quinta-feira, 21 de novembro de 2019

Quando faltam espelhos...

FACTO

“Só é possível estarmos hoje aqui e termos estudantes a assumir este papel, porque estamos numa sociedade e numa escola onde a democracia impera (...)" - Secretário Regional da Educação, no acto de posse de uma Associação de Estudantes. Fonte: DIÁRIO.

COMENTÁRIO

"(...) Onde a democracia impera (...)". Acredito que sim, naquela escola e, provavelmente, não em muitas outras. Como é evidente, o secretário regional da Educação sabe que a democracia não se esgota nos actos eleitorais. E sabe também que existem muitas formas de a condicionar. E que existem, também, muitos apetites político-partidários. Recordo um político que uma vez disse, já neste tempo "democrático", que não descansava sem ter uma célula partidária por turma! Portanto, sobre "democracia" e jogos de poder, penso eu, estamos conversados. 
A questão agora é outra. Sou totalmente contra os poderes "duracell". Sejam eles quais forem. Aqueles poderes que se eternizam por todo o lado, inclusive, nas direcções dos estabelecimentos de aprendizagem. Fazem três, quatro, cinco, seis, sete mandatos e por aí fora e não deixam de ser alegadamente "democráticos". Mas a pergunta é esta: à semelhança de outros espaços de intervenção cívica, não deveria existir limitação do número de mandatos nas direcções das escolas?
Na minha opinião, sim, devia. Até o Presidente da República está limitado a dois mandatos. Por uma razão simples: pela não acomodação, pela não subserviência (existe tanta), pela autonomia dos estabelecimentos, pela criatividade e pela inovação. 
Não deixa de ser interessante a declaração do secretário, pois em uma escola (Curral das Freiras) cuja direcção foi democraticamente eleita (80% dos votos, s.e), mas com cujo resultado eleitoral o secretário parece não ter gostado, vinte e quadro horas depois o acto eleitoral não contou, a escola perdeu a sua autonomia, foi integrada em uma outra e ao presidente eleito, Professor Joaquim José Sousa, escarafuncharam e descobriram ninharias administrativas (uma delas ter enviado por e.mail os horários dos docentes, quando deveria ter remetido por carta!), levou com um processo disciplinar de onde resultou seis meses sem vencimento. Mas que democracia esta, pergunta-se, ou será que falar de democracia implica estar sempre submisso ao chefe?
Finalmente, que tal o secretário levar à Assembleia Legislativa uma proposta de Decreto Legislativo Regional para que a democracia funcione melhor nas escolas?
Ilustração: Google Imagens.

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