quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Conversa entre avô e neto



Avô, diz-me lá o que pensas sobre isto: eu sei que não defendes que os professores façam testes, mas eles existem, ok? Sim. Defendo a avaliação mas não nestes moldes, porque aprender, como tantas vezes te digo, é muito mais do que repetir, decorar e debitar em uma folha de papel para logo esquecer. Mas diz lá, adiantei. Sabes, avô, não entendo como é que nos pedem a "interpretação de um texto", com várias perguntas, quando o que está em causa é a "compreensão ou o significado de alguma coisa". E a minha compreensão pode ser distinta da dos professores. Retorqui: o que me estás a dizer é que dentro de parâmetros aceitáveis, a tua leitura do texto possa não ser idêntica àquela que o professor espera ler como resposta. Quase nem me deixou acabar: não, não se trata de inventar, nem de face a alhos eu responder bugalhos. Pois, percebo, o que me queres dizer é que a compreensão exige a predisposição para o outro aceitar e respeitar a diversidade de opiniões. E eu não sendo dessa área de estudo, julgo que a compreensão se situa na análise (decodificação) ao que está escrito, portanto, a análise pode ser diversa, enquanto que a interpretação remete-nos para a conclusão. Avô, é como estar frente a uma pintura cuja compreensão fica muitas vezes na capacidade e olhar de cada um. Por isso, julgo que não devo dar as respostas que o professor entende como certas. Pois, meu querido, isso é muito complicado. O avô gosta muito de ler um Professor brasileiro, já falecido, Rubem Alves, que um dia disse: "para o burocrata o que interessa é o que vem no relatório, não as crianças". E os professores são hoje mais burocratas que professores. A escola não está organizada para fazer pensar e permitir a compreensão dos fenómenos, mas para dar respostas certas na idade das perguntas. E tu acabaste de me fazer uma pergunta. O Cardeal Tolentino Mendonça, sabes quem é, escreveu que "estamos muito preocupados com as respostas, quando o que nos salva são as perguntas". Estás no caminho certo. Aprendi contigo, porque nunca me tinha passado isso pela cabeça!   

domingo, 24 de novembro de 2019

A simplificação da Escola, precisa-se!


Por SOFIA CANHA 
Dnotícias
24 NOV 2019 

Os conselhos executivos e direções escolares estão envoltos em papéis

Sofia Canha

A Escola é constituída por dois principais grupos de atores: Alunos e Professores, tendo por guião de atuação os programas definidos e por base o currículo formal e o informal. Todas as estruturas à volta devem servir para facilitar as aprendizagens, começando na administração escolar e acabando nos encarregados de educação.
O que se verifica não é isso. Por motivos enraizados numa cultura burocrática, como a portuguesa, é difícil contrair o paradigma vigente. Pior, numa era tecnológica, em vez de se simplificar os processos e práticas administrativas, cada vez mais se complexificam e vão desviando o principal enfoque da Escola. Em comparação (se é comparável) uma escola com 800 alunos, terá 10 a 12 assistentes técnicos, na Madeira; uma escola na Holanda com o mesmo número de alunos tem apenas um. E acreditem que os assistentes técnicos, cá, não brincam, têm muito trabalho administrativo.
As aprendizagens deixaram de ser a principal preocupação dos agentes escolares. Agora são os resultados e a avaliação que mais interessam.
Os encarregados de educação tiveram de acompanhar a nova terminologia escolar e aprender a interpretar um sem número de tabelas de avaliação, em cada disciplina e os diferentes parâmetros avaliativos.

Os professores, por sua vez, têm de preencher mil e uma tabelas de avaliação contínua para expressar os resultados dos conteúdos programáticos, das atitudes e valores e das competências, elaboram programas e projetos para tudo e mais alguma coisa, relatórios, reuniões, etc, em vez de se ocuparem na preparação dos conteúdos e sua abordagem pedagógica e respetiva avaliação contínua e sumativa dos alunos.

