terça-feira, 28 de março de 2023

Ontem, os professores, hoje, os alunos!

 

Detesto ditadores e "ditadorzecos". Presumo que lá no fundo sejam pessoas infelizes, porque, no meio da sua voraz atitude diária de a todos controlar ou, então, de sentirem um imaginário poder sobre os outros, julgo que são capazes de terem alguns momentos de lucidez, sobretudo quando são confrontados olhos nos olhos. Como nada percebo, no plano científico, sobre os comportamentos, tudo resumo a uma endémica infelicidade. São assim!



Quando leio que o "lugar dos alunos é na escola" e que qualquer queixa "não é argumento para validar aquilo que reivindicam", presumo que a uma pessoa que assim se comporta, na escola por onde passou não conseguiu perceber o que é isso de formação democrática no quadro de uma cidadania activa. Depois, falam, porque dá jeito, de "convivialidade". Só que de sentido único, claro! Aliás, há muito que os professores reivindicam a Escola Democrática, inclusiva e de qualidade. Ora, o que aquelas declarações envolvem é uma descarada imposição do medo. Quem manda sou eu e ponto final. Quietinhos.

Visitei escolas democráticas onde até o regulamento da escola é definido pelos alunos. Onde, num determinado dia da semana fazem uma assembleia geral de escola, onde as regras nascidas de baixo, são debatidas e alteradas. Onde há audição dos problemas da comunidade escolar. E ali não deixa de existir disciplina, rigor e muita aprendizagem. Tornam-se adultos responsáveis.

Mas esta história tem antecedentes. Em 2019 o mal-estar na Escola de Hotelaria conduziu a um grave sobressalto entre os professores. Conduzi uma Assembleia Geral de Professores, no Sindicato de Professores da Madeira, e tenho bem presente o que escutei, no meio de um indisfarçável medo. Ouvi desabafos de gente com as lágrimas nos olhos, passei o meu olhar pela assembleia e vi-os apavorados com o dia de amanhã. A minha missão foi a de acalmá-los, compreendendo-os mas também incentivando-os no pressuposto que "só perde quem deixa de lutar". 

Passados três anos, não são os professores, mas os alunos que se levantam contra alegadas prepotências. Não faço juízos de valor até porque não conheço o processo, mas insurjo-me contra declarações infelizes. O "lugar dos alunos é na escola", mas essa escola só existe porque há alunos. Certo? Então, pode deduzir-se que uns ali estão para uma aprendizagem que se deseja de qualidade, e outros, os que a dirigem, ali estão para garantir as condições básicas do seu funcionamento. No meio disto deve prevalecer o respeito bilateral. Está pois enganado quem pensa que qualquer queixa "não é argumento para validar aquilo que reivindicam". Até na Guiné, no mato, em tempo de guerra colonial, quando o "Homem-Grande" reunia os principais da aldeia, tinha o cuidado de os escutar, corrigir e propor soluções.

Não sei se se trata do Princípio de Peter ou do efeito Dunning-Kruger "que diz respeito a pessoas que acreditam cegamente que possuem uma preparação maior do que os outros para lidar com qualquer assunto. Dessa forma, o portador da síndrome de Dunning-Kruger costuma fazer escolhas ruins influenciadas pela sua arrogância. Consequentemente, o indivíduo alcança resultados insatisfatórios em tudo o que faz por insistir numa sabedoria que não possui".

Ilustração: Google Imagens.

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