domingo, 19 de setembro de 2021

Crianças sobrecarregadas


Estudo europeu demonstra: as crianças no início da educação escolar estão demasiado sobrecarregadas – stress, dor de cabeça, cansaço e dores de estômago.

Por
RAUL GUERREIRO
Professor Waldorf; Membro do Conselho Nacional Parental Waldorf da Alemanha; Membro da Amnesty International


O estudo "Jovens famílias em 2019" da instituição alemã Pronova BKK trouxe à luz números alarmantes. Mais do que uma em cada três crianças nos primeiros anos de escola sofre várias vezes por mês de cansaço, dificuldade de concentração e falta de motivação. Um terço das crianças de seis a dez anos demonstra um notável nervosismo e inquietação. No prazo de quatro semanas na escola, uma em cada cinco crianças queixa-se de dores de cabeça ou dores abdominais sem explicação. Isto foi demonstrado por um inquérito realizado entre 1000 entrevistados que tinham pelo menos uma criança com idade inferior a 10 anos.

A razão: excesso de stress. Tornou-se evidente que as crianças estão sujeitas a uma forte pressão na escola para "mostrar resultados". Isto fica agravado por eventuais atividades extras como desportos, aulas de música, ginástica, natação, etc., de modo que as obrigações semanais das crianças resultam praticamente rigidamente programadas como no caso dos adultos.

A associação alemã de medicina antroposófica "Gesundheit Aktiv" criticou como a medicina oficial se está a tornar cada vez mais uma bacia de decantação para uma política de educação fracassada. Hoje em dia, devido ao espírito materialista de concorrência que impera no mundo adulto, as crianças são muitas vezes forçadas a entrar para a escola muito antes dos seis anos de idade. Isto constitui um sério agravamento, em comparação com a situação de há apenas alguns anos. Na fase do primeiro seténio de vida, muitas crianças não estão de modo algum habilitadas, social e emocionalmente, a reagir às constantes exigências de um "desempenho" estruturado na escola.

Mesmo que já existam novas abordagens alternativas promissoras, como por exemplo a Pedagogia Waldorf, de maneira geral as escolas não estão orientadas segundo o nível de desenvolvimento sensorial e anímico dos alunos, mas sim segundo um conceito de desempenho social. Os modernos pais e mães, hoje já semiescravos dos seus empregos, vêm-se eles próprios envolvidos nessa espiral do "desempenho", e assim inconscientemente passam a aumentar a pressão exercida sobre os seus filhos. O lar torna-se uma continuação da escola, enquanto máquina educativa. Uma perspetiva educacional orientada pelo desenvolvimento físico e mental teria mais em conta as necessidades fundamentais de cada criança individualmente. Essa perspetiva iria preocupar-se menos com a forma como as crianças podem ser "motivadas para o desempenho", prestando mais atenção ao problema crucial da razão pela qual a escola está cada vez mais a destruir a motivação já existente de maneira natural nas crianças.


Há muito que os médicos pediatras se queixam de que são obrigados a usar grande parte do seu tempo profissional meramente para cuidar de alunos que exibem um comportamento irregular na escola, mas que talvez estejam a fazer isso simplesmente para afirmar o seu próprio caminho. Em vez de tornar as crianças doentes, seja por decisões ministeriais tortuosas, ou por uma hipnose imagética injetada à força por aparelhagens digitais, a escola deve tornar-se um lugar onde as crianças aprendem a desenvolver sobretudo autoconfiança e a própria personalidade.

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