FACTO
"Se é necessária toda uma aldeia para educar uma criança, por que as fechamos em salas? - Fonte: Dr. Carlos Andrade - DN-Madeira/Revista.
COMENTÁRIO
Sobre política educativa, nas reflexões que aqui vou publicando, muitas vezes tento desenvolver raciocínios mais ou menos elaborados, em uma ânsia de provar, por um lado, a minha angústia por não ver qualquer pontinha de desejo de mudança de um sistema reclamado pelas próprias crianças e jovens; por outro, pela necessidade de conduzir os políticos a repensarem processos que a ciência já os catalogou de anacrónicos. Escrevo tantas páginas quando, uma frase, que cabe em uma linha, diz tudo. Partindo de um provérbio africano o Dr. Carlos de Andrade, meu distinto Colega, compaginou-o e perguntou de forma sagaz: "Se é necessária toda uma aldeia para educar uma criança, por que as fechamos em salas?"
Exclamei para dentro: boa pergunta... é isso! A formação básica deveria ser suportada por um conhecimento distante da ideia ditada pelos manuais que, no seu conjunto, são enciclopédicos e apenas servem para ler, seguir, muitas vezes decorar, despejar nos testes e esquecer.
Ora, um olhar interdisciplinar da vida, sublinho, VIDA, que está muito para além do manual, deveria constituir o alicerce consistente sobre o qual se edificariam os pilares de suporte do conhecimento, inclusive, os de natureza superior e especializada. Assim não acontece e, por isso, a escola, grosso modo, tornou-se uma "seca". É o que eles, genericamente, dizem. O que significa que falta mundo à escola, falta aldeia, capacidade para perceber que existe mais escola para além da escola e que, por conseguinte, os muros circundantes da escola não devem impedir de ver e experimentar o mundo.
A escola está desconectada da vida real, teimosamente enredada no individualismo, em disciplinas sectoriais, extensos programas e na complexidade burocrática, quando a vida real pede globalidade, flexibilidade, pensamento crítico, permanente questionamento, trabalho em equipa e disponibilidade para desaprender. A vida pede exactamente o contrário da escola. Eu diria que falta à escola uma dimensão social do saber. Falta-lhe CULTURA.
O paradoxal desta situação é que, amiudadas vezes, não apenas os governantes, é certo, falam que vivemos, hoje, em "uma aldeia global", mas quando olham para o sistema educativo, nas suas "empoeiradas mesas de gabinete", comportam-se e legislam como se a escola fosse uma aldeia fechada ou com pequenas janelas, chamaria gretas, viradas para o exterior.
Em 2016 li um estudo sobre a adolescência, da Organização Mundial de Saúde, tendo por base "inquéritos realizados a mais de 220 mil alunos, dos quais cerca de seis mil portugueses. Não será decerto, por acaso, que estes aparecem entre os que gostam menos da escola, colocando Portugal na 33.ª entre os 42 países e regiões analisados". E isto acontece porque “o sistema está orientado, de uma forma absolutamente excessiva para os resultados” — ou seja, para os exames e para as notas que neles se conseguem - Fonte: Público, texto de Clara Viana. Não está orientado para a sabedoria, porque lhe falta, repito, MUNDO. Falta-lhe a ALDEIA que não pode circunscrever-se ao rotineiro toca-entra-toca-sai!
Pois é, Caríssimo Dr. Carlos de Andrade, concordo, fechar as crianças em salas constitui o caminho mais certo para uma inadaptação a este mundo que exige sabedoria e disponibilidade para ver para além do horizonte.
Ilustração: Google Imagens
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