sábado, 10 de dezembro de 2022

Então o Secundário é acessório?

 

É mais uma particularidade de um sistema educativo estruturalmente desadequado e que integra uma terminologia sem sentido. Pelo menos do meu ponto de vista. Vejamos esta: neste momento, após o terceiro ciclo do básico segue-se o secundário. Certo? Pergunto: secundário, porquê?



Se consultarmos o significado da palavra secundário constata-se: "(...) que é de segunda ordem ou ocupa o segundo lugar em ordem, graduação ou qualidade, relativamente a outrem ou outro. De menor importância, matéria secundária. De pouco valor, acessório, inferior. Do latim secundariu, em segundo lugar (...)". 

Chamem-lhe tudo, menos secundário: "Nível 4 de Aprendizagem", pré-universitário ou pré-superior, agora, secundário, obviamente que sugere qualquer coisa de segunda ordem e de pouca valia. E aquilo que o actual sistema defende é que ele não é de menor importância. Até enquadra exames nacionais de acesso ao superior, logo, de redobrada importância. Que paradoxo!

Parecendo que se trata de uma questão de pormenor, não é. Talvez fizesse algum sentido quando a obrigatoriedade da aprendizagem terminava no 9º ano! O que vinha a seguir, lamentavelmente, era considerado "secundário" nessa lógica da obrigatoriedade do Estado garantir a todos a universalidade "tendencialmente gratuita" (que mal isto me soa) até aos nove anos de escola básica. Portanto, não é aceitável deixar transparecer que, apesar da escolaridade obrigatória ser agora de doze anos, aqueles três anos finais, sejam acessórios. 

E se trago à colação esta designação, muito semelhante a outras na classificação internacional, é porque entendo que, por um lado, não me parece correcto que se siga uma dada classificação assumida por outros, porque sim, por outro, porque o sistema deve constituir-se em harmonia quer nas designações, quer nos currículos, quer, ainda, nos programas ou nos formatos organizacionais. A diversidade é fundamental, o que me faz rejeitar padronizações europeias ou outras.

Mais, ainda. Porquê 1º, 2º e 3º ciclos? Hoje, não vejo onde reside a lógica da diferenciação dos ciclos. Então, repito, a obrigatoriedade da aprendizagem não é de 12 anos? E a aprendizagem não deve assentar num continuum e sustentada na integração do conhecimento, respeitando a interligação e cadência dos diversos patamares da aprendizagem? 

Ora bem, era aqui que queria chegar. Tenho tido a feliz possibilidade de cruzar muita informação, desde o que leio até aos contactos com professores e alunos, enfim, com pessoas preocupadas com o conhecimento que está muito para além da resposta dita "certa" (!) a um qualquer assunto do manual, por seu turno sucessiva e obsessivamente avaliado. E o que leio e o que oiço leva-me a concluir que o sistema tem de passar por um profundíssimo debate que adeque a sequência da aprendizagem ao tempo que nos coube viver. Temos o dever de virar o sistema de pernas para o ar. 

Não devem os políticos de plantão brincar com o tema Educação. A Educação é política e não partidária. É um desígnio de todos. Eu diria, menos propaganda e mais acção consistente no sentido de, corajosamente, preparar a Região para que o povo seja feliz cá dentro. Para isso, torna-se imperativo revolucionar o sistema educativo. E quem não tem essa capacidade, quem não consegue ver para além do horizonte visual, desampare o caminho. Em nome dos jovens e da resposta aos problemas sempre novos.

Ilustração: Google Imagens.

Sem comentários:

Enviar um comentário