terça-feira, 24 de julho de 2018

SISTEMA EDUCATIVO EM COMA E LIGADO À MÁQUINA


Fiz toda a minha vida profissional no sector da Educação. Assisti e tenho o desfile dos sucessivos secretários regionais dos vários governos. Sobre cada um deles tenho uma opinião, no plano político, obviamente. Reservo um comentário para mais tarde. Neste momento, o que mais me entristece e preocupa é, passados 40 anos, depois de tanta investigação e produção de textos, ler, quase todos os dias, comentários muito pouco abonatórios ao actual titular da Educação. Basta procurar algumas fontes de informação e ler os artigos e comentários para que qualquer cidadão fique preocupado. Mesmo dando um certo desconto e mesmo considerando o facto de muitas vezes terem origem em fontes anónimas. Mas o que é escrito em português escorreito, não deixa de ser revelador de que existe fogo, muito fogo, proporcional à onda de fumo que alastra. Não aprecio o anonimato porque os cidadãos devem ser frontais e autênticos. Não o são, por medo da represália, o que pode ser caracterizador da ainda menoridade da vida democrática. Desde logo, não existe educação para a liberdade responsável. Aliás, as peças que tenho lido, são mais denunciadoras do que ofensivas, mas mesmo assim, os seus autores preferem resguardar-se. Entendo, perfeitamente.

Esta é lógica do sistema. Cordelinhos na mão, professores que debitam e alunos
desmotivados para um conhecimento que já não passa por ali.

Há dias, o DIÁRIO, e bem, fez uma sucinta análise a nove meses de mandato do vice-presidente do governo. Houve pessoas que ficaram abespinhadas com tal análise. Porquê aos nove meses e não mais tarde, questionaram-se. Ora, os políticos devem estar sob permanente escrutínio, aos 30 ou 100 primeiros dias, aos seis meses, aos nove ou no final do mandato. Simbolicamente, talvez aos nove para perceber-se se conseguiu, permitam-me a palavra, "parir" alguma coisa de jeito. O da Educação, sector vital do futuro colectivo da população, está há três anos, tantas ou mais razões para uma leitura, profunda, sobre o que anda ali a fazer. Os textos que tenho lido, confesso, deixam em pé os poucos cabelos que tenho! 
De facto, este secretário regional da Educação da Madeira, passados três anos, não conseguiu apresentar uma única opção de política estratégica. Se perguntarmos, indiscriminadamente, às pessoas, presumo que o principal registo que ficará é a do "secretário das fusões" de escolas, entre as quais a do Curral das Freiras. Porém, leio denúncias de um "secretário das perseguições" e, entre outras designações, de um "secretário dos processos disciplinares" e de um "secretário que detesta ver a seu lado pessoas capazes". Há, até, colaboradores credíveis que se puseram a andar, porque há mais vida profissional para além dos meandros da governação estrábica. Até com os sindicatos não conseguiu acertar o passo. Isto é preocupante, porque se conjugam dois aspectos relevantes: primeiro, a ausência de uma ideia portadora de futuro para o Sistema Educativo, a qual não se resolve com "acertos" meramente marginais; segundo, o problema da instabilidade interna que é sempre provocadora de entropia. Exactamente tudo o que o sistema não precisa, a ausência de inovação estrutural, conjugada com a fragilidade e flutuação de comportamentos. É um desastre quando estes dois aspectos se conjugam.
O problema é que, por agora, já não há volta a dar porque a legislatura caminha, rapidamente, para o final. Ninguém, sendo poder, arriscará mexer na estrutura do sistema, a meses de uma pré-campanha eleitoral. Se não fez até agora, não o fará nos meses que faltam. Deduz-se, então, que foram mais quatro anos a navegar à vista, com festas, festinhas, apoios aqui e ali (privatização), presenças para a fotografia, suplementos promocionais, peças por "encomenda", entrega de prémios, enfeitados discursos de circunstância em jornadas, conferências e pouco mais. Por outro lado, há um aspecto que reputo de relevância maior: dispor de uns subalternos que deixam o marfim correr, ter uma grande parte das direcções das escolas curvadas às orientações em um ensurdecedor silêncio, tal não significa o apoio da generalidade dos mais de seis mil professores, quase 70% dos quais sindicalizados. Simplesmente porque há muito perceberam que há um vazio de projecto que vem de muito longe e persiste. A investigação não passou por ali e, se passou, através de jornadas, conferências, etc., o secretário tem feito ouvidos de mercador. Nada de ondas!
Ora, tudo isto é preocupante, quando os índices de abandono e insucesso são assustadores, a qualificação profissional péssima, a desmobilização dos professores um facto incontornável e quando tentam remediar com pensos rápidos as feridas que têm uma natureza profunda. Sobre tudo isto há um aspecto que me deixa perplexo: porque é que o presidente do governo não consegue ver o desnorte, parecendo que antes o apoia? Há muita história para perceber e contar! Uma questão de tempo.
Ilustração: Google Imagens.

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