sábado, 27 de novembro de 2021

Tudo ao contrário

 


FACTO 1

Tenhamos em consideração: um aluno, no quadro do actual sistema educativo, considerado excelente, pratica uma determinada modalidade desportiva. Planeia a sua vida diária no sentido de responder bem às duas exigências. No desporto, entre os do seu escalão, é seleccionado para a equipa representativa, neste caso, da Região da Madeira. Na véspera da concentração e jogos diz ao treinador que não poderá estar presente porque, na semana seguinte, tem cinco testes de avaliação. Assume a "responsabilidade" e fica com a profunda mágoa de não poder participar. Um dos testes, imagine-se o contra-senso e o paradoxo, de Educação Física, com uma catrefada de páginas, teóricas, como se tratasse de um aluno universitário de um curso de professores de Educação Física e Desporto.



FACTO 2

"Três milhões investidos em formação de desempregados". Título na edição de hoje do Dnotícias, página 2/Economia.


COMENTÁRIO

Tento compaginar as duas situações. À partida parecem constituir contextos distintos, mas, à lupa, existe uma interligação de fundo. Isto é, nem o sistema educativo tem tido em atenção a vida real, e a vida integra, também, uma qualquer profissão, como se sobrepõe à cultura (o desporto é cultura). E sendo assim, surgem três milhões para a "formação de desempregados", o que, na prática, corresponde à falência do sistema educativo. E ao outro nível, continuam com o blá, blá, blá que o desporto é, na esteira de Pierre de Coubertin, "essência de vida", "beleza", "arquitecto do edifício que é o corpo", "justiça", "audácia", "ousadia", "honra", "lealdade", "paz" e "progresso". (Fonte: Ode ao Desporto). Tudo o que um jovem precisa. Mais, ainda, corriqueiramente, dizem que ajuda nas questões de natureza psicológica, no desenvolvimento de capacidades, inclusive, cognitivas, e até na formação do carácter! Digo eu, apenas paleio. Na prática, o que existe é um gigantesco divórcio entre o que é considerado "escola" e a vida que existe para além dessa incompreensível obsessão pela avaliação no quadro de um enciclopedismo gerador de muita frustração. Os "três milhões na formação de desempregados" explicam uma significativa parte do problema. E assim continuará, enquanto os vários sistemas se apresentarem estanques, portanto, sem qualquer abertura e interligação na formação global do ser humano. 

Não me admira o facto, segundo um estudo da Fundação Francisco Manuel dos Santos, que 30% dos jovens queiram emigrar, 23% estejam medicados por perturbações mentais e que Howard Williamson, Professor  e especialista em políticas europeias de juventude, assuma que "(...) Falhámos a esta geração" (...) Negámos a oportunidade de, dignamente, planearem o futuro" (...) porque se "esqueceram que existe um grande espaço de vida entre a escola e a comunidade" (...) é, por isso, preciso repensar "a ligação entre educação formal e informal". Fonte: edição de hoje do Expresso.

Ai escola, escola! Oh governos abram os olhos!

Ilustração: Google Imagens.

Sem comentários:

Enviar um comentário