segunda-feira, 31 de julho de 2017

A BAIXA NATALIDADE E O SISTEMA EDUCATIVO


Os números são assustadores, apesar de se verificar uma ligeira tendência de recuperação. O tema natalidade é extremamente complexo, envolve muitas variáveis que não devem ser levianamente equacionadas. Confesso que não estou à vontade para tecer um comentário estruturado. Sei o que todos sabem: que o acesso universal à escolaridade e a concomitante entrada da mulher no mundo do trabalho, complementando, significativamente, as receitas familiares, não foi acompanhada de uma necessária reestruturação organizacional da sociedade e, particularmente, do mundo laboral. Trabalho, muitas vezes "escravo", determinado por objectivos a cumprir, conjugado com a precariedade, tornou-se sufocante e impeditivo da necessária confiança. Começou por aí. Depois, juntou-se o tempo de incerteza motivada pelas sucessivas crises de natureza económica. O tema é, portanto, apaixonante e merecia uma grande reflexão no sentido da inversão do saldo fisiológico. Não é, estou convencido, com esta ou aquela autarquia a facultarem € 100,00 por criança nascida que se altera uma questão estrutural.


Mas o que aqui me traz é um outro aspecto. Li, com merecida atenção, uma peça no DN-Madeira de hoje, assinada pelo jornalista João Filipe Pestana, que elenca os números de uma quebra de quase seis mil crianças, no primeiro ciclo de escolaridade, entre 2000/2001 e 2016/2017. O governo, perante estes dados, falou de "fusões" e de "reestruturações". Porém, questionado, não abordou duas questões que me parecem centrais: primeiro, que políticas pensa implementar no sentido da inversão deste quadro; segundo, que orientações serão tomadas para fazer desta "fraqueza" uma "oportunidade" no quadro de uma nova orientação estratégica do sistema educativo. O que pode significar que, no plano organizacional, curricular, programático e pedagógico, sobretudo no Ensino Básico, as mudanças continuarão a ser marginais, de roda do prato e não estruturantes e portadoras de futuro. Ora, quando tantas são as vozes, de investigadores a autores, que colocam em causa este sistema pobre, ineficaz, gerador de abandono e de insucesso (também por múltiplas razões), repetitivo, de cumprimento do manual, segmentado em disciplinas, fundamentado não no conhecimento relevante, mas na obsessão pela avaliação, esta poderia constituir uma grande oportunidade para perceber e implementar que há mais mundo para além dos muros da escola. 
Podem conceder à escola a possibilidade de 25% do currículo ser de sua iniciativa. Porém, não é isso que alterará o conceito de aprendizagem. A questão está na mentalidade dos professores no sentido da rejeição das características do actual sistema, está na organização interna, na aprendizagem por temas complexos, no trabalho não segmentado mas interligado, onde tudo tenha a ver com tudo, na aprendizagem que não impeça o questionamento ditado por razões de cumprimento dos programas. O conhecimento e o gosto pelo conhecimento estão muito para além do programa e do manual. Estas, entre muitas outras, deveriam estar na primeira linha das preocupações. Infelizmente, não estão.
Ilustração: Google Imagens.

terça-feira, 25 de julho de 2017

CUMPRIR A CONSTITUIÇÃO


"A despesa dos manuais, assumida pelo Estado, é uma forma de a escola pública ser aquilo que a Constituição determina que é: gratuita. E mais, desde 2012, que se impôs a reutilização para as crianças que beneficiam da acção social escolar, que são cerca de 400.000, ou seja, um terço. Se a reutilização é possível para estas crianças, então tem de ser possível para todas. Deixará de ser um anátema trabalhar num livro reutilizado. A certa altura, o que terá o novo é que será estranho. Para mim, esta é a diferença entre Estado social e assistencialista. O Estado social garante para todos, não é para os ricos ou para os pobres. O Estado assistencialista é o que providencia àqueles que precisam."

"Num restaurante ninguém garante quantos almoços serão servidos por mês. O Estado não tem obrigação de assegurar um determinado nível de vendas de livros escolares a um agente económico. Há um grau de incerteza, próprio do mercado livre".