Os conselhos executivos e direções escolares estão envoltos em papéis, legislação e processos, também mais preocupados com a gestão do estabelecimento e a avaliação, que os professores apresentam resultantes da sua atividade cada vez mais condicionada. Entretanto, deixam de ter disponibilidade para o mais importante: os alunos. Pois, mas os bons resultados, independentemente das condições para exercerem as suas funções, têm sempre de aparecer e exige-se que sejam cada vez melhores. Estabelecem-se metas de resultado irrealistas independentemente do sucesso ou insucesso dos processos.
Os alunos ficam, com tudo isto, secundarizados. E desculpem, mas reconhecer o mérito de 5% dos alunos, em cerimónias públicas não são argumento para contrariar a realidade.
Temos então Alunos e Professores no meio deste turbilhão administrativo e os encarregados de educação ficam de fora a olhar e com pouca margem para mudar o estado de coisas.
Simplifiquem a Escola, por favor. Deem condições aos alunos e professores para aprender e ensinar. Voltemos ao essencial; não ao currículo mínimo, mas sim a uma Escola simples e rica em diversidade, centrada nas aprendizagens. Podemos diversificar, sem complicar.

quinta-feira, 21 de novembro de 2019

Quando faltam espelhos...

FACTO

“Só é possível estarmos hoje aqui e termos estudantes a assumir este papel, porque estamos numa sociedade e numa escola onde a democracia impera (...)" - Secretário Regional da Educação, no acto de posse de uma Associação de Estudantes. Fonte: DIÁRIO.

COMENTÁRIO

"(...) Onde a democracia impera (...)". Acredito que sim, naquela escola e, provavelmente, não em muitas outras. Como é evidente, o secretário regional da Educação sabe que a democracia não se esgota nos actos eleitorais. E sabe também que existem muitas formas de a condicionar. E que existem, também, muitos apetites político-partidários. Recordo um político que uma vez disse, já neste tempo "democrático", que não descansava sem ter uma célula partidária por turma! Portanto, sobre "democracia" e jogos de poder, penso eu, estamos conversados. 
A questão agora é outra. Sou totalmente contra os poderes "duracell". Sejam eles quais forem. Aqueles poderes que se eternizam por todo o lado, inclusive, nas direcções dos estabelecimentos de aprendizagem. Fazem três, quatro, cinco, seis, sete mandatos e por aí fora e não deixam de ser alegadamente "democráticos". Mas a pergunta é esta: à semelhança de outros espaços de intervenção cívica, não deveria existir limitação do número de mandatos nas direcções das escolas?
Na minha opinião, sim, devia. Até o Presidente da República está limitado a dois mandatos. Por uma razão simples: pela não acomodação, pela não subserviência (existe tanta), pela autonomia dos estabelecimentos, pela criatividade e pela inovação. 
Não deixa de ser interessante a declaração do secretário, pois em uma escola (Curral das Freiras) cuja direcção foi democraticamente eleita (80% dos votos, s.e), mas com cujo resultado eleitoral o secretário parece não ter gostado, vinte e quadro horas depois o acto eleitoral não contou, a escola perdeu a sua autonomia, foi integrada em uma outra e ao presidente eleito, Professor Joaquim José Sousa, escarafuncharam e descobriram ninharias administrativas (uma delas ter enviado por e.mail os horários dos docentes, quando deveria ter remetido por carta!), levou com um processo disciplinar de onde resultou seis meses sem vencimento. Mas que democracia esta, pergunta-se, ou será que falar de democracia implica estar sempre submisso ao chefe?
Finalmente, que tal o secretário levar à Assembleia Legislativa uma proposta de Decreto Legislativo Regional para que a democracia funcione melhor nas escolas?
Ilustração: Google Imagens.

terça-feira, 19 de novembro de 2019

Que tipo de educação queremos?

Chumbos: desistir é que é fácil


Por 
Daniel Oliveira, 
in Expresso Diário, 18/11/2019

É quando fala de educação que a direita portuguesa mais sublinha a sua natureza reacionária. Funciona quase exclusivamente com base no preconceito e no senso-comum, recusando qualquer dado que lhe seja oferecido pelos estudiosos.


Criou mesmo uma carapaça – a que chama “eduquês” –, que a autoriza a não reconhecer qualquer autoridade científica que ponha em causa as suas certezas. Como sabemos, isto faz escola noutras áreas. Claro que não estou a dizer que os pedagogos e cientistas da educação carregam consigo a verdade. Estamos a falar de uma ciência social que se cruza com muitas convicções políticas e filosóficas.
Como dizia José Pacheco, fundador da Escola da Ponte, um projeto de escola é um projeto de sociedade. Mesmo – ou sobretudo – daqueles que a apresentam como politicamente neutra. Mas há coisas que ultrapassam isto. É o caso das retenções, que popularmente são chamadas “chumbos” – a deputada Cecília Meireles até com a utilização do termo rigoroso parece embirrar. Se faz questão em usar o calão, faço-lhe o favor.
O debate renasceu quando o Governo propôs, no seu programa, “criar um plano de não retenção no ensino básico, trabalhando de forma intensiva com os alunos que revelam mais dificuldades”. Qualquer pessoa de boa-fé percebe que ninguém quer acabar com os chumbos por decreto, apenas reforça que eles não são a forma “normal” de lidar com as dificuldades de aprendizagem.

