FACTO
A Escola Básica dos 2.º e 3.º Ciclos de S. Roque “recebeu hoje a cerimónia de entrega de Kits de Robótica e Programação a todas as escolas de 2.º e 3.º ciclos da Região Autónoma da Madeira. Uma oportunidade que serviu para Jorge Carvalho, secretário regional da Educação, dizer que o uso de tablets na sala de aula poderá ser uma realidade no próximo ano lectivo, a partir do 5.º ano de escolaridade. O governante revelou que esta medida está a ser estudada em conjunto com as escolas para saber se estas estão preparadas. Jorge Carvalho referiu ainda que esta nova metodologia de trabalho seria também uma forma de aliviar o peso das mochilas”. Fonte: DN-Madeira.
COMENTÁRIO
É a velha história de Alice, neste caso, de um secretário na Região das Maravilhas: “(…) Alice se não sabes para onde vais, qualquer caminho serve”. É isso. A complexidade do sistema educativo é tal que deveria obrigar à necessidade de, respeitando o planeamento e a cadência no tempo, primeiro, saber onde se está, o que implica uma extensa caracterização; segundo, saber onde se quer chegar, para, finalmente, definir os passos a dar para lá chegar. É uma regra básica para administradores e gestores, públicos ou privados.
Ora, a mudança de um sistema não se faz por impulsos, hoje isto, amanhã aquilo, conforme o que ditam a comunicação social, as redes sociais e outros meios, como se o sistema pegasse de empurrão, antes concretiza-se de uma forma pensada, articulada e integrada. Portanto, fica um rasto de dúvida quando é dito que o “uso de tablets na sala de aula PODERÁ ser uma realidade (…) a partir do 5º ano” (porquê o 5º e não desde o 1º ano?), ao mesmo tempo que é dado um salto nas preocupações, através da entrega de “Kits de Robótica e Programação a todas as escolas de 2.º e 3.º ciclos”. Não existe a base, mas o estádio posterior é colocado na linha de partida. Dois exemplos: foi a “sala de aula do futuro” (uma, apenas), agora os “Kits de Robótica e Programação” (naturalmente, para poucos). Ininteligível. Isto demonstra que a secretaria da Educação alimenta-se do mediatismo, pouco se ralando com aquelas três perguntas essenciais: onde estou, onde quero chegar e que passos tenho de dar para lá chegar.
Finalmente, o drama da aprendizagem é essencialmente de natureza organizacional, curricular, programática e PEDAGÓGICA, que envolve múltiplas disciplinas e variáveis, porém, fica o testemunho que nada disso constitui motivo de preocupação embora seja aí que resida o âmago de uma desejada mudança. Essa transformação exige uma verdadeira autonomia dos estabelecimentos de aprendizagem, CONFIANÇA nos professores, dizer NÃO à centralização do sistema, um orçamento compatível, desburocratização, uma nova concepção da rede escolar, uma nova configuração arquitectónica das escolas e sobretudo que não se brinque, politicamente, com coisas muito sérias. O problema NÃO está só no "alívio do peso das mochilas”. É muito mais complexo desde que não se queira utilizar os "tablets" para repetir o manual ou para substituir os velhos diapositivos e acetatos.
Ilustração: Google Imagens.
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