhecem”.
Fonte: Público
Blog: Incluso

NOTA

Sobre a questão da Educação Física voltar a contar para a média de acesso ao Ensino Superior, deixo aqui a minha posição. Sobre as restantes alterações, desde já, não me parecem sensatas: mais escola (mais disciplinas) não significa melhor escola (melhor conhecimento). Um assunto a regressar em breve. 

sábado, 19 de maio de 2018

PROFESSORES VIERAM PARA A RUA



Já o disse e repito: o actual secretário da Educação da Madeira conseguiu o improvável: trazer à memória dos professores a ex-ministra Maria de Lurdes Rodrigues, quando mais de cem mil disseram basta a algumas políticas. Ora, sentir-se dono da verdade é revoltante. Perseguir uma classe, pior, ainda. Propagandear umas medidas, mas não ter a coragem de assumi-las em documento, preto no branco, partilhado com os sindicatos, deixa um rasto de desconfiança. Tentar impedir e ameaçar um sindicato que divulgou a manifestação, constitui uma atitude antidemocrática. Finalmente, pela práxis, denunciar que não tem nenhuma ideia estrutural para o sistema educativo, preocupa e causa angústia. Portanto, os professores saíram à rua e deixaram um aviso. Fizeram bem!


quinta-feira, 17 de maio de 2018

FUTEBOL - UMA INDÚSTRIA CANIBAL


Raramente, muito raramente, escrevo sobre assuntos relacionados com o futebol profissional. E quando resolvo juntar umas palavras, mor das vezes, é no quadro de uma política educativa através do desporto. O resto, desde há muito, passa-me ao lado. Apenas observo. Pelo menos há trinta anos que não assisto, ao vivo, a uma partida de futebol. Refastelo-me no sofá, de quando em vez, para seguir um jogo de altíssimo rendimento, pela qualidade a todos os níveis. Desinteressei-me, talvez depois de ler um extraordinário artigo no Le Monde Diplomatique, assinado por Eduardo Galeano (1940/2015), a que deu o título: “Football, une industrie cannibale”. Desde esse tempo, premonitoriamente, o autor, antecipou aquilo que hoje corre debaixo dos nossos olhos de actores/espectadores: salários absolutamente pornográficos, corrupção de arrepiar os mais insensíveis, tráfico de influências, violência e até morte. Aprendi com o grande Mestre, o Filósofo do desporto, Manuel Sérgio, um dos maiores pensadores mundiais, que o desporto deveria ser “jogo, humor e festa”. Ora, essa pureza parece estar irremediavelmente perdida. 