Declarações de Alexandra Leitão, Secretária de Estado Adjunta e da Educação.

sábado, 22 de julho de 2017

CRIANÇAS INTELIGENTES E ADULTOS ESTÚPIDOS


Diverti-me com a crónica de António Lobo Antunes. Acabei de a ler. É um texto delicioso para quem reflecte sobre o sistema educativo e o que significam as palavras aprendizagem e vida. Ele traz à colação Alexandre Dumas: "Porque motivo há tantas crianças inteligentes e tantos adultos estúpidos?" Só pode ser por um problema de educação, conclui. Adianta Lobo Antunes: uma criança criativa é herética e subversiva e claro que isso assusta os professores que exigem dos alunos uma normalização que conduz, inevitavelmente, à mediocridade que tanto tranquiliza os pais. Queremos que os filhos tenham vidinhas, sejam tristemente independentes, consigam um bom casamento, uma, tanto quanto possível, boa casa, um ordenado simpático (...)


Não há nada mais que assuste as pessoas do que a criatividade, nada que as apavore mais do que a diferença. A sociedade necessita de medíocres que não ponham em questão princípios fundamentais (...) Os programas de  televisão são quase sempre miseráveis. E queremos que as nossas crianças se tornem adultos miseráveis também, o que para as pessoas em geral significa responsáveis. (...) Gostamos dos idiotas porque eles não nos colocam em causa. (...) Temos medo do novo, do diferente, do que incomoda o sossego. A criatividade foi sempre uma ameaça tremenda.(...) Há muitas crianças inteligentes e adultos estúpidos porque matamos o máximo de crianças quando elas começam a crescer (...)".

Entretanto, cruzo os excertos do texto de Lobo Antunes com uma peça jornalística publicada no Expresso, assinada por Isabel Leiria: "Em duas cadeiras do 2º ano da Faculdade de Medicina do Porto chumbaram 50% dos alunos. Há dois anos foram notícia por terem entrado no Ensino Superior com as classificações mais altas do país. O aluno mais ‘fraco’ entre os 245 caloiros da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) ingressou com 18,67 valores de média. Este ano, a notícia é outra. Muitos acabaram por ser surpreendidos com as primeiras negativas do percurso escolar e com notas a que não estavam habituados. Em várias cadeiras, a média ficou nos 10 valores ou menos. A Morfofisiologia Integrativa e a Morfofisiologia dos Sistemas Respiratório e Urinário vários exames foram corridos a 6, 7 e 8 valores. E nestas duas unidades curriculares (são seis disciplinas ao todo no 2º semestre), as taxas de não conclusão foram de 53% e 48%, respetivamente."

O que será que tem a ver o texto de Lobo Antunes com os exames de Medicina, com o sistema educativo, com a aprendizagem relevante, com os alunos tidos por excepcionais, com a criatividade e a "morte" do pensamento ao longo do crescimento? Talvez seja a estupidez dos adultos, digo eu.
Ilustração: Google Imagens.

quarta-feira, 19 de julho de 2017

E AGORA? UM GAP YEAR?

EDUCAÇÃO

O ano letivo está no fim. Na ordem do dia estão as malas para férias, mas também decisões variáveis conforme o escalão etário e o nível de ensino terminado. Que curso escolher? Que escola escolher? O que fazer a seguir? E se parasse um ano?


