sábado, 22 de outubro de 2022

O sistema está amarrado, estrangulado e centralizado numa pessoa!


Desde há muitos anos que nos conhecemos. Tenho pelo Engenheiro Arlindo Oliveira uma enorme consideração e estima. É um Homem esclarecido, de pensamento aberto ao Mundo, perspicaz e sensível face aos dramas sociais. Num tempo que não era fácil ter opinião, não se escondeu. Infelizmente, não foi aproveitado no plano do exercício da política. Ainda assim, em vários mandatos, servimos o Funchal enquanto Vereadores. Aquilo que escrevo relativamente ao sector da Educação, dos poucos que vêm a terreiro debatê-la, ele é um dos que se interessa apesar deste não ser o seu sector de actividade profissional. 



Há dias, publicou um texto sobre a Teoria da Relatividade de Albert Eintein - De Newton (1643-1727) a Einstein, (1879-1955) uma nova visão do mundo e do Universo. Republiquei-o no meu blogue pela importância que tal texto reflecte. É fruto do seu continuo interesse pelo estudo de temas apaixonantes e que a maioria de nós não domina. Já antes tinha acompanhado uma interessante e contagiante entrevista, melhor dizendo, diálogo com o Padre José Luís Rodrigues. Uma conversa que me encheu. E se o trago aqui é pelo facto de naquele trabalho sobre Einstein, o meu Amigo Arlindo, independentemente de todo o conteúdo, ter destacado o facto de Einstein ter sido um aluno mediano nas disciplinas de Física e de Matemática. Estava sempre distraído e teve que sair da escola. O seu texto começa assim: 

"Albert Einstein, nascido nos fins do século XIX, (1879) veio a revelar-se um génio, apesar de, na escola, alguns dos seus professores, não lhe alvitrarem grande futuro na vida, já que, não se revelou, tradicionalmente, um aluno normal, aliás, como a muitos de nós, muitas vezes incompreendidos, ouvimos, em versão semelhante, maus augúrios, da parte de alguns dos nossos professores (...)".


Perante isto, respondi-lhe: "Apenas um desabafo que vai muito para além da nossa Amizade: enquanto metáfora, quanto gostaria eu que toda a classe docente se chamasse Arlindo! Precisamos de um (AR)ejamento total e LINDO no quadro de um novo pensamento em harmonia".

Poucos minutos depois retorquiu: "Gostei meu caro amigo André Escórcio, mas sei que não mereço, no entanto, sempre tive curiosidade em conhecer cada vez mais e que o conhecimento chegasse a todos, especialmente àqueles que não são ouvidos nem têm voz para exprimirem o que lhes vai na alma  (...) quando era universitário constatei que era mais fácil mudar o mundo começando na nossa família, no nosso sítio e na nossa aldeia, etc. etc., (...) mas, afinal, quando regressamos, “formados”, armámo-nos em doutores e perdemos a parte genuína que nos levou à universidade - a nossa pureza de espírito - sim quando regressamos estamos vendidos ao sistema que nada diz ao povo, pelo contrário, oprime-o. Caso contrário a revolução estaria feita por dentro e bem! (...) Um abraço e não disserto mais porque estou a comover-me tão claro é para mim, este meu sentir da realidade - a mudança está em nós, em todos nós e a começar pelos que estão mais perto. Um abraço André."


Pois é, Amigo Arlindo, em todos os sectores "a mudança está em nós". Infelizmente, a maioria não a quer ver. Ainda neste fim-de-semana esteve na Madeira o Professor Doutor Santana Castilho que teceu algumas considerações que deveriam merecer atenção e debate (RTP-M/TJ de Sexta-feira). Caríssimo Arlindo, creia que dei uma gargalhada quando escutei o Professor dizer que, nos Estados Unidos, a implementação dos manuais digitais, iniciada há oito anos, foi abandonada, porque os cientistas concluíram que o desenvolvimento cognitivo das gerações mergulhadas no digital é equivalente ao das crianças de 8/9 anos de há 30 anos; por outro lado, são cinco vezes mais caros para além de ter crescido em 30% as doenças oftalmológicas. Por aqui, andam com a peregrina ideia da "sala de aula do futuro" (a Educação é hoje, não é amanhã) e com os manuais digitais que não são mais do que os de papel "metidos" no digital. E o que quero dizer com isto? Que a putativa novidade pegou, porque não se debate, porque não sabem para onde caminham, porque poucos são capazes de dizer que este rei vai nu, porque o sistema está amarrado, estrangulado, centralizado numa pessoa assessorada por uma meia-dúzia incapaz de dizer que esse não é o caminho. Tecnologia na escola não é aquilo que andam a fazer! Há um défice de estudo quanto à necessidade de reinventar o sistema, que passa por assumir a autonomia plena dos estabelecimentos de aprendizagem, por desenhar novos currículos, por ter uma nova visão programática, por alterar profundamente o paradigma da aprendizagem, por entender a escola como cultura, por trazer a vida para dentro da escola respeitando o sonho individual e por colocar em cima da mesa essa doentia obsessão pela avaliação, tudo isto, entre outros, são assuntos que os políticos de turno não querem e não desejam.


Não imagina, Amigo Arlindo, quanto perplexo fico quando assisto ao silêncio, ao cansaço dos professores, à generalizada angústia dos alunos que olham para uma escola que pouco lhes diz, por ser repetitiva, rotineira, previsível e em que todos, professores e alunos, não se sentem bem. Uma escola burocrática, de uma falsa meritocracia e distante da vida real. O que fazer, Arlindo? Continuar ou desistir? Assumiu o Dr. Mário Soares: "só é vencido quem desiste de lutar". Por isso, mesmo que não queiram aprender, continuemos a escrever e a debater. Um abraço.

Ilustração: Google Imagens

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