sábado, 17 de outubro de 2020

A verdade que engana...

 

FACTO

A Escola "deve continuar a ser um espaço de reflexão, de troca de experiências e de abordagem de novas temáticas" para que continue a dar respostas às novas gerações. Fonte: Dnotícias.



COMENTÁRIO

A frase, hoje assumida, é do actual secretário regional da Educação. Lida sem contextualizar eu diria que é irrepreensível, embora com tons "lapalissianos". Concordo em absoluto. O problema está quando desviamos o olhar e o conhecimento para as circunstâncias que a rodeiam. Aí caímos, inevitavelmente, no aforismo do "bem prega...". É que, ai daqueles que, no quadro da autonomia dos estabelecimentos de aprendizagem, saem do rebanho na convicção que se pode e deve fazer melhor. Tenhamos presente o que aconteceu na Escola do Curral das Freiras, entre outros casos menos mediáticos. 

Ora, quando se fala de "espaço de reflexão", tal obrigaria a uma liberdade para pensar e, consequentemente, agir de acordo com novos olhares. Seja o secretário honesto com a sua verdade, não é pedir muito, mas tal não é possível, por um lado, porque o sistema está amarrado a uma absurda centralização, onde tudo ou quase tudo, tem de ser autorizado pela hierarquia; por outro, porque o sistema, desde sempre, denuncia incapacidade para responder "às novas gerações". O sistema continua, teimosamente, a assemelhar-se a uma máquina, velha, mas todos os dias oleada, que produz um só produto (de aluno) e um único modelo (de funcionamento). Não conheço uma única escola pública na Região que saia do regime hierarquicamente imposto. E quando sai, caso do Curral das Freiras, foi o que se viu. Portanto, é uma falácia o que foi dito. Não é para levar a sério!

Se fosse possível "pensar", "experimentar" e actuar em conformidade, obviamente que há muito que, pelo menos alguns estabelecimentos de aprendizagem, tinham assumido a possibilidade de seguir caminhos distintivos. Certamente que outros preferissem a rotina que o vértice estratégico entende como o melhor para o sistema. Porém, o tempo, distante de experimentalismos bacocos, encarregar-se-ia de provar quanto estão errados os que optam por navegar em um mar sem ondas. E assim sendo, hoje como ontem, nem possibilidade de comparação existe, porque o sistema, repito, está preso no seu emaranhado, não fecunda nem se deixa fecundar pelas ciências. E quando aqui se chega, são muito raros aqueles que espreitam por um fresta e descobrem a possibilidade de sair desse escuro cruzamento, optando por um caminho de novas experiências proporcionador de luz. O sistema, leia-se secretário regional da Educação, está no cruzamento, com um olhar vago para as várias saídas, porém, dali não é capaz de sair. Completamente angustiado, vejo-o sentado, preferindo deixar o "marfim correr". 

De qualquer forma, distintos professores, aproveitem a oportunidade, tornem as escolas em "espaços de reflexão, de troca de experiências e de abordagem de novas temáticas". Talvez nunca ninguém tenha sido tão claro. Politicamente, foi um raro assomo de consciência. Aproveitem, porque estão escudados nas palavras circunstancialmente ditas! Ah, doravante, coloquem as crianças e jovens no centro das políticas educativas.

Ilustração: Google Imagens.

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