sábado, 12 de agosto de 2023

A ESCOLA QUE NÃO ENXERGA O MUNDO, MATA A CURIOSIDADE E A COMPLEXIDADE



Regressei à leitura do Filósofo Edgar Morin, hoje com 102 anos. Perguntaram-lhe: "O senhor fala de um mundo padronizado, uniformizado. Como ficam o pensamento e a arte?"

Resposta: "Vivemos uma crise do pensamento. Aprendemos no nosso sistema de ensino a conhecer separando as coisas de maneira hermética, segundo disciplinas. Os grandes problemas, porém, requerem associar os conhecimentos vindos de disciplinas diversas. (...) Temos uma crise do pensamento que se manifesta no vazio total do pensamento político, ainda que, há coisa de um século, houvesse pensadores políticos que, mesmo quando se equivocavam, tentavam compreender o mundo, como Karl Marx e Tocqueville. O meu esforço nas minhas obras é tentar efetivamente esse pensamento. O que estamos vivendo? O que está acontecendo? Para onde estamos indo? Claro que não posso fazer profecias, mas vejo o risco nas possibilidades que se abrem diante de nós."

Qual, então, o maior desafio do ensino?

"Não inserimos no programa temas que podem ajudar os jovens, sobretudo quando virarem adultos, a enfrentar os problemas da vida. Distribuímos o conhecimento, mas não dizemos que ele pode ser uma forma de traduzir a realidade e que podemos cair no erro e na ilusão. Não ensinamos a compreensão do outro, que é fundamental nos nossos dias, não ensinamos a incerteza, o que é o ser humano, como se nossa identidade humana não fosse de nenhum interesse. As coisas mais importantes a saber não se ensinam."

102 anos! O pensador incentiva-nos a descobrir o mundo, quebrando as amarras impostas; outros, com menos de metade da idade, preferem assumir-se dogmáticos e cristalizadores. É o que temos!

Ilustração: Google Imagens.

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