Vamos aos factos sobre o nosso verdadeiro facilitismo. Somos o terceiro país da OCDE com mais retenções. 35% dos alunos até aos 15 anos reprovaram pelo menos uma vez, o que é uma brutalidade. Na OCDE anda por volta dos 13%. Em 15 anos de testes de PISA, os alunos portugueses subiram de forma extraordinária nos resultados em literacia científica, leitura e matemática. Estão melhores, portanto. E isso deve-se ao trabalho feito pela escola. O que não evoluiu o suficiente? As retenções, que estão nos antípodas dos países que estão à nossa frente. Apesar de se ter conseguido reduzir o número de retenções, pelo menos no ensino básico, nos últimos quatro anos. O que é sinal de um esforço coletivo.

Passar de ano sem saber o que se tinha de saber no ano anterior, pelo menos enquanto a escola continuar a funcionar no modelo que tem cerca de 200 anos e se mantém quase inalterado, é um erro. Porque são necessárias bases para avançar. Há quem use outros modelos, nunca ensinando tudo igual e ao mesmo tempo a alunos que são muito diferentes, mas deixemos isso para outra conversa. Fiquemos por isto: um aluno que não sabe somar não estará preparado para contas mais complexas, um aluno que lê mal não está preparado para compreender textos literários. Estamos todos de acordo. Perante um aluno que não está a acompanhar o ritmo de aprendizagem, há duas possibilidades: a fácil e a difícil.
A fácil é deixar andar as coisas e, no fim do ano, avaliar se o aluno aprendeu e mandá-lo repetir tudo outra vez, da mesma forma, até ele decidir perceber. Usando um termo técnico, chamaria “idiota” a esta estratégia. Porque ela parte do princípio que o aluno não aprendeu porque não quis. E que se for castigado, ouvindo tudo o que já ouviu e passando a estudar com outros miúdos mais novos do que ele, acabará por aprender. Para quem tanto pede que se use o senso-comum, não seria mau socorrer-se dele agora. Compreendo porque há muita gente que se conforma com esta solução e tem resistido a tutorias e várias alternativas de intervir aos primeiros sinais de dificuldade, com bons resultados em muitas escolas. A escola em que o chumbo é a resposta é facilitista. Basta um mero ato administrativo e o problema fica resolvido. Ou fica para outros resolverem.

Basta olhar para a distribuição regional e social dos chumbos para perceber que a escola ainda não conseguiu contrariar a origem dos alunos. Partindo do princípio que os alunos mais pobres e do interior não são mais preguiçosos ou menos inteligentes, foi ela, no seu conjunto, que falhou, avaliando o que recebeu — e não o que fez com o que recebeu.

Ser exigente com os alunos sem ser exigente com a escola não é ter cultura de exigência alguma. Por isso, o caminho difícil obriga os educadores a estarem atentos e a definirem, antes do ato administrativo de chumbar um aluno, uma estratégia para que isso não aconteça. Percebendo que as coisas não estão a correr como deviam, não se continua em frente como se nada fosse. O objetivo é passar o aluno porque o objetivo é que ele aprenda antes de ficar para trás. Para que ele continue ao ritmo normal, estudando com crianças e jovens da sua idade e que conhece. O que passa por a escola se concentrar mais nele, mudando estratégias que não estão a resultar. Esta é a escola exigente. Exigente com o aluno, porque o obriga a tentar fazer as coisas de forma diferente. Exigente consigo mesma, porque não substitui o ato de ensinar pelo mero ato burocrático de avaliar.
Dirão que a escola que temos não está preparada para esse esforço com resultados verdadeiramente eficazes. Ou até que alguns professores não o conseguem fazer. Então é só esse o debate. Assim como não nos passa pela cabeça dizer que se deve deixar morrer doentes porque os hospitais não têm meios. Se isso acontece, concentramo-nos nos meios que temos de dar aos hospitais para cumprirem a sua função, não propomos que se desista dos doentes.
Claro que todas as estratégias podem falhar. E é por isso que ninguém propõe acabar com as retenções (termo correto, porque descritivo), mas torná-las difíceis, para que a escola não a substitua pela sua verdadeira função. No fim, se nada funcionar, ela até pode ser eficaz. Por isso é uma última possibilidade. Excecional, por natureza. Mas para não ser um expediente, tem mesmo de ser a última. E o Estado deve dizê-lo e dar meios para que o seja.
O excesso de retenções ainda é causa e consequência de um falhanço. Consequência, porque nos diz que a escola não se esforçou o suficiente para as evitar. A incapacidade de aprender o que foi definido para miúdos de uma determinada idade com capacidades cognitivas medianas ou até baixas é responsabilidade da comunidade escolar, no seu conjunto. Causa, porque fazer um aluno repetir um ano, voltando a aprender tudo de novo com crianças mais novas, é péssimo para a qualidade do seu percurso de aprendizagem.