Paremos nesta pergunta. Desta questão, muitas vezes surgida como um pensamento que se esfuma com maior ou menor rapidez, decorrem, noutros casos, decisões de parar mesmo um ano. É o gap year, um conceito com uma história longa noutros países, mas mais recente em Portugal. Traduzido à letra, este conceito teria a designação de “ano de intervalo”, correspondendo também à denominação de “licença sabática”, que consiste num direito de que podem beneficiar diversas classes profissionais.
Centremo-nos na faixa etária jovem e nas transições entre o Ensino Secundário e o próximo nível de ensino; entre cada um dos ciclos universitários; entre o fim dos estudos e o início da vida profissional. Nesta faixa etária podemos ainda pensar noutras situações a exigir reflexão (de menor ou maior duração, com maior ou menor exploração); aponto um exemplo: a tomada da consciência de que não se gosta do curso em que se ingressou. Em todos estes momentos da vida, já com a resposta na ponta da língua ou sem nenhuma em perspetiva, surge a pergunta: E agora?
O gap year pode ser uma (boa) opção. Jamais aconselharia um jovem a enveredar por uma tal paragem sem um projeto, apenas por ócio ou inércia de tomar decisões. Esta paragem deve ser promotora de crescimento pessoal em diversas dimensões, carecendo, por isso, de um projeto.
Viajar e/ou fazer experiências profissionais são duas formas diferentes e enriquecedoras de ocupar um gap year.
Pode-se viajar (apenas) com intuitos turísticos, para conhecer outros povos, outras culturas, outras línguas. Abrem-se horizontes culturais, sociais, mentais. Aprende-se História. Relativiza-se o que se pode, até aí, ter dado como garantido, como, por exemplo, a ideia errada de que a nossa cultura é a cultura, passando-se a compreender, na prática, que a nossa cultura é apenas uma cultura entre tantas outras de igual valor.
Pode-se viajar para uma ou várias zonas do Mundo selecionadas para nelas integrar equipas que desenvolvem trabalho voluntário (as ONG atuam nessas áreas), que pode estar relacionado com a área de interesse profissional do jovem em questão, seja o ambiente, a saúde, a educação, entre muitas outras.
A realização de experiências profissionais pode passar por uma experimentação de uma ou várias atividades, nomeadamente sob a forma de estágios. Podendo ser feito dentro de portas portuguesas, um gap year deste género pode igualmente ter lugar noutros países.
Quando se faz um bom plano para o gap year, tudo está criado para que, no final, o jovem saia enriquecido e mais capaz de decidir e enfrentar o seu futuro, seja qual for a opção seguinte.
Em Portugal existe uma organização, a Associação Gap Year Portugal (AGYP), que, sem fins lucrativos, apoia os jovens que desejam fazer esse ano de paragem. Na sua página existem muitas informações de grande utilidade para conhecer e, eventualmente, preparar o gap year, de que destaco: sugestões de atividades, quais as vantagens do ano de paragem, como o preparar, como o custear, como viajar com segurança, orientação na elaboração de um plano, possibilidade de colocar questões.
Desejo boas férias, mas deixo novamente a pergunta: E agora?

NOTA
ARMANDA ZENHAS é Mestre em Educação, área de especialização em Formação Psicológica de Professores, pela Universidade do Minho. É licenciada em Línguas e Literaturas Modernas, nas variantes de Estudos Portugueses e Ingleses e de Estudos Ingleses e Alemães, e concluiu o curso do Magistério Primário (Porto). É PQA do grupo 220 no agrupamento de Escolas Eng. Fernando Pinto de Oliveira e autora de livros na área da educação. É também mãe de dois filhos.

Artigo, de 14.07.2017, transcrito de EDUCARE

sábado, 15 de julho de 2017

"AI SENHORITA, QUEM ME DERA TER OS PROBLEMAS QUE A SENHORA TEM!"


Um sistema, por pior que seja, produz sempre alguma qualidade. O antigo sistema educativo, anterior a 1974, também produziu licenciados e doutores em tantas áreas do conhecimento. Ao tempo, muitos, excelentes. Alguns foram, até, homens e mulheres de ciência que deixaram marcas ainda hoje reconhecidas. Portanto, não há que engalanar em arco com os resultados dos últimos exames finais nacionais do ensino secundário. Parece-me ridículo. Obviamente que, dentro do actual sistema, não há que diminuir ou ignorar o esforço e a dedicação de professores e alunos no sentido da obtenção de resultados ditos de "excelência". Pelo contrário, há que dar os parabéns. Mas isso não significa que o sistema, de alto a baixo, esteja adequado ao tempo que estamos a viver. A questão que se coloca é esta: quantos não teriam atingido tais resultados ou mesmo melhores seguindo caminhos distintos? E quem são e quais as origens familiares dos alunos? Seria interessante um estudo desta natureza.



