terça-feira, 2 de abril de 2024

Tão simples e tão profundo (II)



Não dou por perdida a luta de muitos e de há muitos anos. Aliás, as mudanças arrastam sempre uma resistência de anos, porque os hábitos enraízam-se, porque o medo do desconhecido instala-se no convencimento que se sempre foi assim, porquê mudar(?) e, também, pela comodidade a que a rotina conduz. Ah, porque a hierarquia política, amante da "tranquilidade e da normalidade", assim impõe. Ela não aprecia quem seja prospectivo, quem fuja ao itinerário traçado. Mudar exige estudo, aprofundamento do conhecimento, inconformismo, leitura do mundo, comprometimento, muito trabalho, e tudo isto apavora os apreciadores do "status quo".



Há 53 anos, transcrevi no meu "Relatório de Estágio Pedagógico" uma frase de Paul Ginisty (1855/1932) que continua com uma impressionante actualidade: "Não é possível ser pedagogo sem adoptar uma certa visão do ser humano que visa legitimar a prática". E, recentemente, li no blogue "Educrítica": "Para ensinar o latim ao João, todos sabem hoje que é indispensável conhecer o latim e o João. Mas mais ainda: é preciso saber porque é que se deseja que João aprenda latim, como é que a aprendizagem do latim o irá ajudar a situar-se no mundo de hoje - numa palavra, quais são os fins visados pela educação. E há pelo menos uma componente política em qualquer resposta que se pretenda dar."

Pois, é isso mesmo! Ao correr das palavras que vou digitando, acompanha-me o meu Amigo Padre Martins Júnior: "rezar é fácil, pensar é muito mais difícil", o que se aplica, ao fim e ao cabo, a tudo, da Igreja à Escola.

Deduz-se, então, que o sistema educativo continua, qual metáfora, a "rezar" pelo manual, "sem uma visão do ser humano que vise legitimar a prática" e, portanto, sem "saber porque é que se deseja que João aprenda latim" ou outra coisa qualquer. E sendo assim, como revela a infografia, dir-se-á que "doutrinar é fácil", mais complexo é "mostrar às pessoas como aprender".

Os que se refastelam nos desengonçados e empoeirados cadeirões do exercício da política deviam ter presente o que Agostinho da Silva nos deixou: "O que impede de saber não são nem o tempo nem a inteligência, mas somente a falta de curiosidade.”

Se tivessem isto presente mudavam tudo.

Nota
Fotografia e legenda de Noam Chomsky enviada pelo meu Amigo Dr. João Luís Aguiar, Professor de Filosofia.

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