quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

A propósito da escola do Curral e da generalidade dos comentários

 

Não tenho, confesso, qualquer animosidade pessoal seja lá por quem for. Respeito, embora lamente, um caso com "barbas" que, pese embora tenha feito esforços vários no reatamento de relações normais e até de amizade, não fosse bem sucedido. As pessoas escolhem os caminhos e quem sou eu para as mudar? Quando isso acontece, nada a fazer, apenas lamentar. Até porque a vida são dois dias e, questiono-me, de que valem as perseguições, os mal entendidos, as ofensas, as participações infundadas, a maldade e toda a agressividade gerada por situações de lana-caprina? Valem zero, quando, já nem falo do vírus que nos corroe mentalmente, mas de uma inesperada enfermidade que deixa tudo de pantanas. Isto para dizer que, inclusive, no exercício da política, que joga com os princípios e valores que acreditamos, adquiridos e consolidados ao longo da vida, a luta democrática deva ser vigorosa, mas respeitadora das pessoas. Há limites e "zonas vermelhas" que não podem ser ultrapassadas. E é tão fácil pedir desculpa. Quando alinhavo algumas linhas de análise não é contra a pessoa x ou y, mas tendo em atenção o que dizem e fazem no exercício da missão política. Sei e esforço-me por saber diferenciar esses dois campos.



Este é um exemplo: nunca apreciei, enquanto político, o anterior presidente do governo, muito escrevi sobre as suas atitudes, mas respeitei-o sempre como pessoa. Tenho com ele algumas histórias interessantes que um dia contarei. O mesmo acontece com o actual presidente do governo, com quem estive na Câmara do Funchal durante doze anos, em bancadas opostas, onde muitas vezes vivi situações de crispação na análise dos dosssiês, todavia, tenho consciência que priviligiei, sempre, o respeito, porque a minha tolerância levava-me a crer que tal respeito era bi-lateral. O exercício da política deve ser assim. A vida também isso me ensinou. 

Ora bem, quando a propósito de um texto que publiquei sobre o Dr. Joaquim José Sousa, o Professor da Escola do Curral punido com seis meses sem salário, li comentários que caracterizaram tal assunto de "vergonhoso", classificando o decisor político da história de "político de aviário", que se vive em uma "sociedade amordaçada", que estamos perante um "silêncio ensurdecedor", que o modus operandi é "sinistro", que a "situação é assustadora" e a "fraude, a ilegalidade e o assédio moral são, infelizmente, práticas correntes no ensino público", tudo isto vindo de pessoas, algumas que bem conheço e face às quais nutro consideração e respeito pela sua idoneidade pessoal e académica, então é caso para ficar perplexo com o comportamento político de quem actua, deliberada e infundadamente, contra um profissional da Educação. Em suma, fica-me claro que a pessoa x ou y deveria, pelos seus próprios pés, sair da cena onde é protagonista. 


A missão política constitui um serviço público à comunidade, não é um emprego! A missão política exige dignidade, humildade, respeito pelos outros, exemplo de verticalidade e de honestidade nas decisões. A missão política exige que não se confunda maioria absoluta com poder absoluto. A missão política exige qualidade na negociação, confiança e pacificação. A missão política exige compromisso, risco, excelência, sentido prospectivo e resposta adequada às situações. A missão política exige liderança e nega chefes.  A missão política exige a todo o momento uma análise crítica. A missão política é tudo isto (e muito mais) e nunca, mas nunca, a utilização de um dado lugar, ainda por cima efémero, para praticar a demagogia, a subtil perseguição, a imposição de silêncios enervantes, os episódios fúteis, o sentir-se em um palco para o qual muitos se vergam, embora com olhares cabisbaixos de medo, ou então, o que é prática comum, a distribuição de um qualquer "bodo aos pobres" (leia-se professores), ao jeito, vejam lá que eu até sou, perdoem-me a expressão, "um gajo porreiro".


Infelizmente o sector da Educação está assim, sem norte, totalmente inconsistente, vivendo e preferindo a rotina aos actos de visão de longo prazo. O sistema, por melhores que sejam as cores garridas com as quais o queiram pintar, está exaurido, com alunos cada vez menos interessados (com muitos pobres porque não cuidaram da sociedade a montante da escola), com professores (inegável o seu esforço) em estado de angústia, remetidos ao siêncio por necessidades múltiplas. O sistema, sejamos claros, está completamente desadequado do tempo que estamos a viver. O sistema está envolvido em uma infernal burocracia, sufocante, obcecado pela avaliação e não pela aprendizagem, factores que retiram tempo para pensar, quanto uma grande parte do esforço vai para intermináveis e sequenciais reuniões com ofícios, circulares, papéis, muitos papéis e relatórios tarde ou cedo destinados ao arquivo morto. O sistema vive como se de uma fábrica se tratasse, que abre às 8 e encerra às 18 horas. O que produz? Muitos "produtos" com sensíveis "defeitos de fabrico" e abandonos da "fábrica". O sistema é sinónimo de um massacre obrigatório para todos, prenhe de projectos e mais projectos onde poucos se questionam, afinal, "para que é que isto serve" para a vida. Sei do que escrevo. E a propósito, ontem, ao jantar, desfrutei de uma longa e saborosa conversa com "o meu neto mais velhinho". Sobre Economia nacional e internacional. No final, já frente à televisão, seguindo um programa, disse-me: "avô, mas isto que falámos não se aprende na escola". Rimos, porque ele conhece o meu pensamento sobre a aprendizagem, sobre a vida e o direito ao sonho.

Espanta-me, por tudo isto, que ninguém ponha ordem na Educação. Que o Senhor presidente do governo vá na lengalenga que lhe cantam ou lhe segredam. Que vá na historieta das "salas do futuro". É-me difícil perceber, no caso do Professor Joaquim Sousa, que ele não se indague, convenientemente, restabelecendo a dignidade, esquecendo-se que "cesteiro que faz um cesto faz um cento". E que mais cedo que tarde, uma qualquer bomba política rebentar-lhe-á nas mãos. A Educação não se compadece de egos inchados e da fantasia do que o meu Amigo Dr. Antonio Fontes, já tem uns anos, apropriadamente, classificou de síndrome do "carro preto". Compete-lhe a monitorização do sistema e, quando cheira a esturro, tem o dever de salvar a "honra da casa". Eu estaria levado a falar da "honra do convento" porque nem a Assembleia se mexe. Fico pela "honra da casa".

Ilustração: Google Imagens.

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