terça-feira, 29 de agosto de 2023

A necessidade de repensar tudo


Dos Estados Unidos a vários países europeus, mesmo aqueles reconhecidos como tendo sistemas educativos de reconhecida qualidade, os manuais digitais e outros equipamentos estão a ser colocados em causa e mesmo abandonados. Não significa isto, como aqui já tive a oportunidade de equacionar, o abandono da tecnologia. Não é disso que se trata, aliás, seria um contrassenso, quando se vive num mundo onde os meios tecnológicos ganham cada vez maior relevância nas nossas vidas.



O problema é outro e muito mais profundo. E esse tem de ser estudado. Por que razão "a Suécia está a planear deixar de lado os computadores nas escolas e regressar ao ensino baseado nos livros? O motivo, explicam, é a diminuição das competências de leitura e escrita dos alunos".

Aliás, "a Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, já tinha mostrado dados que levaram a crer "que exagerar nas telas pode levar a: prejuízos na comunicação, problemas no sono e atrasos no desenvolvimento cognitivo".

O plano da Suécia "é dizer adeus aos quadros digitais, ecrãs e dispositivos electrónicos e regressar às ferramentas tradicionais de ensino. A Ministra da Educação, Lotta Edholm, e a Ministra da Cultura, Parisa Liljestrand, consideraram que foi "uma grande experiência", mas anunciaram, planos para regressar ao ensino baseado nos livros". Na Holanda, "os celulares, tablets e relógios inteligentes" serão banidos. E na Finlândia já foi anunciado um projeto quase no mesmo sentido. Nos Estados Unidos, desde há oito anos que se assiste a uma mudança no que concerne à utilização desses meios.

E o curioso desta situação é que, por ausência de estudo prévio, quando os outros já experimentaram e concluíram que existem outros meios de relevância maior na aprendizagem, em Portugal e particularmente na Madeira, estão a ser "investidos" muitos milhões. Quando os outros tendem a abandonar nós começamos. Regresso as palavras de Tony Bates (Microsoft) que transcrevi no meu livro "A Escola é uma seca" (2022): 

"(...) o bom ensino supera uma escolha tecnológica pobre, mas a tecnologia nunca salvará o mau ensino". 


O problema é esse. Seja como for, a questão central está em debater, com rigor científico, a mudança de pensamento que está a acontecer. Não basta fiar-se nos vendedores de tecnologia. Com o receio de perderem no mercado livreiro, apostam, como alternativa, na integração do manual no digital. Como é óbvio, um vendedor nunca abordará a fragilidade do que vende. Vêm aí, são entrevistados, dizem maravilhas, falam em pioneirismo, simplesmente porque são "vendedores". Quem governa não devia entrar em leviandades e "achismos" desta natureza! Bom seria que apresentassem as conclusões dos estudos, se estes foram, previamente, realizados.

Esse debate tem de acontecer com urgência, envolvendo todos, desde investigadores a professores que, nas escolas, são hoje confrontados com novas populações e novos quadros de aprendizagem. O sistema não deve estar entregue a uma "cabecinha pensadora". E se, eventualmente, concluir-se que existem, com rigor científico, repito, outros caminhos mais consistentes, inteligente será reverter o que pensavam ser a via mais adequada. Às certezas contraponho a dúvida e, portanto, estudem no pressuposto que "só os burros não mudam de opinião; ou só os burros não têm opinião sobre as mudanças dos outros".

Paralelamente, há muito, mas mesmo muito a estudar e a mudar no sistema. A utilização da tecnologia, sobretudo como utilizá-la é, apenas, uma ínfima parte. Os currículos, os programas, o processo pedagógico, a mentalidade, a arquitectura das escolas e a característica centralista como estão organizadas, continuam a ser as grandes chagas do sistema. 

Ilustração: Google Imagens. 

Sem comentários:

Enviar um comentário