O futebol profissional não é desporto. Existe, sim, uma modalidade desportiva (existem outras) que é utilizada com fins empresariais. As Sociedades Anónimas Desportivas pertencem ao domínio empresarial. Não confundamos, portanto, com os princípios que enformam a “Ode ao Desporto” de Pierre de Coubertin: "Ó Desporto, prazer dos Deuses! Essência da vida (...) Ó Desporto, tu és a beleza! És o arquitecto deste edifício que é o corpo, que pode tornar-se abjecto ou sublime, se degrada na vileza das paixões, ou saudavelmente se cultiva no esforço. (...) Ó Desporto, tu és a Justiça! A equidade perfeita, em vão perseguida pelos Homens nas instituições sociais (...) Ó Desporto, tu és a audácia! Todo o sentido do esforço muscular se resume numa única palavra: ousar. (...) Ó Desporto, tu és a Honra! Os títulos que tu conferes não têm qualquer valor se adquiridos por meios diferentes da lealdade absoluta. (...). Por aí fora. Portanto, não confundamos estes princípios com outras finalidades que consubstanciam a sua prática profissional. 
Tratando-se de uma indústria que fabrica exacerbadas paixões, ódios, fúria e espaços de comportamento irracional, aliás, basta ter presente, sobretudo nos encontros de risco elevado, as massas adeptas serem conduzidas pelas forças de segurança para dentro dos estádios, para concluir desse “canibalismo” que, grosso modo, tal indústria configura e potencia. Ora, o que aconteceu na Academia de Alcochete, que não é situação única no futebol por esse mundo fora, não é mais do que o corolário de uma construção, eu diria, com boa vontade, inconsciente, de múltiplos factores, desde a escola à comunicação social. De facto, entre nós, a Escola, genericamente, não tem despertado e não tem incutido o desporto para a vida, segundo valores humanistas, fundamentalmente pela sua organização, porque está presa no plano curricular a uma Educação Física que, ao querer ser tudo no plano pedagógico, acaba por deixar um rasto de desilusão; associado a isto, a comunicação social e o dirigismo. Todos os dias, são intermináveis horas, em quase todos os canais, de forma repetitiva, agressiva, doentia e muito pouco normal, painéis de comentadores, com dirigentes desportivos, ex-árbitros, jornalistas, empresários e até políticos que de tudo sabem, com intervenções que formatam frágeis consciências geradoras dos pressupostos da violência. Em alguns casos chega a ser degradante, tal a fúria demonstrada entre uns e outros. Até vejo gente com excesso de peso (!) que muito dificilmente são capazes de correr para uma paragem de autocarro, falando de “desporto” como se fossem exemplo de uma prática entendida, no mínimo, como bem cultural. Um paradoxo, que só ajuda a compreender o tal “canibalismo”. 
De que estávamos à espera? De um futebol vivido com paixão, com enorme entusiasmo, mas com moderação e respeito? De um espectáculo vivido pela beleza do movimento, pela emoção, pela técnica e táctica? De uma competição séria, dirimida com audácia, ousadia, justiça, honra e absoluta lealdade? Dificilmente podíamos esperar um quadro destes. Pelo contrário. E quando ouço o primeiro-ministro falar da necessidade de uma nova “autoridade contra a violência” questiono-me, para quê? Já existe lei que chegue e são vários os organismos com essa missão e vocação. Daí que, o que falta é EDUCAR para os valores, o que falta é bom senso na generalidade dos órgãos de comunicação social. O que falta, mesmo no inalienável direito constitucional ao associativismo, é a existência de rastreio nos candidatos a dirigentes. Isto não significa que, por esta via, se eliminem todos os casos. A marginalidade andará sempre à espreita, mas estou certo que jamais atingirá a vergonha que está instalada. 
Regresso ao meu Amigo Doutor Manuel Sérgio: "(…) O interesse do capitalismo vigente é querer democratizar na medida em que quer vender. O desporto como mercadoria, a cultura como produto vendável, segundo as leis do mercado, é tudo quanto o capitalismo sabe de cultura e desporto (…)". Pensemos nisto em conjugação com a vergonha de Alcochete.

terça-feira, 15 de maio de 2018

PROFESSORES EM LUTA


Acabo de ler uma "Carta do Leitor" publicada na edição de hoje do DN-Madeira. Deixo aqui o registo.

"(...) é um grande mérito do Dr. Jorge Carvalho, ter conseguido algo que costuma ser muito difícil. Unir todos os sindicatos e todas as categorias de professores numa luta comum não é uma proeza ao alcance de qualquer um.


"Infelizmente continua o autismo e falta de bom senso político e humano do atual Secretário da Educação que com explicações cada vez mais elaboradas em discurso, mas totalmente vazias em conteúdo, leva a pensar se realmente acha que os professores da Madeira possuem falta de inteligência. Foi um ano em que se recusou a ouvir toda ou qualquer proposta relevante dos sindicatos, em que o termo negociação foi reduzido simplesmente à imposição de medidas altamente lesivas para todos os professores. E isto sim, é um grande mérito do Dr. Jorge Carvalho, ter conseguido algo que costuma ser muito difícil. Unir todos os sindicatos e todas as categorias de professores numa luta comum não é uma proeza ao alcance de qualquer um. E fazer isto num ano anterior a eleições é duma coragem de louvar. No próximo sábado à tarde, dia 19 de Maio, adivinha-se uma das maiores manifestações de sempre de professores na Madeira, e o Sr. Secretário parece preocupado com a mesma, visto que até um e-mail foi enviado às direções das escolas com instruções para se dificultar ou mesmo impedir a divulgação da manifestação no recinto escolar, algo absolutamente inédito até agora e nunca ousado pelo seus anteriores colegas. Porquê tem medo desta manifestação, Sr. Secretário? Tem medo que os seus colegas de governo e o seu presidente comecem a achar que realmente algo vai muito mal no rumo que traçou para a Educação e no diploma que inventou para o próximo ano? Que se calhar arrisca-se a ser o principal carrasco do PSD nas próximas eleições? Colegas, chegou o momento de mostramos a nossa força. Todos temos motivos para estarmos presentes na manifestação. Aos professores de quadro, especialmente os de zona pedagógica, o que vem aí é muito mau, uma zona única, possibilidade de dar aulas em várias escolas diferentes, possibilidade de ir para uma reserva de recrutamento a que se seguirão os horários zero e o despedimento. Até lá, serão p au para toda a obra e um motivo para despedir os colegas contratados. Um total desrespeito pelos muitos anos de serviço dados à educação na ilha. Aos colegas contratados, o que vem aí é muito pior. Serão os únicos professores do território nacional a não vincular após três anos consecutivos, tratados como portugueses de segunda e com um muito provável corte de vínculo para evitar que atinjam os já imorais 5 anos consecutivos exigidos pelo Sr. Secretário. E isto apesar de na sua esmagadora maioria serem professores com muito mais do que 5 anos dados ao ensino na Madeira, vão continuar em situação precária em clara injustiça em relação aos colegas do Continente e dos Açores. Será isto sequer legal? No dia 19 de maio, tenho esperança que vamos mostrar ao Sr. Presidente do Governo que somos uma voz a ser ouvida, que não nos resignamos, que escolheu a pessoa errada para decidir os nossos destinos, uma pessoa que indispôs toda a gente contra ele, que não sabe negociar , não pode continuar à frente da Educação e que é preciso voltar a rever e corrigir o que está muito mal neste diploma. Apelo também a todos os partidos políticos que possam aparecer na manifestação para demonstrar apoio e nos ouvir. A vossa presença mostraria a importância de se respeitar aqueles que dão muito de si para educar as novas gerações. Somos todos necessários para uma educação melhor, para uma Madeira melhor. Não somos descartáveis. Dia 19 de Maio, eu estarei lá! E tu?"
Carla Santos