Um estudo do Banco de Portugal, realizado por Manuel Coutinho Pereira e Hugo Reis, confirma que o chumbo na fase inicial do trajeto educativo (até ao 6º ano) tem um efeito negativo, e não positivo, no percurso académico a longo prazo. Em geral, sobretudo nos primeiros anos, o aluno não segue mais sólido para a frente, segue em piores condições: “a retenção numa fase inicial da vida escolar - prática particularmente prevalecente em Portugal - parece ser prejudicial para o desempenho educativo no longo prazo. Desta forma, poderá́ haver vantagem em substituir, em parte, esta prática por programas alternativos de apoio.”

Reter um aluno deve ser considerado um gesto extremo, quando todas as outras estratégias falharam. Os números absurdos de retenções mostram que ainda não é o caso. Mostram, como diz a professora Lucília Salgado, que a opção pela retenção é massiva, porque está muito acima da maioria dos países com que nos comparamos, seletiva, porque atinge muito mais os alunos que vêm de famílias com menores qualificações, e precoce, porque começa logo nos primeiros anos, e é cumulativo, porque quem chumba tende a voltar a chumbar.
Infelizmente, quando se assiste a debates parlamentares sobre este tema, a demagogia é tal que se percebe que, para muitos deputados, é só mais uma oportunidade para sacar uns votos. Num tema onde não seria difícil construir consensos que nos continuassem a fazer evoluir. Sim, a evoluir. Porque a parte mais estúpida de todos estes debates é a forma como se negam as evidências estatísticas e da experiência: a escola é melhor hoje, as novas gerações estão mais bem preparadas. Mesmo que seja muito tentador falar dos bons velhos temos de exigência, esse reconfortante mito nacional. E o caminho é o que tem sido feito, não é um recuo para a máquina de chumbar que vigorava no tempo em que fui estudante.

sexta-feira, 15 de novembro de 2019

A cultura do chumbo é a cultura do facilitismo


RTP 3 - Notícias, edição de anteontem. O jornalista abordou a questão dos "chumbos zero" no Ensino Básico. A partir das posições assumidas no Parlamento por Rui Rio (PSD) e Cecília Meireles (CDS), relativamente às preocupações enunciadas no "Programa de Governo da República", acabou por questionar as "passagens administrativas", isto é, de alunos que não atingindo um nível satisfatório acabam por transitar de ano. O espaço de informação teve dois momentos sobre o mesmo assunto: primeiro, através da presença dos jornalistas comentadores, Luísa Meireles e Manuel Carvalho; depois, com João Teixeira Lopes (BE) e José Matos Correia (PSD). Curiosamente, todos convergentes na necessidade de travar os "chumbos" e de garantir uma assistência e acompanhamento precoce aos alunos que experimentam dificuldades.

Eu diria que os Deputados Rui Rio e Cecília Meireles ou não leram o programa de governo, ou seguem uma lógica de bota-abaixo político ou, ainda, não estão, minimamente, informados sobre uma escola para o tempo que estamos a viver. Bastaria que lessem o relatório do Conselho Nacional de Educação (2015), assumido pelo Doutor David Justino (PSD), curiosamente "assessor" do Deputado Rui Rio, onde é enaltecida "a manifesta ineficiência desta medida (retenção) para a melhoria do desempenho escolar" (...) e onde é defendida "uma mudança da cultura de retenção, para um investimento em programas contextualizados de combate ao insucesso e de melhoria das condições de ensino e aprendizagem".

