domingo, 24 de junho de 2018

PORQUÊ?


Ando a viver, intensamente, o crescimento e desenvolvimento do meu neto de três anos. O André deixa-me virado do avesso com tantas perguntas. A palavra "porquê" está quase no final de todas frases. Um exemplo: esta manhã disse-lhe que ia levar o lixo aos contentores. Respondeu-me: porquê? Expliquei, sucintamente. Posso ir contigo? Claro, respondi. Pedagogicamente, apesar da idade, correspondendo ao princípio que "de pequeno se torce o pepino", levei-o, ele com o saco das embalagens tendo eu ficado com o lixo indiferenciado, com o papel e cartão. Seguiu-se um rol de porquês junto aos diversos contentores. Expliquei-lhe o que era o lixo geral e, sucessivamente, todos os outros. Mas porquê? Se aprendeu ou não, não sei. Ficou a semente do conhecimento vivido.


Regressei a casa e desafiou-me a deitar água nas plantas. E lá fui eu. Com a minha ajuda regou e cada vez queria mais água para regá-las. Expliquei-lhe que ele também só tomava um pouco de água de cada vez. Nova pergunta: porquê? Nova explicação. Cada uma delas seguida de mais um porquê. É quase o dia inteiro e sobre todas as situações. Para muitos é capaz de ser maçador, para mim, um desafio educativo, onde tento encontrar, muitas vezes é-me difícil, uma justificação tão simples que perceba.
Com tudo isto, há pouco, exclamei com um misto de entusiasmo e pena: Que extraordinária idade! A palavra porquê que o deveria acompanhar toda a vida, infelizmente, a escola, este maldito sistema educativo, encarregar-se-á de bloquear a pergunta, o questionamento de tudo, o desejo de saber, sobretudo, encarregar-se-á de matar a CURIOSIDADE. O sistema, agarrado aos currículos, aos programas, à avaliação de tudo, matará a pergunta, porque exige, apenas, a resposta do manual. Há pais que são chamados à escola, pasme-se, porque o aluno faz muitas perguntas, gerando a instabilidade na classe!
Vivo, confesso, nesta constante revolta porque quem decide olha para a criança como uma miniatura de adulto e não para o ser, em desenvolvimento, que tem a mais longa fase de maturação até à adultez e que, por isso mesmo, constitui um erro de crassa ignorância queimar etapas. E tudo pode ser aprendido, desde as formulações mais complexas e científicas até às mais comezinhas. Não se pode é, hoje, continuar a meter, por aproximação a Toffler, este mundo embrionário nos cubículos convencionais de ontem! Mas eles  acham que sim, que essa é a via correcta. Mais grave, ainda: querem, à força, como disse o Juiz Laborinho Lúcio, "meter um adulto dentro da criança" e, depois, estranham, os desajustamentos e o alheamento pela escola. A escola "é uma seca" são tantos que o dizem. Os meus netos mais velhos, que, neste sistema, face ao qual sou um profundo adversário, são "excelentes alunos" e são eles que me dizem exactamente isso. Então, que tal foi a escola? Uma seca! Basta-lhes responder nos testes ao que os professores querem e pronto, o sistema fica a espumar de contentamento. Eu chamo a isto: "serviços mínimos obrigatórios", porque a escola com menos currículo, menos programas e menos horas lá passadas pode ser melhor escola.
Oh curiosidade por onde andas? Oh cultura vivida e sentida, por onde andas? Por que raio muitas crianças que colocam em tudo o "porquê" são tidas por perturbadoras da classe? 
Agora, sou eu que pergunto: Porquê?
Ilustração: Google Imagens.

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