domingo, 17 de junho de 2018

SE ELES DÃO UM PASSO, NÓS DAMOS DOIS, SEM RECEIO!


Confesso a minha dificuldade em perceber e até aceitar os posicionamentos de alguns professores. Se do governo nada espero, porque não existe qualquer esboço estratégico que configure uma mudança de atitude, dos professores e daqueles que, colegialmente, presidem à administração e gestão das escolas, bem como dos respectivos órgãos, já seria tempo de, em uníssono, posicionarem-se contra este pântano que se instalou no sistema educativo. Os primeiros, os que leccionam, parecem-me mais apostados em cumprir as tarefas do que em levantar a voz das experiências vividas; os segundos, os que têm responsabilidades gestionárias, raros são os casos onde se nota a voz, trémula, mas crítica. Existe uma acomodação às determinações hierárquicas, talvez medo e, claro, para alguns, porque dá sempre jeito o justo suplemento remuneratório pelas funções que desempenham. Há dias, sobre uma greve dos professores ouvi directores, que são professores, assumirem que ali (escola), com toda a certeza reinaria a normalidade. Não assumiram que logo se analisaria a situação, antes quase deram como certa essa normalidade, sobrepondo-se à eventual vontade dos professores.


Eu que conheço o funcionamento das escolas, por lá andei quarenta anos, que faço o possível por acompanhar o sistema educativo, que continuo a falar com colegas que se lamentam e muitos, até, repudiam este estado de letargia, fico perplexo com este adormecimento, salpicado, aqui e ali, com uma ou outra manifestação de desagrado. Quando se sabe que este sistema já deu tudo quanto tinha para dar, que hoje se caracteriza, cada vez mais, por uma exorbitante burocracia de centenas de normativos, alguns que, no  essencial, se contradizem, quando são conhecidos os resultados desastrosos do insucesso e do abandono, de alunos que olham para a escola como local de obrigação e não de prazer, pergunto, como é possível o estado de apatia? Como é possível que uma fotografia ou uma mensagem, muitas vezes medíocre, inócua e sem interesse algum, obtenha mais comentários do que um tema sério e que a todos nós diz respeito? Na Saúde, na Educação, na Economia?
Há dias, passei por uma rua com algumas casas vandalizadas, cheias de grafites, algumas em reconstrução. Em uma delas li: "Eles dão um passo, nós damos dois, sem receio". Seja em que contexto for, achei interessante. Não no sentido de um combate insensato, porventura na intenção de quem a escreveu, mas de atenção permanente, clarividência e capacidade de alertar e dizer não, quando as circunstâncias obrigam. A sensação que fico é que os mais de seis mil professores dão, muitas vezes, um passo e "eles" dão dois! Os professores estão sempre a perder, os ganhos, quando existem, são milimétricos e, daí, os lamentos que vou escutando. Dizem-me: tem razão... mas! Mas, o quê, riposto!
Neste pressuposto, o sistema educativo não mudará nada, quanto muito beneficiará de alguns acertos meramente marginais, enquanto não se verificar uma tomada de consciência de dentro para fora dos estabelecimentos de aprendizagem. Compete aos professores essa revolução tranquila na esteira de Edgar Morin, encostando à parede todos quantos pautam a sua via política pelo comodismo, pela rotina e até pela ignorância. "Se eles dão um passo, nós damos dois, sem receio". Tenhamos isso presente. Não basta queixar-se pelos cantos da escola ou à mesa do café, não basta assumir o cansaço ou o síndrome de Burnout, não chega a luta pela contagem do tempo de serviço congelado, mas sobretudo uma luta, inteligente, que garanta que o professor seja feliz na escola e que seja capaz de proporcionar felicidade aos que lá vão para aprender.
O Presidente da República disse e bem: "a frágil estrutura de qualificações da sociedade portuguesa sublinha a absoluta necessidade de o país produzir compromissos em torno da educação de jovens e adultos, sob pena de perpetuarmos uma cidadania pouco exigente, uma força de trabalho pouco qualificada e uma economia pouco competitiva". "Temos de ser capazes de abandonar velhos mitos que depreciam a importância da educação e do conhecimento". Que quereria ele dizer com isto? Está nas mãos dos professores!
Ilustração: Google Imagens.

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