Ora, a "cultura do chumbo" está enraizada e essa, do meu ponto de vista, corresponde à cultura do facilitismo na organização escolar. Não sabe, chumba, ponto final. Investir na criança e no jovem, desde o pré-escolar, dá muito trabalho, se dá! A "cultura do chumbo" é, por ausência de investimento correcto, deprimente no quadro, até, das desigualdades sociais. E há políticos que insistem na tecla errada, porque, repito, não estudam ou porque, demagogicamente, preferem seguir as convicções mais populares, muito distantes de um conhecimento cientificamente sustentado.

Entretanto, ontem, segui o "Eixo do Mal" (SIC) onde o mesmo tema esteve em debate. O jornalista Daniel Oliveira foi muito assertivo: "somos o País da OCDE com mais chumbos. 35% dos alunos até aos 15 anos chumbam, pelo menos, uma vez, quando a média da OCDE é de 13%". Para sustentar a sua posição, trouxe à colação a Professora Lucília Salgado que escreveu que os chumbos em Portugal "são massivos, selectivos, precoces e cumulativos". Ora, a ideia de uma hipotética "passagem administrativa" não tem sentido, porque esta não se decreta, quando em causa está, e bem, um investimento na criança e no jovem para que adquiram os conhecimentos considerados fundamentais. Obviamente que este caminho implica, necessariamente, a prazo, um criterioso e compaginado trabalho a montante da escola, nas famílias, uma reorganização do funcionamento da sociedade (horários de trabalho, entre muitos outros), número de alunos por estabelecimento de aprendizagem, substancial mudança ao nível dos currículos, dos programas, da organização da escola e da sua autonomia, uma profunda revisão dos conceitos de aula e de turma e, ainda, no quadro do paradigma pedagógico. Tenhamos presente que, hoje, não se forma, formata-se!
A este propósito li uma oportuníssima reflexão do Padre José Luís Rodrigues, que aqui deixo, porque, a partir dela podemos chegar, facilmente, a um novo conceito de estabelecimento de aprendizagem (não de ensino):

"Ninguém com bom senso nega que todos nós precisamos de espaços que nos iluminem, que nos instruam para as novidades e para todas as mudanças que vão ocorrendo na vida e no mundo. Porém, todas as vezes que oiço vozes insistir tanto em formação, concluo logo que se está a falar mais de formatação do que formação.

Toda a educação, formação e ou a singela transmissão de informação só se revela útil se preparar pessoas para a vida concreta. O que importa mesmo é que tenhamos bons cidadãos, comprometidos na luta pela justiça, cientes de que a transformação do mundo só se fará com uma séria militância pelos valores universais da igualdade, liberdade e fraternidade. E precisam as pessoas que lhe ofereçamos razões para terem esperança. Quase nada se fala nisto.

Toda a educação, catequese, preparação, formação... Entre outras coisas importantes preparara as pessoas para vida, se não tem como horizonte a diversificada e a multidisciplinariedade da existência nunca passará da inútil formatação. Tudo será mais rico quando se ensina para a autonomia, para a diversidade e para a abertura quotidiana à riqueza da novidade que a vida hoje nos oferece a toda a hora. Zero é o que interessa termos pessoas certinhas no cumprimento de ritualismos, mas pobres ou vazias quanto ao pensamento e abúlicas quanto ao dever de se expressarem perante o pulsar quotidiano da vida concreta.
Melhor para todos nós homens e mulheres livremente pensantes, mesmo que sejam poucos, do que multidões de gente que não pensa, mas faz os rituais todos certinhos." JLR

Nota
Texto publicado no blogue
www.gnose.eu

quarta-feira, 13 de novembro de 2019

Por uma escola aberta ao mundo



Vezes sem conta dou comigo a pensar se, tal como outros, não estarei a pregar no deserto. Por isso, consola-me escutar tantos que estudam, investigam e transmitem posicionamentos para um novo mundo que está aí ao virar da esquina. Lamento, por isso, não sei se por teimosia se por ignorância, o pensamento de políticos que preferem as rotinas do passado a traçar as linhas portadoras de futuro.

terça-feira, 12 de novembro de 2019

A Educação é a arma mais poderosa para mudar o mundo


Não é desvalorizando o professor, mantendo-o em rédea curta, descaradamente através da burocratização, gerando o medo e a incerteza, que se formam pessoas para a vida. Este vídeo foi-me remetido pela professora Tânia Fernandes. Vale a pena segui-lo.

