terça-feira, 14 de março de 2023

Mais de metade da população sem o Ensino Secundário


O secretário da Educação da Madeira fala de uma "evolução extraordinária" e que se encontra "extremamente agrado". Já não fico perplexo nem para rir me dá com algumas declarações políticas, porque a situação é delicada e muito grave. Há como tentar "tapar o Sol com a peneira", quando os dados do Instituto Nacional de Estatística apontam para a segunda região do país com maior percentagem de população residente sem o ensino secundário, o que significa que numa população de 253 000 pessoas, aproximadamente, 143 000 não o concluíram.



Não é estranho, por isso, que cerca de 13 000 jovens tenham saído da Região nos últimos anos, a mão-de-obra seja escassa e o futuro apresente cores tendencialmente cinzentas. Só o político de plantão, certamente comparando com o tempo do fundador da nacionalidade, fale de uma "evolução extraordinária" e que todos nós devamos estar "extremamente agrados". Isto para não falar de 8 000 jovens que não estudam nem trabalham!

E neste processo falam de "salas de aula do futuro", de "inteligência artificial", de paz social e até um empresário, recentemente, sublinhou que “as pessoas não querem trabalhar” por que “há muitos rendimentos mínimos” (DNotícias 23/2/23), ou então que os "Licenciados só estão no desemprego por opção" - presidente do governo, em 17.02.2023.

Aliás, trata-se de um drama que vem de longe. Tenho presente um estudo da investigadora Doutora Liliana Rodrigues (UMa), publicado no Dnotícias a 14 de Julho de 2008, página 8, onde foi referido que apenas 51% do total de jovens da região em idade de frequentar o ensino secundário, entre 1997/2004, apenas 58% tinham terminado o 12º ano. E os dados poderiam ser bem mais dramáticos se a referência etária fosse os 18 anos e não entre os 15 e 20 assumidos, na altura, pela secretaria regional da Educação. Perante o estudo, realizado há 14 anos, o que resultou? Nada. Ou melhor, um enxovalho público onde foi referido que qualquer criança do 1º ciclo do básico teria sabido fazer melhor as contas!

Ora, do meu ponto de vista, aquelas não são abordagens politicamente sérias. As razões estão, fundamentalmente, na organização social, no pensamento económico, na pobreza estrutural geradora de círculos viciosos, no planeamento e na mentalidade que se enraizou porque foi semeada. "As verdadeiras causas da pobreza está na organização da sociedade e não nos pobres", escutei numa conferência do Dr. Bruto da Costa (1938/2016). Está nos políticos e na sua governação. Porque não temos milhares de preguiçosos, o que temos é um conjunto de políticas completamente desadequadas. E tanto assim é que os relatos da emigração não são compagináveis com gente indolente e mandriona.
E como se isto não bastasse, confrontamo-nos com um sistema educativo cada vez mais decadente, insatisfatório, que não conhece a diferença entre estudar e aprender, rotineiro, cheio de projectos balofos, simplesmente porque existe uma falência de políticos com capacidade e inteligência para actuar hoje para os desafios de amanhã.

Ilustração: Google Imagens.

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