segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

O QUE É UM "RESULTADO DESAFIANTE E PROMISSOR"?


O secretário regional da Educação andou de escola em escola, dizem, em um périplo para ouvir os responsáveis locais (!). Por fim, disse estar em presença de um "resultado desafiante e promissor". Motivado pelo título da peça do DN-Madeira, um tal resultado, "desafiante e promissor", fui empurrado para a leitura. Um logro, pois o resultado "desafiante e promissor", afinal, circunscreveu-se a mais funcionários, mais umas obras de manutenção e mais uns cursos "para evitar o abandono". Espantoso. Do miolo, isto é, daquilo que poderia e deveria constituir a mudança estrutural do sistema, nem uma palavra. Como se o problema do abandono, por exemplo, pudesse ser resolvido com mais cursos, com umas obras e com mais funcionários! 


Há aqui uma profunda desfocagem da realidade. Não quero ser deselegante, mas, questiono-me, sobre o porquê deste redutor "desafio promissor": será desconhecimento, ausência de ambição ou uma forma de empurrar os problemas para diante, quando existe tanta produção científica no quadro deste novo mundo e dos processos organizacionais e pedagógicos necessários.
Quando se sabe que, por melhores condições que tenham os edifícios e por melhor que seja a rácio alunos-empregados, no plano organizacional e pedagógico, se a actuação for idêntica à do passado, só se pode esperar no futuro resultados iguais aos de hoje. Então, por que insistir na mesma tecla?
Ainda há dias, um investigador da Universidade do Minho passou pela Região da Madeira e falou de um currículo com "gorduras", cada vez mais "obeso". Entre tantos outros, um assunto importante, eu diria inquietante, porém, o silêncio continua a ser a marca do governo. E assim sendo, porque há uma necessidade de "mostrar algum serviço", deduzo eu, veio o secretário mostrar-se preocupado com as obras, quando as questões da manutenção do parque infra-estrutural nem a ele deveriam chegar! Quanto a novos funcionários (há que anos tal é reclamado), embora importante, de todo, não é decisivo.
O problema do sistema educativo não está nas obras.
E diz, ainda, o governante: "(...) Não acredito em reformazinhas parcelares". Nem eu. E se, com um mínimo de bom senso e sentido prospectivo, ninguém acredita, então a aposta, nunca deverá ser em novos cursos "para evitar o abandono", mas na construção de um paradigma compaginado com outros sistemas, capaz de romper com mais de dois séculos de rotinas. Os "novos cursos" são, sempre foram, pensos rápidos em uma ferida profunda. A ferida da pobreza, em sentido lado, evidente a  montante do sistema e que não compete à escola esbater; e a ferida da decadente organização, a todos os níveis, do sistema educativo. Mas, aí, o silêncio político, uma vez mais, foi linha orientadora.
Ilustração: Google Imagens.

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