sábado, 9 de novembro de 2019

POR UMA EDUCAÇÃO VIVIDA E CONTEXTUALIZADA



A verdadeira sala de aula é aquela que contextualiza a aprendizagem com a vida, vivência e convivência. Tudo é possível aprender. Olhar, ver, sentir, descobrir e cruzar transversalmente o conhecimento deverá constituir a prioridade da Educação. Decorar apenas para debitar com a ideia fixada na avaliação, NÃO. A Educação tem de ser vista pelo lado da cultura.
Ilustração: Ontem, registei estes quatro momentos. Na foto, em baixo à esquerda, um jovem divulga a informação que recolheu, com a professora sentada na primeira fila.

quinta-feira, 7 de novembro de 2019

E a Autonomia?




FACTO

"República deve assumir custos da Saúde e da Educação" - Título de uma peça jornalística do DN-Madeira sintetizando o programa do governo regional PSD/CDS.

COMENTÁRIO

Apenas algumas perguntas: estes dois sistemas não estão regionalizados? Quem paga, por norma, MANDA, daí o que restará da "Autonomia"? E se assim é (ou for) para quê dois secretários? Fará sentido continuar a alimentar, politicamente, guerras sem sentido, quando existem outras formas de atenuar os encargos dos dois sistemas? Passará pela cabeça de alguém que "eles pagam e nós mandamos"?
Para reflectir!

segunda-feira, 4 de novembro de 2019

Ocultar o grito dos/as professores/as


Por Laíz Vieira
Cartas do Leitor
DNotícias
04 Nov. 2019 


Mais de 70% dos professores e professoras sofre de exaustão emocional, uma das três características de ‘Burnout’, revelou Raquel Varela num estudo recente feito em Portugal.


Muitos de nós na nossa comunidade, ainda não sabem ou não querem saber, em que condições humilhantes a maioria dos/as professores/as tenta trabalhar nas escolas. Tentam trabalhar, com alunos/as de famílias problemáticas, sem motivação para aprender/evoluir, sem respeito pelos colegas ou pelos mais velhos, sem atitudes cívicas de convivialidade ou gentileza, onde o que impera são as satisfações imediatas ou de alienação, como usar o telemóvel...
Principalmente os que tem por volta de trinta ou mais anos de serviço, estão no limite das suas descrenças e capacidades. Faltas ao trabalho ou baixas médicas são sintomas que ninguém quer assumir como um pedido de socorro.

Não nos ouvimos uns aos outros. Alguns Órgãos de Gestão não ouvem nem protegem os seus docentes e funcionários. O importante é fazer obedecer e subjugar. Não há verdadeira equidade, participação e consequência democrática nas posições que só alguns tomam.

Não há efetivamente consequências, penalizações para quem desrespeita, agride ou insulta. Nem nas escolas nem na esfera da vida doméstica ou pública. Os/as alunos/as tem mais poder que os adultos!
Aos docentes tudo se lhes pede, desde as centenas de grelhas burocráticas (de pouco conteúdo ou consequência didática) a encontrar estratégias e receitas milagrosas para jovens desacompanhados pelos progenitores, sem estímulos culturais, emocionalmente imaturos, mimados e demasiado protegidos das dificuldades diárias da Vida.
Flexibilidade curricular, inclusão, desenvolvimento de competências para o perfil do aluno à saida da escolaridade?!.. Novas nomenclaturas e modismos para problemas e demagogias ou falácias antigas! Saiu-se de uma ditadura para entrar em outra, floreada de palavras cor-de-rosa.
A escolaridade é obrigatória por decreto, mas o saber, a evolução e o conhecimento não é uma exigência enraizada para os seus, nas famílias portuguesas! Só interessa os caminhos e soluções ‘aparentemente’ mais fáceis, o lucro e a ostentação. O valor da determinação, da coragem, do carácter, da auto-responsabilização e exigência não existe.

Também é verdade, que os/as alunos/as passam muito tempo na escola, com muita carga lectiva e tem pouco tempo para o lazer, para passear e socializar. Fecham-se dentro das casas e pouco se relacionam com a Natureza, com as circunstâncias sociais ou leis e dificuldades naturais da existência.