Aliás, ainda há poucos dias foi público, uma vez mais, o altíssimo e preocupante número de alunos que, na Região, "chumbaram" logo nos primeiros anos. A Madeira registou, em 2015/2016, 10,3% de retenções e/ou desistências no 3º ciclo do Ensino Básico. A pior taxa nacional. Mas apresenta tantos "vintes" no final do secundário. Esquisito ou talvez não. A peneira funcionou! Ora, não é pela minoria que apresenta "bons resultados" que este sistema, repito, este sistema, deve ser avaliado, mas pelos milhares que nunca lá chegarão. Interessa determinar quais as razões mais substantivas, a montante e a jusante do sistema que contribuem para o insucesso, o abandono e a falta de qualificações profissionais. Um sistema, que transporta a inflexibilidade, que continua a se basear na memorização e na reprodução do manual programático, é um sistema desconectado com o futuro, isto quando se sabe que uma larguíssima percentagem do que é referido como "aprendizagem" se destina ao esquecimento. Dir-se-á que nasce na aula, vive algum tempo até ser debitado em uma folha de exame e morre. Talvez em linguagem informática seja mais apropriado falar "reciclagem" ou "lixo". Delete!
Percorre-me a tristeza quando leio essa espécie de "guerra" entre escolas, porque uma teve mais vintes que a outra! Quem a promove faz por necessidade de afirmação, certamente, pressuponho que não pelo processo seguido. Simplesmente porque o processo, desde as primeiras idades, está inquinado, dizem-no tantos investigadores de várias áreas do conhecimento, autores, um sem número de dissertações e teses. E os adultos, governantes, direcções executivas e professores ficam felizes com os resultados, porque a tal excelência, no fundo, promove um apagão no mundo de desencantos, sentidos por alunos e professores. Nesta trágica sequência, ninguém fala, até, do matraquear até à exaustão das "explicações" particulares, o que me lava a concluir, se o sistema tivesse tanta excelência, naturalmente, os que podem, não se socorriam do trabalho extra! Ou não será assim?
Há uma pergunta que trago, diariamente, nas minhas reflexões: entre o "conhecimento" transmitido, aquele constante dos programas, e a resposta exemplarmente adequada à pergunta, a que consta do manual, o que resta de conhecimento relevante, aquele que pode ser retido, partilhado e com efeitos multiplicadores? Não é, certamente, um vinte a todas as disciplinas que torna um jovem globalmente desperto para a vida, verdadeiramente culto e disponível para cruzar os conhecimentos.
A este propósito, questionava-se Deborah Stipek, da Faculdade de Educação de Standford, em um estudo transversal realizado ao longo de 35 anos. A editorial da revista colocava em título: “A Educação não é uma corrida”. A investigadora é clara: “o sistema de exames produz especialistas em provas enquanto prejudica vidas que poderiam ser promissoras” (…) O sistema actual, baseado no desempenho em testes pode prejudicar muito a formação de grandes pensadores” (…) “Este ensino promove um verdadeiro extermínio de grandes mentes” (…) A maneira como a Educação está estruturada faz com que potenciais vencedores do Prémio Nobel sejam perdidos antes mesmo do final da educação básica”. 
Finalmente, há dias, transcrevi partes de uma entrevista ao Professor Miguel Santos Guerra, Catedrático na Universidade de Málaga. Regresso a essa entrevista e a uma pergunta do Jornalista de A Página da Educação: "Esta edição inclui uma reportagem sobre a pobreza infantil. É um dos muitos problemas e das realidades sociais com que os professores se deparam. As escolas estão preparadas para lidar com estas questões?" Respondeu o Professor: "(...) Há aqui um problema - a Escola está separada da vida, está distante dos problemas da realidade. Eu vejo aí um problema: os livros, os conhecimentos inertes que, por vezes, não têm que ver com a realidade. A Escola não pode permanecer separada dos problemas da vida, porque a Escola é para a vida. Há um artigo que conta a história de uma professora de Biologia que pergunta a uma adolescente quantas patas tem um artrópode. E a adolescente, suspirando, diz-lhe: "ai senhorita, quem me dera ter os problemas que a senhora tem...". Pensemos nisto e não na guerra de quem teve mais vintes!
Ilustração: Google Imagens.

quinta-feira, 13 de julho de 2017

AEC SEM TRABALHOS DE CASA E COM APOIOS PARA TODOS OS ALUNOS


Diretor-geral da Educação quer que se salvaguardem as brincadeiras das crianças e que se saia da sala de aula na planificação das Atividades de Enriquecimento Curricular (AEC) para o próximo ano letivo. O responsável quer evitar que o período curricular estique e a excessiva escolarização dessas atividades.

