segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

AFINAL, QUAL O PARADIGMA DE SISTEMA EDUCATIVO QUE O SECRETÁRIO REGIONAL PRETENDE?


FACTO

O secretário regional da Educação da Região Autónoma da Madeira anunciou que a escola do Galeão (S. Roque) será dotada de uma "sala de aula do futuro" para formação de docentes e utilização própria e que, no próximo ano, possivelmente, a região será dotada de mais quatro. Fonte: DN-Madeira.

COMENTÁRIO
E PERGUNTA

Tenho dificuldade em classificar as declarações do secretário, insertas na página 2 da edição de ontem do DN-Madeira. Fico-me por um única palavra: trapalhada, porque cheia de lugares comuns e de um chorrilho de desacertos conceptuais. Entre vários, o secretário mistura ou confunde "salas do futuro" com recuperação do tempo de serviço dos professores; aprendizagem com Autonomia e tecnologia com gestão dos recursos humanos, através da criação de zonas Madeira e Porto Santo. Difícil entender tanta desordem o que, em um sector tão complexo, deixa-me perplexo e preocupado. Ou talvez não! Quem desejar e se sentir motivado que leia a estrutura do pensamento das citadas declarações.

Em 29 de Junho de 2009 escrevi um artigo onde salientei:

"(...) não basta criar novos estabelecimentos de ensino, tampouco multiplicar as salas de informática ou substituir o quadro preto e o giz por quadros interactivos e multicolores. Tony Bates (ex-vice-presidente executivo da Microsoft) é claro sobre esta matéria: "O bom ensino supera uma escolha tecnológica pobre, mas a tecnologia nunca salvará o mau ensino". Há uma base que terá de ser construída e essa base é de pensamento organizacional e pedagógico, é de conquistas ao nível do desenho curricular e correspondentes programas, à qual se juntam, de forma indispensável e inquestionável as políticas de família no quadro das políticas sociais. O sucesso, ou melhor, o futuro da nossa Escola depende do rigor, do trabalho que integre todas estas variáveis." 

Ora, a tecnologia entra (obrigatoriamente tem de estar presente) a par de um conjunto de factores que são determinantes. O processo tem uma natureza global. E isso o secretário não percebe ou não sabe como estruturar. Tanto assim é que, assumiu, no próximo ano (por ser ano de eleições legislativas, outro poderá ser o responsável político) existirão mais quatro "salas", em locais a definir, de acordo "com as distâncias a percorrer pelos professores com as localidades de maior concentração de estudantes". Isto pressupõe que alguns professores, entretanto "formados para as salas do futuro" viajarão de escola em escola a anunciar uma espécie de "boa nova". Por este andar, em função do número de estabelecimentos de aprendizagem, só restará ao sistema andar sempre a reboque e nunca como estrutura dianteira.
Na lengalenga a propósito do futuro, naquelas declarações, nem achei estranho que se encontrando em (re)construção os edifícios da Ribeira Brava e do Porto Santo, o secretário, não tivesse abordado a respectiva concepção arquitectónica desses estabelecimentos, a proposta de paradigma organizacional e a natureza pedagógica a implementar. Esquisito? Não. O que ali esteve em causa foi fogo de artifício para cumprir um número político!
Depois, complemento, resulta que o secretário não acredita na capacidade dos professores para organizarem uma escola diferente. Porque, de facto, ele não a deseja. O caso do encerramento da Escola do Curral, "apresentada como a Finlândia portuguesa" é paradigmático. Para ganhar tempo (!) ou arrastá-lo, primeiro, diz, há que formar os professores, depois, logo se verá. E não é assim, na minha opinião, que se esbate o atraso, muito menos se conquista o futuro. Só partindo do pressuposto da autonomia dos estabelecimentos de aprendizagem, só acreditando que não existem duas escolas iguais, dois públicos iguais, dois grupos de professores iguais e que a centralização mata a criatividade, só partindo da síntese que "o bom ensino supera uma escolha tecnológica pobre, mas a tecnologia nunca salvará o mau ensino", portanto, que a questão da aprendizagem tem uma primeira raiz de natureza organizacional e pedagógica, será possível dar passos consistentes. O resto são bolas chutadas para as bananeiras!
Uma pergunta final: sendo assim, qual é o paradigma de sistema que o secretário quer ajudar a construir? 
Se alguém souber, faça o favor de me ajudar a compreender. 
Ilustração: Google Imagens.

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