quarta-feira, 8 de novembro de 2017

O PARADOXO DAS "BOAS PRÁTICAS NOS CONTEXTOS EDUCATIVOS"


Volta e meia lê-se, por aí, uma qualquer declaração onde vem à baila as "Boas Práticas nos Contextos Educativos". Ainda há dias, sobre um protocolo visando a participação de psicólogos no sistema educativo, falavam de uma "escola saudávelMente" no quadro das tais "boas práticas nos contextos educativos". Interrogo-me: afinal, o que são, hoje, as tais pressupostas "boas práticas nos contextos educativos", quando o sistema estruturalmente é sempre igual? O que é uma escola de "mente saudável"? Ora, só podem existir boas práticas quando, a partir da experiência vivida e reflectida, se conclui da necessidade de uma mudança estrutural do sistema. Mudança que deve assentar, sempre, naquilo que enforma a palavra processo, enquanto acto inacabado e contínuo. Se assim não acontecer, quando, estruturalmente, não se altera a matriz do sistema, então podemos dizer que as "boas práticas" correspondem a pensos rápidos sobre uma ferida profunda. Em uma aproximação ao sistema educativo dir-se-á que tapa a ferida, mas não resolve a questão de fundo. 


Significa isto que qualquer actuação nas margens, distante de uma visão global, compaginada a montante e a jusante do sistema, não só não resolve como não atenua a dor sentida, fundamentalmente, por professores e alunos. Aliás, se trazem à baila as "boas práticas nos contextos educativos" é pela assumida percepção que a resposta do sistema é frágil e denuncia insuficiências. Não ir ao encontro das causas parece-me tempo perdido. Parece-me, não, é tempo perdido! Uma doença grave não se resolve com aspirinas. É, portanto, espantoso e revelador de insuficiências ao nível do pensamento estratégico, ao invés de, primeiro, estudar e determinar para onde desejam ir, preferir a insistência em uma estrutura inconsequente à luz dos nossos dias. Trata-se de um paradoxo. 
Lembro, a propósito, que, em Maio de 2011, o então secretário regional da Educação da Madeira, propôs a colocação de sociólogos nas escolas da Região. Já não bastariam os psicólogos! A esse propósito escrevi um texto (aqui) que visou equacionar esta inútil proposta política. A páginas tantas, salientei: 

"(...) A Sociologia, enquanto ciência humana, que estuda as múltiplas unidades que formam a sociedade, as suas interdependências, a(s) sua(s) cultura(s), salvo melhor opinião, não se coaduna com a proposta do secretário. Parece-me absolutamente desadequada tal proposta à luz da Escola que se quer e do futuro desempenho profissional. A prioridade não é essa. Aliás, são muitas, desde a reorganização da rede escolar, a cultura organizacional, a formação inicial, complementar e especializada dos professores, a efectiva autonomia administrativa e pedagógica, o adequado financiamento, os problemas resultantes do currículo e dos programas, deles expurgando a "tralha" e, a montante, os problemas da família, da economia (emprego) e da pobreza. Se o secretário demonstrasse empenhamento nessas áreas de intervenção conjugando-a em parceria com outras pastas do governo, estaria a prestar um bom serviço. Agora, sociólogos na Escola....". 

Vive-se a onda dos psicólogos e, por pouco, julgo eu, a onda dos sociólogos não passou de uma mera proposta. Sempre a política do "penso rápido", jamais, pelo menos, a fuga à tentação de andar atrás dos acontecimentos. Não vejo os responsáveis políticos preocupados em mexer na estrutura com medidas portadoras de futuro. Mais um "projecto" aqui, outro ali, enfim, "projectos" é coisa que não falta nas escolas. Depois, genérica e globalmente, dão vivas à ponta do icebergue, aos tais que conseguem vinte valores a tudo, enaltecem a meritocracia (mesmo os piores sistemas geram resultados de topo), e assobiam para o lado perante a falange de insucessos e abandonos, por mais que abordem essas tais "boas práticas nos contextos educativos". Por favor, parem e pensem. Pensem no significado, por exemplo, da Web Summit face à "tralha" que hoje invade a Escola! Isto é, se o Sistema Educativo está em linha com os desafios do futuro. Se aquilo que transmitem tem alguma ligação com os empregos do futuro".
Ilustração: Google Imagens.

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