Numa carta enviada aos diretores das escolas e aos presidentes das câmaras municipais, das juntas de freguesias, das associações de pais e de instituições particulares de solidariedade social, o diretor-geral da Educação, José Duarte Pedroso, quer que no planeamento das Atividades de Enriquecimento Curricular (AEC) para o ano letivo 2017/2018 sejam tidos em consideração vários pontos importantes. Desde logo, que se salvaguarde o tempo de recreio necessário para as brincadeiras livres das crianças.
O responsável chama a atenção para mais aspetos. Eliminar o agendamento de trabalhos de casa, que não se esqueça o carácter lúdico das AEC que se devem orientar para o desenvolvimento da criatividade e das expressões dos mais novos, que se utilizem espaços, materiais, contextos e outros recursos educativos diversificados de forma a evitar a permanência nas salas de aula. O diretor-geral recorda ainda que é preciso garantir os apoios necessários para que todos os alunos, sem exceção, possam participar nas atividades, independentemente das suas capacidades e condições de saúde, e, por outro lado, que todas as componentes do 1.º ciclo sejam abordadas pelo professor da turma durante o período curricular.

"Não paramos de brincar porque envelhecemos; envelhecemos porque paramos de brincar. Espera-se que esta seja uma instrução para cumprir. Atrevam-se a cumprir e são os miúdos que ficam a ganhar!” - Bernard Shaw


“Brincar permite que as crianças explorem o mundo que as rodeia, criando universos que conseguem dominar, desenvolvendo a criatividade, a autoconfiança e a resiliência necessárias para lidar com as incertezas e mudanças aceleradas que o futuro lhes reserva”, sublinha o responsável.
Relatórios e estudos têm vindo a alertar para a excessiva escolarização das AEC que, como recorda José Duarte Pedroso, “se traduz em ofertas de carácter segmentado, disciplinar e formal, pouco articuladas com o período curricular e com o projeto educativo dos agrupamentos de escolas”. O diretor-geral da Educação refere que, se nada mudar, o período curricular pode estender-se a cerca de 30 horas semanais. Juntando-se a componente de apoio à família, refere, “poderemos estar perante horários escolares superiores a 35 horas semanais, para crianças de apenas 6 a 10 anos de idade”.
“As AEC configuram, antes de mais, um importante instrumento de política educativa orientado para a promoção da igualdade de oportunidades, a redução das assimetrias sociais e o sucesso escolar”, sustenta. O responsável acredita que ao salvaguardar a natureza das AEC, bem distinta do período curricular, se criam condições “para que os alunos e suas famílias aí encontrem respostas para as suas necessidades e anseios”.
A Federação Nacional dos Professores (FENPROF) gostou das palavras e indicações do diretor-geral. “Deixando para trás todas as piadas sobre esta coisa da ‘escola a tempo inteiro’ que sobre este assunto se produziram, desde as que foram feitas sobre ‘porque não deixar os miúdos a dormir na escola? Ao menos não chateavam!’, o ME veio, agora, finalmente, escrever o que consta do arquivo reivindicativo dos professores sobre esta matéria”, comenta no seu site. A introdução da carta surpreendeu a organização sindical. “Pasme-se o atrevimento de se transcrever Bernard Shaw, a abrir: Não paramos de brincar porque envelhecemos; envelhecemos porque paramos de brincar. Espera-se que esta seja uma instrução para cumprir. Atrevam-se a cumprir e são os miúdos que ficam a ganhar!”, refere.

NOTA

Publicado na página EDUCARE

quinta-feira, 6 de julho de 2017

A ESCOLA DO FUTURO


Há que caminhar,  porque quanto mais tempo o sistema educativo mantiver as características actuais, mais distante ficará das necessidades do futuro. Não apenas isso, mas também menos interessante será para as crianças e jovens. 



terça-feira, 4 de julho de 2017

“EDUCAÇÃO PERMANENTE EM TEMPO DE MUDANÇA: SABER PARA TRANSFORMAR”


Transcrito do DN-Madeira.

"Ana Benavente, da Universidade Lusófona, disse que “é assustadora” a forma como importam modelos educativos de fora, como o americano que, segundo a especialista, está muito na “moda”. Mas isso não significa que sejam os mais indicados, até porque, na sua óptica, “não trazem nada de novo e afectam o campo educativo”.