quarta-feira, 9 de maio de 2018

SECRETÁRIO REGIONAL DA EDUCAÇÃO EM MAUS LENÇÓIS


Carta do Leitor, publicada na edição de hoje do DN-Madeira.

"Temos sido inundados na comunicação social com a grande polémica (nada consensual ao contrário do que alguém quis fazer passar no conselho de governo) sobre o concurso de professores engendrado pelo Sr.Secretario e seus tenebrosos diretores. 


Faz-me imensa confusão que aproximando-se as eleições e com as tendências desfavoráveis para o partido no poder (ainda mais que o principal rival é um professor), o Sr. Presidente do governo permita que se faça um dos maiores ataques de sempre fl à classe docente da Madeira. Não houve negociação com os sindicatos, nao houve cedências,, impuseram tudo o que quiseram, mentiram à comunicação social (e talvez a outras pessoas do próprio Conselho de Governo) e arriscam-se a ser os principais coveiros do PSD nas próximas eleições. Este concurso lesa gravemente todos os professores (desde quadros de escola até aos contratados.) Pede-se opinião aos sindicatos sobre zonas pedagógicas mas ignora-se completamente os pareceres dos mesmos. Ataca-se a estabilidade familiar e económica dos professores de quadro e num dos maiores exemplos de ingratidão prepara-se novo corte de vínculo de centenas de professores contratados, que deram 15, 12 e 10 anos da sua vida à Região, impedindo uma justa vinculação aos 3 anos como no resto do território nacional e “cozinhando” uma vinculação extraordinária com regras sem qualquer critério lógico, feitas a dedo para que apenas 10 sortudos (sabe-se lá quem são e quais os motivos para terem esse “Euromilhões”) vinculem este ano nos quadros. Dr. Miguel Alburquerque, some 6 mil professores aos seus familiares e amigos e tem no mínimo uns 15 mil votos em disputa. Pode dar-se ao luxo de arriscá-los à conta do seu Secretário numas eleições que se prevêem disputadíssimas? Em 2014, aconteceu uma das maiores atrocidades contra professores contratados com outro Secretário (mas os mesmos capangas por trás) descaradamente a impedir centenas de merecidamente vincularem após 5 anos. Agora preparam novo golpe exatamente sobre estes mesmos professores que continuam a dar aulas (que necessidades temporárias estranhas!) ainda sem vincularem após mais de 10 anos ao serviço da Madeira. Sr. Presidente, não sei se está realmente ao corrente do que se passa ou anda a ser mal aconselhado mas garanto-lhe que o seu governo está a contas com o descontentamento de todos as categorias de professores (grande feito do seu Secretário que conseguiu uni-los numa luta comum). Não vá nas falinhas mansas. Se não acredita em mim, esteja atento à manifestação do dia 19 de Maio e tire suas conclusões. Ainda há tempo de minimizar estragos.
Ana Dias