sábado, 16 de setembro de 2023

A perda de alunos e a ausência de debate

 

"Escolas públicas e privadas perdem mais de 300 mil alunos em 11 anos" - Jornal Público, 1ª pág. de 11 de Setembro de 2023.



Entretanto, acentuam-se as lutas dos professores, as greves, milhares de alunos sem docente pelo menos numa disciplina curricular, sindicatos em polvorosa, insatisfação dos pais, enfim, um quadro que não é nada satisfatório.

Evidentemente que este é um problema acumulado de muitos anos, onde não houve a sensatez de debater o sistema educativo em todas as suas variáveis. Aos níveis nacional e regional. É uma ilusão admitir que o sistema está melhor nas regiões autónomas. Não está. O sistema é igual do Minho ao Corvo e não é pelos professores terem "garantido" a contagem do tempo de serviço, que se poderá concluir que a Região é um oásis nos desequilíbrios do país. Globalmente, o pensamento estrutural que preside à condução do processo regional não tem qualquer diferença em todas áreas e domínios que possamos analisar.

Na Madeira assistiu-se, também, a uma significativa quebra na natalidade. E este momento, apesar de preocupante, podia ter servido para transformar essa fragilidade numa óptima oportunidade de mudança do sistema em toda a sua complexidade. Não houve essa preocupação. Simplesmente porque não se debate. Há uma sistemática preferência pelo silêncio e pelo controlo dos estabelecimentos de aprendizagem e siga a festa!

Ao ponto de, também por ausência de estudo e debate, quando outros países do topo estão a abandonar os manuais digitais, porque estudaram e debateram as consequências, sublinho, andam, por aqui, em contraciclo, a distribuí-los como uma grande opção enquadrada na tal "escola do futuro". O governo deve explicações.

Nutro o maior respeito pela minha classe profissional. Sei que tem sido, durante anos, desconsiderada, por culpas próprias (é preciso assumir os erros cometidos por omissões e sucessivo "agachamento" ao poder político), que conduziram ao ponto que nos encontramos. A menorização dos docentes vem desde o tempo que nem nas férias recebiam! Só que, daí a minha preocupação, não aceito que, simultaneamente, com algumas lutas pela recuperação da dignidade da função docente, os professores continuem alheados do debate sobre o sistema educativo. A Escola tem de ser debatida, na sua organização e, sobretudo, o seu processo (pensamento) pedagógico. A todos os níveis de análise, no essencial, que escola queremos e que sociedade desejamos construir? Porque esta escola e esta sociedade estão em falência. Esse debate está ausente das preocupações da generalidade dos professores. 

A recuperação do tempo de serviço prestado, a colocação em estabelecimentos próximos da área de residência, os níveis remuneratórios, o flagelo da burocracia inconsequente, a perversa avaliação de desempenho, tudo isto e muito mais constitui uma parte do problema. A outra, mais complexa, é a de determinar o que aprender, como aprender, quando aprender, se o professor é um debitador de matéria ou antes uma espécie de "catalisador" do conhecimento e se é ou não importante rever currículos, programas, conceito de aula, de turma e de ano. Os professores são importantes neste processo; negam o futuro quando se distanciam destas matérias. Aliás, um dos princípios do desenvolvimento é o da "participação", isto é, ou as pessoas participam ou os processos morrem.

Por tudo isto, a diminuição do número de alunos devia constituir uma grande oportunidade para desenhar uma escola para o presente com os olhos colocados no futuro. Se revissem o sistema, estou em crer que não seriam necessários os professores que dizem estar em falta! 

Ilustração: Google Imagens.

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