quinta-feira, 6 de julho de 2023

A propósito de um comentário


Um texto que aqui publiquei mereceu um comentário do meu Amigo Urbelino Ferreira: "Prezado André Escórcio, tenho vindo a seguir os seus pensamentos sobre a Escola e a Educação, com a maior acuidade, já que me revejo, bem, no seu método de reforma da curricula, em Portugal. Sabemos, em geral, que cada mudança de ministro (ou Secretário regional) da Educação, corresponde a uma nova visão, tendencialmente, pessoal. E as Educação e Cultura de um país - como noutras áreas da governação -, jamais poderão estar sujeitas a planos de quatro anos. Para bem de um país e do seu povo, os planos de governança deveriam ser consentâneos com uma visão para decénios. (...)"



Caríssimo, muito obrigado pelo seu comentário. Concordo consigo quando adianta a necessidade de um "Pacto Educativo para o Futuro" que, nas suas linhas estruturantes, dite o rumo que se deseja para o sector educativo. Aliás, na esteira do ex-ministro da Educação Doutor Marçal Grilo (1995) que defendeu, exactamente, a importância desse pacto político de pendor estratégico. É evidente que, constituindo um processo, um pacto sempre sujeito aos reajustamentos que a ciência e as circunstâncias forem ditando. Por isso, defendo o conceito de paradigma e não de modelo. Porque o paradigma afigura-se-me como qualquer coisa pela qual me guio, enquanto o modelo transmite-nos um sentido estático. No essencial, o modelo, é o que temos na política educativa há muitas dezenas de anos, independentemente de quem tem tido a responsabilidade de governar.

O problema é que, no plano político, são poucos os que para aí estão virados. O mediático, a ignorância e o comodismo, têm prevalecido. Se perguntarmos a muitos políticos para onde caminhamos, a prática diz-me que exprimirão muitas dificuldades em assumir uma linha de pensamento coerente e portadora de futuro. E quando não se sabe, sobressai a lógica que "qualquer caminho serve". E para além dos políticos de serviço, acresce o facto dos professores, espartilhados em normas e condutas desejadas pela hierarquia, intencionalmente, foram e estão empurrados para um comprometedor silêncio. Participam em seminários, colóquios e outras formações, porque, por estatuto e normas são obrigados a horas de formação, onde muitas vezes são equacionados os problemas estruturantes do sistema, mas depois, no estabelecimento de aprendizagem, nos seus locais de trabalho, tudo passa para plano secundário, pois a hierarquia acaba por impor o tal "modelo" estático e centralizador.

Finalmente, os pais. Ora, se os professores não se movimentam pelas sumárias razões que acabo de enunciar (os problemas da Educação não se esgotam no respeito pela sua carreira) então os pais pior ainda. Falta-lhes, grosso modo, informação e capacidade para perceber o que deve ser a aprendizagem adequada aos tempos que correm. Tem sido notório que seguem o pensamento que têm "do seu tempo", agora agravada pela desorganização da sociedade (entre outros, a importante entrada da mulher no mundo laboral que não foi devidamente acautelada em defesa da estrutura familiar), onde, ridiculamente, se considera que "mais trabalho significa melhor trabalho". Consequentemente, mais importante não é o que os filhos fazem na escola, mas sim o espaço "armazém de guarda" enquanto trabalham. 

Por isto e muito, muito mais, os políticos fazem ouvidos de mercador ao pensamento ditado pelas universidades, ao pensamento que tantos autores têm vindo a veicular nos últimos 50 anos, repudiam a ideia de abrir o debate sobre os caminhos mais desejáveis, reunindo políticos, professores, investigadores, autores, cientistas de várias áreas, psicólogos, sociólogos, empresários, enfim com todos os que produzem pensamento. Não o fazem porque têm medo! E é por isso que nos movimentamos no pântano dos "achismos", das concepções pessoais e não no plano da CULTURA onde tudo o resto se agrega.

Uma vez mais, obrigado pelo comentário, porque neste mundo de preocupantes silêncios, eu conto pelos dedos de uma mão os que comentam o que escrevo. E só na Madeira são perto de 6 000 os professores. Não existe debate. Subsiste a rotina. Percebem-se as razões.

Um abraço.

Ilustração: Google Imagens.

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