quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

Os exames não podem valer tudo


Por
Felisbela Lopes
06 Janeiro 2023

NOTA

O verdadeiro CONHECIMENTO é muito mais do que uma série de, permitam-me a palavra, "marranços" ou de uma insistência na repetição que conduz à transcrição das soluções constantes nos manuais. O CONHECIMENTO, geral ou específico, eu diria, portador de futuro numa aprendizagem consistente e para a VIDA, está muito para além de uma folha de exame. Já muito escrevi sobre isto, compaginado com tantos autores e investigadores que continuo a ler. Tenho presente Edgar Morin, Filósofo francês, hoje com 102 anos, que defende que a maior urgência no campo das ideias não é rever doutrinas e métodos, mas elaborar uma nova concepção do próprio conhecimento. No lugar da especialização, da simplificação e da fragmentação de saberes, Morin propõe um dos conceitos que o tornaram um dos maiores intelectuais do nosso tempo: o da complexidade".
Defendo, por isso, que o acesso ao superior deve merecer um outro entendimento. Não acompanho a via que recentemente foi proposta. É mais uma prova da necessidade de uma profunda revisão de todo o sistema que, de forma interligada, corresponda, repito, ao verdadeiro CONHECIMENTO, impossível de detectar em folhas de exame. Dá trabalho, pois dá, mas é esse o caminho. São tantos a dizê-lo.
Este texto de Felisbela Lopes, Professora Associada da Universidade do Minho, transporta essa preocupação. Convinha que os decisores políticos, de vez em quando, estudassem um pouco!



"Notícias desta semana avançam que, no novo modelo de acesso ao Ensino Superior, os exames finais deixam de ser obrigatórios para a conclusão do Ensino Secundário, mas ganham mais peso para quem quer prosseguir os estudos, podendo valer, pelo menos, metade da nota de acesso a uma universidade ou a um politécnico. Tal decisão contraria a valorização da aprendizagem contínua e a importância da formação integral dos estudantes que tanto se tem defendido.

Na licenciatura, tive um professor que, nos testes, nunca dava uma nota superior a 16 valores. "Os quatro valores são para descontar os copianços", explicava-nos. Aqueles que ficavam empancados nesse teto de avaliação argumentavam vezes sem conta que não faziam isso, nem tão-pouco a natureza dos enunciados permitiria tal prática. Em vão, o que prejudicava enormemente quem era excelente naquela disciplina. Lembrei-me desta reprovável prática pedagógica a propósito da opção de aumentar o peso dos exames finais do Ensino Secundário para esbater aquilo que se diz ser uma tendência para inflacionar as notas por parte das escolas privadas. Nada mais injusto.

Pressupor que as elevadas notas dos colégios correspondem, à partida, a uma interferência administrativa é ofensivo para muitos (diretores, professores e estudantes) que trabalham arduamente, seguindo planificações minuciosas e metodologias de grande rigor. É claro que há casos ilícitos. Fiscalize-se, então, tudo, criando punições severas para as ilegalidades. Mas não se tome a parte pelo todo.

Se aumentar o peso dos exames de acesso ao Ensino Superior, o Ministério da Educação deita por terra princípios basilares que estruturam o percurso escolar ao longo de cada ano letivo, nomeadamente a aprendizagem contínua. E envolve os estudantes em turbopreparações para três ou quatro provas que decidem tudo em meia dúzia de horas. Não pode ser.

Tal caminho é irrazoável e potenciador de assimetrias, dividindo os estudantes entre aqueles que têm capacidade financeira para se prepararem com a ajuda de explicadores e aqueles que, sem meios para uma ajuda adicional, estudam sozinhos. Oiça-se o Conselho Nacional de Educação que há muito tem reiterado a urgência em se emendar este tipo de equação de acesso ao Ensino Superior. Ou então preste-se atenção ao que dizem os alunos quando saem dos exames e asseguram que ninguém deveria condicionar a opção por uma licenciatura com base num ou dois exames. Têm razão. O Governo ainda vai a tempo de corrigir rotas erráticas..."

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