quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

Perguntas, muitas perguntas...


Os excertos que ontem publiquei, a propósito do olhar de uma mãe, no decorrer de uma reunião na escola dos seus filhos, ainda ecoam na cabeça. Ela apenas transmitiu o que viu e eu diria, pela montra, facilmente adivinhou o que iria no armazém! A questão, agora, é outra. Aquela mãe, sensível ao desenvolvimento, olhou e terá suspirado fundo ao jeito de, não creio no que estou a ver! 


Então, a partir daí, creiam, não me sai da cabeça, o porquê de ser assim. Isto apesar das minhas convicções e do muito que tenho escrito sobre o assunto. Deixo aqui as interrogações que me envolvem.
Os professores não sentem aquilo? O secretário e os directores regionais, que são tantos, ninguém consegue ver que este sistema a nada conduz? Que desde a segunda metade do século XX o Mundo vive em uma constante aceleração tecnológica, onde a escola deveria estar na dianteira, enquanto resposta, porém, pelo contrário, fechou-se ao mundo, com pequenas alterações marginais e de circunstância? Os directores ou presidentes dos conselhos executivos não sentem que têm de dar um "grito de Ipiranga" nesta rotineira e doentia escola onde poucos são felizes? Ninguém vê que as crianças e jovens, de forma crescente, estão a detestar a escola, porque existe uma diferença abissal entre o que são, o que querem, o que trazem na "pasta" e o que a escola oferece? Ninguém vê isto? Ninguém vê que existe uma doentia OBSESSÃO pela avaliação e não pela verdadeira e duradoura aprendizagem? Ninguém toma consciência que não podem existir estabelecimentos de aprendizagem com mil, dois mil e até dois mil e quinhentos alunos? Ninguém, ainda, percebeu que o grande só acarreta problemas? Ninguém, ainda, entendeu que os conceitos de aula e de turma estão errados e que existem outros formados muito mais credíveis no quadro de uma aprendizagem motivadora e portadora de futuro? Ninguém, ainda, percebeu que mais tempo de escola não significa melhor escola e melhor aprendizagem? Ninguém, ainda, percebeu que a segmentação por disciplinas não se ajusta aos novos tempos, fundamentalmente, porque tudo está interligado, portanto, que existe uma complexidade e que essa é que deve ser trabalhada no quadro do futuro profissional? Ninguém, ainda, percebeu que os professores têm de falar menos e que são os alunos os actores do processo de conhecimento (mediados pelo professor) e que eles é que têm de "meter a mão na massa"? Ninguém, ainda, percebeu que os manuais não fazem sentido quando existem tantos meios tecnológicos? Ninguém, ainda, percebeu que basta uma palavra em qualquer motor de busca e logo aparecem centenas, milhares e milhões de hipóteses de consulta? Ninguém, ainda, percebeu que o excesso de burocracia dá cabo dos professores e da escola? Ninguém, ainda, percebeu que não é por se realizarem centenas de reuniões e elaboração de relatórios que a aprendizagem melhorará? Ninguém, ainda, percebeu que, relativamente aos tpc, se a escola não consegue resolver a aprendizagem depois de tantas horas, o problema está na escola e não na criança? Ninguém, ainda, percebeu que estão a gerar jovens cheio de ansiedade e que as escolas, do ponto de vista programático, estão cheias de "entulho"? Ninguém, ainda, percebeu que a centralização pune, severamente, a autonomia, a criatividade e  subjuga os professores? Ninguém, ainda, percebeu que se trata de um erro não pensar a sociedade a montante da escola? 
É óbvio que muitos, muitos mesmo, já perceberam, só que estão à "espera de um sinalzinho de cima". E, assim, tudo continua na paz do "senhor" governo! E como no pseudo vértice estratégico, ou não sabe ou não quer, obviamente, que não existe força interior para romper a lógica de uma escola que funciona de forma muito semelhante à fábrica da Sociedade Industrial. Toca-entra-toca-sai! Como disse o Psicólogo Eduardo Sá, esta escola está vocacionada para o "marrar, vomitar e esquecer". E ninguém vê isto?
Senhores governantes, se não sabem, vão à sua vidinha. É fácil. Terão um salário menor, é certo, o peito menos cheio de ar, mas talvez sejam mais felizes e responsáveis no que fizerem. Talvez passem a ser úteis à sociedade. Simplesmente, porque ninguém, sensato, deve assumir responsabilidades para as quais não está preparado. Certo?
Ilustração: Google Imagens.

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