quarta-feira, 23 de setembro de 2020

Cidadania e Desenvolvimento. "Conhecimento fragmentado", não, obrigado!

 

O conceito de "conhecimento fragmentado" de que fala a filósofa Viviane Mosé aplica-se à situação da polémica em redor das "aulas" de "Cidadania e Desenvolvimento social". Vou, directamente, ao assunto: embora as múltiplas e importantíssimas questões da cidadania sejam de um valor incalculável na vida, não devem fazer parte de uma disciplina isolada, ainda por cima, sujeita a uma avaliação. É redutor a roçar o ridículo.



A aprendizagem segmentada ou "fragmentada" por disciplinas constitui um formato que teve o seu tempo, mas que não se adequa ao pensamento integrado, no essencial, à exigência dos tempos que correm. 

Dir-se-á, com razão, que os direitos e os deveres de um indivíduo, os actos de responsabilidade deveriam partir das famílias: as preocupações ambientais, de consumo, economia doméstica, interculturalidade, segurança, direitos humanos, património, igualdade de género, tolerância, sexualidade, sentido humanista, eu sei lá, tantas são as áreas da relação do indivíduo com mundo. Para isso precisaríamos de ter um sistema educativo que, para já, nos últimos 46 anos, tivesse educado nesse sentido. Infelizmente, assim não foi e não é. O défice é significativo. Competirá, portanto, à escola, colmatar e educar nesse sentido. Porém, jamais enquanto disciplina autónoma. 

A cidadania, logo nos primeiros anos de escolaridade, constitui um processo transversal na aprendizagem, onde todos, repito, todos os professores devem estar envolvidos. É ininteligível a actual estrutura organizacional, curricular, programática e pedagógica que caracteriza o sistema, claramente "fragmentado", quando a escola precisa de uma revolução de conceito, que a leve a integrar o conhecimento. Logo, a "cidadania" lá estaria como preocupação básica. É a escola que tem de mudar na ideia de escola. Acrescentar um conjunto de preocupações autónomas, sujeitas a uma avaliação, para além de errado, apenas consomem tempo com resultados que não são proporcionais ao investimento.

Mas, para que essa transversalidade aconteça, também se torna necessário olhar, atentamente, para a formação dos professores. Ela é determinante. Docente que não transporte um conjunto de princípios tidos como fundamentais, não estará apto para ser o mediador de uma aprendizagem consequente. Mas também coexiste um outro aspecto, o da autonomia dos estabelecimentos de aprendizagem: enquanto todo o poder de decisão estiver centralizado, sem hipóteses de criação de outras experiências, obviamente que serão nulas as possibilidades de entender a escola como espaço de uma aprendizagem integrada e portadora de futuro. 

Ilustração: Google Imagens.

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