sexta-feira, 8 de dezembro de 2023

PISA - Um concurso de beleza da pedagogia


A última "aferição" PISA (Programme for International Student Assessement) ditou que Portugal, entre a generalidade dos países, piorou nas médias de capacidade na leitura, matemática e ciências. A verdade, porém, é que tais provas não provam nada. Pablo Gentili, Doutor em Educação pela Universidade de Buenos Aires, assume: "(...) Las pruebas PISA construye um mecanismo artificial, lo impone y nadie lo cuestiona, y luego compara (...) las pruebas PISA son un verdadero desastre, se imponen por la fuerza que ejerce la organizatión poderosa que las realiza en los medios de comunicación". Nas suas palavras, em português: "PISA é um concurso de beleza da pedagogia".



Transcrevo o que deixei no meu livro "A Escola é uma seca" (2022): "(...) Há, por um lado, diversas realidades históricas, económicas, políticas, sociais e culturais, que não permitem, com rigor, comparar o que é incomparável e, por outro, da prática, sabe-se que não é seguro o carácter aleatório de escolha dos alunos que se submetem aos testes. Factos que distorcem e colocam em causa o resultado final. Bastam estes dois aspectos para que se fique de pé atrás na análise dos resultados. Muito mais importante seria uma apreciação comparativa da estrutura dos diversos sistemas educativos (organização, currículos, programas e o pensamento pedagógico) no quadro da composição social, se eles estão ou não adequados ao tempo que vivemos, à própria investigação, se transportam ou não um princípio hierárquico contrário à verdadeira autonomia dos estabelecimentos de aprendizagem, o grau de formação dos docentes e a sua disponibilidade para aceitar novos paradigmas pedagógicos (…)”.

Quem está atento percebe os desígnios da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico). Portanto, estas provas PISA, tal como os "ranking's" anuais das escolas, do meu ponto de vista, nem constituem um indicador, aos quais junto o facto de ser contra o pensamento único. Rejeito que poucos, nos gabinetes, influenciem aquilo que deve ser a condução das sociedades. Ora, como ponto de partida, uma outra análise conjuntural devia constituir preocupação e essa resume-se a algumas perguntas essenciais: por que razão apenas cerca de 15% das raparigas e 11% dos rapazes dizem gostar da escola? Por que razão 70% dos professores estão em exaustão emocional (Burnout) e 84% dizem que, se tivessem uma outra oportunidade, mudariam de profissão? No fundo, para uns e outros a conclusão a que se chega é que esta "Escola é uma seca".

Não foi por causa da pandemia COVID e não foi pelas greves dos professores que, no quadro deste sistema, os resultados foram insatisfatórios. Essas são desculpas esfarrapadas. O problema é mais profundo. A pergunta central para o debate que urge é esta: que escola de CULTURA temos o dever de construir para que ela, com rigor, respeite vocações e percursos de vida? Ou a escola tem de ser aquilo que uns quantos, de concepções afuniladas e alinhados no pensamento único, na OCDE e não só, determinam como as peças de um puzzle que se encaixam nos seus indisfarçáveis desígnios? Tenhamos presente que o problema da ausência de CONHECIMENTO tem uma génese político-social. Portanto, não faz sentido manter um sistema rejeitado, desde muito cedo, pela generalidade dos alunos e desadequado que se mostra relativamente ao tempo que vivemos. A insistência no erro por ausência de debate e estudo justificam resultados não proporcionais ao investimento. Eu diria que, na Madeira, onde a propaganda do êxito atinge foros megalómanos, com um sistemático desfile de prémios de mérito, pergunto, então e novamente, qual a justificação para resultados tão fracos (ranking's e PISA)? 

A propósito, repito aqui a posição do visionário Professor José Pacheco que cito ao correr do pensamento: eu preparava meticulosamente as aulas, tendo o cuidado de olhar para a diversidade e insuficiências da classe, e mesmo assim muitos não aprendiam. Era frustrante! Ora, diz o professor, se eu DAVA AULA (certinha) e eles não aprendiam, então não aprendiam porque eu DAVA AULA. Isto significa que o paradigma da aprendizagem e do conhecimento tem, obviamente, de ser outro. Os responsáveis políticos deviam pensar nisto.

É aqui que começa o problema. O paradigma da aprendizagem não pode quedar-se na imposição curricular tão ao gosto da OCDE; nos irracionais programas desfasados da vida real distribuídos por etapas (1º, 2º, 3º ciclos e secundário) quando a aprendizagem funda-se no acto de fazer PENSAR, descobrir e, de forma continuada, a desaprender para voltar a aprender; não pode seguir as características rotineiras de uma avaliação que se destina a seleccionar/penalizar e não a fazer aprender; pela força, ainda, de uma hierarquia que não estimula o debate e, por isso mesmo, centralizadora, que não permite uma reestruturação da rede escolar e uma verdadeira autonomia dos estabelecimentos de aprendizagem: não existem duas escolas iguais, dois públicos iguais, professores iguais e características socias iguais. Por tudo isto e muito, muito mais, como ainda ontem escutei, desengane-se quem pense que os dados apurados foram circunstanciais, pois eles tenderão a piorar se o sistema se mantiver enclausurado na sua torre de marfim. Vivemos em 2023, não nos primórdios do século passado! Para não ir mais atrás. Ademais, isto não vai com "salas do futuro" e com "manuais digitais". Esse é um discurso político para tolos!

Ilustração: Google Imagens.

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