segunda-feira, 9 de abril de 2018

POLÍTICA EDUCATIVA - MADEIRA APRESENTA O PIOR NÍVEL DE ESCOLARIDADE DA PENÍNSULA IBÉRICA


Fonte DN-Madeira: "entre a população dos 25 aos 64 anos, apenas 16,6% tinham escolaridade média" - conclusão do estudo Península Ibérica em Números - 2017. Curiosamente, dita o estudo que, em Espanha, o valor mais alto foi atingido nas Ilhas Baleares com 28,5%. Interessante a diferença entre as duas comunidades autónomas. Na parte ibérica, a área Metropolitana de Lisboa apresenta o melhor resultado, com 27,3% e, em Espanha, o mínimo foi verificado na Extremadura com 17,2%. A Região da Madeira apresentou resultados piores que em 2015, no que concerne à escolaridade média, de acordo com os níveis 3 e 4 da classificação ISCED (ensino secundário e pós-secundário não superior - 12º ano ou profissionalizante. Uma situação que se reflecte no emprego, obviamente. Salienta o excelente trabalho do jornalista Francisco José Cardoso: "Na Madeira, actualmente, entre 17.300 desempregados inscritos, 62,3% têm, no máximo, o 3º ciclo do Ensino Básico (...) por grupos etários, 65,4% têm idades compreendidas entre 25 e 54 anos".


Se analisarmos esta síntese, uma palavra pode caracterizar a situação: desastre. É um desastre na política educativa, económica, social e cultural. Desastre que já estamos a pagar, face a um mundo global, competitivo e exigente. Aliás, estes resultados não são fruto do acaso. Há uma história de causas sectoriais na estrutura de construção da sociedade, onde tudo, ao invés de se encontrar interligado, mostra-se desarticulado, portanto, sem uma linha orientadora e portadora de futuro. É, também, a derrota da centralização. Quatro estruturas em falência explicam a situação: a familiar, a laboral, a escolar e a mentalidade de governantes e de governados. Podemos aduzir ou compaginar outras, mas, talvez estas, constituam o núcleo central do problema.
Durante os últimos 40 anos a prioridade não foi o ser humano como "obra" prioritária, esse investimento capaz de enfrentar os desafios de um futuro que, sublinho, sabíamos vir a tornar-se de uma enormíssima complexidade. Prevaleceu, exageradamente, como se não houvesse amanhã, a obra física, como designou Edgar Silva, a "fúria inauguracionista", que tomou conta da consciência de quem foi governo. A percentagem de cimento ou de carros vendidos caracterizou o crescimento. Hoje, qualquer cidadão atento sabe que essa política foi mortal para o desenvolvimento equilibrado, feito de acordo com a  cadência do tempo. Corolário: a eleição seguinte foi sempre fonte prioritária relativamente à geração seguinte. Perderam-se no labirinto dos interesses e de uma visão estrábica do desenvolvimento, onde a qualidade deveria ser a pedra de toque a todos os níveis. E assim criaram duas sociedades, a endinheirada, capaz de possibilitar aos filhos uma formação de topo; a pobre, tendencialmente escrava dos contratos a prazo, dos recibos-verdes e do salário escasso. Se isto não foi intencional, então, qual a outra justificação para aqueles pobres resultados?
E falam, de boca cheia, do sucesso, acenam com o empreendedorismo, com os incentivos à robotização, do Brava Valley, de projectos e mais projectos que encantam os distraídos, esquecendo-se, como há anos me disse o meu Amigo Engº Arlindo Oliveira, ao longo de uma cavaqueira, que permanecemos "vestidos de smoking, mas descalços". Não falam, nem desejam equacionar as grandes questões, a empresarial e laboral (há um estudo, que já tem uns anos, que prova o desequilíbrio, por ausência de planeamento, entre uma oferta para um milhão de habitantes, quando por aqui somos 250.000); não falam nem desejam equacionar as questões a montante de uma sociedade com mais de 30% de pobres e uma larga percentagem em pobreza persistente; não falam nem desejam falar da estrutura escolar, completamente ultrapassada na sua organização geral, no plano curricular, programático e pedagógico; não falam nem desejam falar sobre as características idiossincráticas que marcam, negativamente, o povo (nada tem a ver com aspectos de natureza cultural). Tudo isso tem sido paleio, abstração, porém, o resultado é aquele. Pergunto: por este caminho haverá futuro? Bastará chutar para Lisboa, como alívio da consciência, todos os erros estratégicos de uma terra Autónoma, com Estatuto Político-Administrativo próprio, com uma Assembleia Legislativa própria, com  um governo próprio e um Orçamento próprio?
Ilustração: Google Imagens.

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