terça-feira, 20 de maio de 2025

A Educação e o acto de decidir

 

Li, com muito agrado, o texto do Jornalista Roberto Ferreira, subdirector do Diário de Notícias da Madeira, publicado no dia das recentes eleições legislativas nacionais (18 de Maio, página 26). A determinada altura refere: “(…) Como se o êxito se resolvesse por feitiçaria. Urge contrariar esta crença e devolver à Educação o seu papel formador, com base na inteligência natural. Ensinar a pensar tornou-se urgente (…)”. Hoje, digo, que ele foi premonitório do que viria a acontecer na distribuição dos mandatos.



Obviamente que, no plano democrático, há que aceitar o sentido de voto dos portugueses. Porém, num quadro alargado de causas, de origens muito remotas, que agora causam espanto a muitos, ao jeito de “como foi possível?”, há uma causa estrutural e essa reside na importância do papel da escola na formação de base. O que o Jornalista quis dizer, e bem, pelo menos assim interpretei, é que esta formação de natureza enciclopédica é inconsequente e está morta. Não serve a ciência nem a vida real. “Ensinar a pensar tornou-se urgente”. E esta escola não ensina a pensar, ensina a repetir. E avalia quem repete bem!

Rubem Alves (1933/2014), notável pedagogo de reconhecimento internacional, enalteceu que a “primeira missão do professor não é a de oferecer respostas prontas, mas a de fazer pensar”. Quando a estrutura da educação assenta na curiosidade e no pensamento, a capacidade das pessoas torna-se mais consistente em todas as áreas de intervenção, inclusive, quando são chamadas a decidir. O problema é que a escola está, claramente, divorciada do pensamento, porque há programas e extensas metas curriculares a cumprir, porque se confunde política com actividade partidária, porque, grosso modo, os professores têm medo das abordagens que possam colidir com as estruturas hierárquicas políticas ou não, e porque se assiste, entre muitos aspectos, à negação de uma verdadeira, livre e autónoma cultura de escola. Nem as tais "aulas" de Cidadania e Desenvolvimento atenuam as fragilidades de pensamento. 

Um pouco por tudo isto, ainda ontem li, no mesmo Diário, as declarações de uma eleitora que, questionada, relativamente ao sentido de voto, disse: “(…) É sempre o mesmo enquanto for viva”. Como se o acto da decisão política, que tem influência directa na vida de todos, fosse exactamente igual às cores de um qualquer clube que, por uma ou outra razão, gostamos.

“Ensinar a pensar” nunca se tornou tão urgente, quando se olha para uma onda mundial que rasga princípios e valores humanistas; quando temos presente as redes que, pela repetição, promovem e geram a opinião distorcida; para painéis de comentadores, escolhidos a dedo, para formatar consciências; quando se olha para o enorme desencanto das populações, porque os políticos desligaram-se da realidade sentida, pois bem, só através da Educação, entendida como cultura, podemos, a prazo, não andar para aí a “chorar baba e ranho”.

Ilustração: Google Imagens.

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