sábado, 12 de agosto de 2017

O SENTIDO DA OPORTUNIDADE E O PRINCÍPIO DA PRIORIDADE ESTRUTURAL


Olho para o cartaz e leio: "Um futuro para ti". Entusiasmei-me pela leitura da notícia do DN-Madeira e, infelizmente, defraudaram-se-me as expectativas. "Um futuro para ti" esgota-se em um intercâmbio de jovens, dos 18 aos 30 anos, entre as regiões da Madeira, Açores e Canárias. Designa-se por Academia do Jovem Voluntário e visa a participação em acções de apoio social e comunitário, desportivo, de saúde, defesa do ambiente e do património. Enalteceu o secretário da Educação: "(...) a noção de que o conhecimento, sendo hoje algo facilmente acessível, é importante que o tenhamos também de forma presencial. É importante conhecer lugares, pessoas e instituições (...) Esta é a geração das oportunidades. Nenhuma teve tanta oportunidade, teve tantos desafios como a vossa. Hoje, os jovens têm todas as condições para preparar o ingresso na vida activa. Não deixem passar ao lado estas oportunidades". Declarações destas não me fazem tirar do sério, mas deixa-me perplexo pelo sentimento que me envolve de um edifício construído pelo telhado.


Não condeno a iniciativa, obviamente, eu que defendo uma escola que ultrapasse os seus próprios muros. Uma escola que seja vida, vivência e convivência. Uma escola de cultura universal que rompa com estruturas ultrapassadas, fechadas nos currículos e programas, como se tudo aí começasse e terminasse. Não é, por isso, a iniciativa que está em causa (existem outras de natureza semelhante), mas o facto de constituir um "tiro" isolado, uma iniciativa desfasada de uma ideia maior de escola e sobretudo de aprendizagem que garanta futuro para os jovens. O que condeno é o desrespeito pelo princípio da prioridade estrutural e do aproveitamento sensato dos escassos recursos. 

A prioridade estrutural, no essencial, deveria, desde logo, obrigar a sair mesmo estando cá dentro.

Quando se olha para o sistema educativo e se detecta tanta fragilidade, insucessos e abandonos que envergonham, quando se olha para um mundo de absurdos em função do tempo que estamos a viver e da preparação que o futuro exigirá, quando se olha para as dificuldades de natureza financeira que limitam os projectos educativos escolares mais ambiciosos, (mesmo que esta iniciativa seja comparticipada) confronto-me com uma iniciativa que se dirige aos jovens entre os 18 e os 30 anos no quadro de um "Um futuro para ti". De que futuro estão a falar? Da emigração?
Ora, o futuro não se constrói com iniciativas isoladas, limitadas a um grupo(s) que, por força do orçamento, nunca será abrangente à maioria dos estudantes e dos outros que, pela idade, já se encontram fora do sistema. muitos no ensino superior ou já na vida activa. A prioridade estrutural, no essencial, deveria, desde logo, obrigar a sair mesmo estando cá dentro. Isso obrigaria a mudar tudo no sistema, garantindo a universalidade do PENSAMENTO que não se esgota, desde as primeiras idades, na resposta dita certa à pergunta constante do manual. De forma integrada, este é outro princípio do desenvolvimento que convém ter presente, então sim, as iniciativas têm o seu interesse e oportunidade. Desta forma, não, mostra-se desarticulada de qualquer ideia portadora de futuro. Porque "um futuro para ti", jovem, tem, necessariamente, outros contornos que não partem de uma "Academia do Jovem Voluntário". Não acredito e, certamente, poucos acreditarão em políticas que sobem os degraus de três em três!
Ilustração: Google Imagens.

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