"Chegou a Portugal a moda americana em que tudo tem etiqueta. Por exemplo, o aluno é hiperactivo ou outra coisa qualquer, mas não se questionam as condições de vida das pessoas e a razão pela qual as coisas são assim”, disse, esta manhã, na Universidade da Madeira (UMa), na conferência ‘O que investigar em educação? Produção de conhecimento e impactos institucionais e sociais’, que se realizou no âmbito do II Encontro de Jovens Investigadores em Ciências da Educação.
Ana Benavente referiu que em Portugal os sucessivos governos preocupam-se em inaugurar escolas e as respectivas placas sem terem em conta que “os tempos são diferentes”. E, por isso, lamentou o facto de os governantes estarem constantemente a “regressar ao passado” em vez de se “virarem para o futuro”.
A especialista afirmou que tudo isto faz com que a educação em Portugal não passe do que é actualmente. E, de repente, de ano para ano “voltam às mesmas disciplinas e aos mesmos exames” sem nada de novo a acrescentar. Mas fez questão de frisar que em educação “os saberes não se consolidam” e, neste campo, “estamos sempre a partir do zero”.

NOTA

Deixo aqui uma intervenção, produzida em 2016, sobre o tema Educação Permanente.


segunda-feira, 3 de julho de 2017

POR UMA APRENDIZAGEM MAIS "PROFÍCUA E DIFERENCIADORA"


Organizado pelo Centro Social e Paroquial de Santa Cecília, em parceria com a Universidade da Madeira, teve lugar um seminário intitulado "Emoções, Criatividade e Aprendizagem na Natureza - Oportunidade para todos". Uma interessante iniciativa. Mais uma de um extenso rol de conferências, debates, seminários, formações creditadas, eu sei lá, só este ano o que por aí já aconteceu, tendo por elemento central o sistema educativo. Desta vez, uma série de importantes prelectores que, segundo o DN, "têm desenvolvido trabalhos e estudos bastante significativos nas referidas áreas, tornando este seminário um espaço de debate e partilha de ideias numa perspectiva de ensino mais profícuo e diferenciador. Como não podia deixar de ser, o seminário, presidido pelo padre Francisco Caldeira, presidente do Centro Social e Paroquial de Santa Cecília, contou com a presença do secretário regional de Educação, Jorge Carvalho e do director regional de Educação, Marco Gomes.


Conclusão, segundo o mesmo DIÁRIO: "(...) Reflectiu-se neste seminário que a escola de hoje é muito equiparada à escola do século XIX, a necessidade de mudança manifestada pelos participantes registou-se em várias linhas de pensamento que vão desde a necessidade de currículos académicos mais flexíveis de forma a adaptarem-se à evolução social do século XXI e como tal às exigências dos alunos que temos na escola de hoje, até à carência do brincar nas nossas crianças, tornando-os seres mais criativos, empreendedores e mais estruturados ao nível das competências sociais e emocionais. Esta situação chamou à atenção nos intervenientes deste seminário para a importância da redução da carga horária curricular e alertou para o valor do aumento do número de horas onde os alunos “estão a ser crianças”, utilizando, para tal, espaços outdoors existentes na nossa região, tais como as florestas, o mar, os jardins, bem como outros espaços ao ar livre (...)".
Certamente que muito mais foi assumido, mas esta síntese traduz o essencial e o mais importante. E isto agrada-me porque há tantos a dizer o mesmo desde há cinquenta anos. Todavia, sem uma alteração estrutural do sistema, por mínima que fosse. Repetem-se as palavras, os conceitos, dizem o que deveria ser, porém, tudo continua igual, grosso modo, como na "escola do Século XIX". Uma tristeza, quando tão fácil e apaixonante seria CAMINHAR, paulatinamente, no rompimento deste sistema absolutamente abstruso. 
Parabéns Padre Francisco Caldeira, pois demonstrou, inequivocamente, ser uma pessoa atenta e preocupada. Pena que os governantes não o acompanhem com as medidas que há muito deveriam ter sido implementadas. Falta-lhes CORAGEM e os traços de um permanente desassossego.
Ilustração: Google Imagens.