É preciso dar um BASTA a estas circunstâncias que de educativas e evolutivas têm muito pouco! É urgente e vital que os/as professores/as ou educadores/as possam ir para o seu lugar de trabalho com alegria e leveza fazer realmente o que lhes compete que é ajudar os jovens a evoluir, a se emanciparem e não irem com o sentimento depressivo de pesar e impotência. É grave, permitir que alguns jovens estejam na escola só de ‘corpo presente’, a passar por vários anos lectivos sem desenvolver competências, atitudes e conhecimentos que a Vida (a grande Mestra) de certeza lhes vai exigir.
Os jovens que agora estão na escola, são filhos daqueles que num passado recente, também estiveram na escola, mas não fizeram a maturação e evolução pretendida! Afinal quando se faz a mudança, quando deixam de se repetir ciclos antigos?!
O Estado Português gasta anualmente mais de 6.000 euros por cada aluno/a que frequenta o ensino público. Há mais de 8000 jovens em acolhimento residencial em Portugal, ou seja jovens retirados de famílias negligentes e tantos outros milhares assinalados pelas impotentes Comissões de Protecção de Crianças e Jovens.
E para finalizar para quando, a aprovação de uma Lei Regional, para o limite de mandatos, (no máximo dois) para os que estão (há demasiado tempo) nos Órgãos de Gestão das Escolas?!
Ilustração: Google Imagens.

sábado, 2 de novembro de 2019

É pena a Região Autónoma da Madeira estar paralisada!


"Há escolas que já conseguiram acabar com os chumbos". Alteraram as orientações pedagógicas, reorganizaram os currículos, turmas e calendários escolares. - Fonte: Semanário Expresso, edição 2453, 01.11.2019. Afinal, a "autonomia" anda pelo espaço continental, enquanto na Região Autónoma da Madeira preferem centralizar e perseguir com os resultados negativos que são públicos e notórios. O que fizeram à escola do Curral das Freiras e ao seu director é o exemplo mais evidente.


O objectivo centrou-se no "chumbo zero", o ministério abriu o caminho, as escolas reorganizaram-se e conseguiram. Através do "Projecto-Piloto de Inovação Pedagógica", no Agrupamento de Escolas do Freixo, em Ponto de Lima, há dois anos que nenhum aluno chumba no Ensino Básico. "Em Cristelo, Paredes, num agrupamento inserido num meio com sérias carências - 85% são apoiados pela acção social escolar - passou-se de taxas de insucesso de dois dígitos para zero no primeiro e segundo ciclos (...)". 

A liberdade curricular dada pelo ministério, "foi aproveitada para fazer uma revolução nos horários e na forma de trabalhar com os alunos" (...) "os alunos nem sempre estão na mesma turma, há semanas que não têm disciplinas, e há horas que articulam matérias, competências e atitudes (...).

"Criaram-se quatro áreas transversais que são trabalhadas por todos os anos de ensino ao longo de oito semanas, pela ordem que os alunos quiserem (...)". Na última semana de cada área "o horário escolar desaparece e o tempo é dedicado à apresentação de trabalhos, visitas e debates".
Dizem os responsáveis que "os alunos partem muito mais motivados e aprendem de forma significativa" (...) o paradigma "exige que sejam criativos, que pensem melhor, que falem mais e que resolvam problemas".
Uma curiosidade: "o director de turma deu lugar ao director do aluno". Segundo um estudo realizado junto dos mais de 4000 alunos do agrupamento, 70% dos alunos consideraram que as mudanças ajudaram a "aprender mais" e "mais facilmente".

Estou convicto que estes são, apenas, os primeiros passos de um processo. Tempos virão que, sobretudo no ensino básico, a partir de uma concepção genérica, os currículos, os programas e os paradigmas pedagógicos serão, totalmente, da responsabilidade de cada escola no quadro da sua autonomia. Simplesmente porque não existem duas escolas iguais, dois públicos iguais, dois grupos de professores exactamente iguais, pais e encarregados de educação iguais e enquadramentos sociais iguais. 

É na diversidade que podemos encontrar o sucesso e é respeitando um princípio de uma escola para cada um e não de uma escola para todos, que não devem existir estabelecimentos de ensino, mas estabelecimentos de aprendizagem, que tempos virão que a velha concepção de escola será derrubada.
Lamento que a Região da Madeira que grita pela Autonomia, continue aferrolhada em uma centralizadora e burocrática torre de marfim. Abram os olhos!
Ilustração: Google Imagens.