quinta-feira, 23 de março de 2017

EM CONTRAMÃO


Um artigo do Dr. FRANCISCO OLIVEIRA, líder do Sindicato de Professores da Madeira, publicado na edição de hoje do DN-Madeira e aqui reproduzido com a devida vénia. 

Só andamos felizes porque optamos por olhar e não ver, ouvir e não entender, tocar e não sentir, revoltarmo-nos e calar, indignarmo-nos e não lutar. Temos razões mais do que suficientes para nos enraivecermos, para gritarmos, para exigirmos, mas preferimos, quase sempre, desabafar, apenas, com os mais próximos, como se eles devessem ser o alvo da nossa indignação. Pode parecer démodé falar assim, mas, não tenhamos ilusões, a nossa qualidade de vida daqui a 1, 2, 5, 10 ou 20 anos será o resultado da nossa luta de hoje, da nossa capacidade reivindicativa para preservarmos os que já foram alcançados no passado ou para conquistarmos novos direitos.


Hoje poderia falar da chegada da primavera, do jogo da selecção portuguesa na Madeira, do polémico batismo do aeroporto da Madeira, das inúmeras candidaturas aos órgãos autárquicos, dos festivais de música e festas que vão sendo anunciados ... Embora todos esses temas estejam na ordem do dia e interessem a um público alargado, do qual faço parte, não irei por aí.
Hoje, apetece-me escrever/refletir em contramão. Não o faço pelo prazer de ser diferente, mas sim pela necessidade que sinto de perceber o que está por debaixo da torrente que nos vai arrastando no nosso dia a dia, levando-nos a quase todos, sem grandes possibilidades de resistência. Inspira-me, ainda, uma música de Zeca Afonso que, a cada passo, desperta no interior da minha cabeça: “A formiga no carreiro / vinha em sentido contrário/ Caiu [...]/ e de cima de uma delas / virou-se para o formigueiro / mudem de rumo / já lá vem outro carreiro”.
Infelizmente, ainda não se vislumbra “outro carreiro”, embora as circunstâncias que vivamos hoje justificassem a existência de muitos “carreiros” em contramão. Não por falta de “formigas em sentido contrário”, que vão alertando para os perigos de continuarmos autómatos que seguem os outros sem reflexão, mas por preferirmos continuar felizes na nossa irreflexão, como se à nossa volta tudo fosse consistente e seguro indefinidamente.
Não, não é assim. Só andamos felizes porque optamos por olhar e não ver, ouvir e não entender, tocar e não sentir, revoltarmo-nos e calar, indignarmo-nos e não lutar. Temos razões mais do que suficientes para nos enraivecermos, para gritarmos, para exigirmos, mas preferimos, quase sempre, desabafar, apenas, com os mais próximos, como se eles devessem ser o alvo da nossa indignação. Pode parecer démodé falar assim, mas, não tenhamos ilusões, a nossa qualidade de vida daqui a 1, 2, 5, 10 ou 20 anos será o resultado da nossa luta de hoje, da nossa capacidade reivindicativa para preservarmos os que já foram alcançados no passado ou para conquistarmos novos direitos.
Temos, pois, todos os que suportamos com estoicismo e esperança de melhores dias os retrocessos dos últimos anos, a responsabilidade e a obrigação de exigirmos o cumprimento das promessas que serviram de fundamentação à aplicação das medidas austeritárias que penalizaram os que não foram responsáveis da situação em que caiu o país.
Este é, por isso, o momento de dizer basta e de exigir que, se mais restrições económico-financeiras forem necessárias, que sejam os culpados a pagar.
É a hora do cumprimento de todas as promessas!
Ilustração: Google Imagens.

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