sábado, 22 de julho de 2017

CRIANÇAS INTELIGENTES E ADULTOS ESTÚPIDOS


Diverti-me com a crónica de António Lobo Antunes. Acabei de a ler. É um texto delicioso para quem reflecte sobre o sistema educativo e o que significam as palavras aprendizagem e vida. Ele traz à colação Alexandre Dumas: "Porque motivo há tantas crianças inteligentes e tantos adultos estúpidos?" Só pode ser por um problema de educação, conclui. Adianta Lobo Antunes: uma criança criativa é herética e subversiva e claro que isso assusta os professores que exigem dos alunos uma normalização que conduz, inevitavelmente, à mediocridade que tanto tranquiliza os pais. Queremos que os filhos tenham vidinhas, sejam tristemente independentes, consigam um bom casamento, uma, tanto quanto possível, boa casa, um ordenado simpático (...)


Não há nada mais que assuste as pessoas do que a criatividade, nada que as apavore mais do que a diferença. A sociedade necessita de medíocres que não ponham em questão princípios fundamentais (...) Os programas de  televisão são quase sempre miseráveis. E queremos que as nossas crianças se tornem adultos miseráveis também, o que para as pessoas em geral significa responsáveis. (...) Gostamos dos idiotas porque eles não nos colocam em causa. (...) Temos medo do novo, do diferente, do que incomoda o sossego. A criatividade foi sempre uma ameaça tremenda.(...) Há muitas crianças inteligentes e adultos estúpidos porque matamos o máximo de crianças quando elas começam a crescer (...)".

Entretanto, cruzo os excertos do texto de Lobo Antunes com uma peça jornalística publicada no Expresso, assinada por Isabel Leiria: "Em duas cadeiras do 2º ano da Faculdade de Medicina do Porto chumbaram 50% dos alunos. Há dois anos foram notícia por terem entrado no Ensino Superior com as classificações mais altas do país. O aluno mais ‘fraco’ entre os 245 caloiros da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) ingressou com 18,67 valores de média. Este ano, a notícia é outra. Muitos acabaram por ser surpreendidos com as primeiras negativas do percurso escolar e com notas a que não estavam habituados. Em várias cadeiras, a média ficou nos 10 valores ou menos. A Morfofisiologia Integrativa e a Morfofisiologia dos Sistemas Respiratório e Urinário vários exames foram corridos a 6, 7 e 8 valores. E nestas duas unidades curriculares (são seis disciplinas ao todo no 2º semestre), as taxas de não conclusão foram de 53% e 48%, respetivamente."

O que será que tem a ver o texto de Lobo Antunes com os exames de Medicina, com o sistema educativo, com a aprendizagem relevante, com os alunos tidos por excepcionais, com a criatividade e a "morte" do pensamento ao longo do crescimento? Talvez seja a estupidez dos adultos, digo eu.
Ilustração: Google Imagens.

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