segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

A ESCOLA E A CULTURA QUE NÃO PROPORCIONA


Segui, com particular entusiasmo uma entrevista ao Dr. Mário Soares, conduzida pela jornalista da RTP 1 Fátima Campos Ferreira. Da longa história contada para que perpectue a memória, temas que, genericamente, com mais ou menos pormenor é profundamente conhecida por muitos, pelo menos dos cidadãos nascidos pós II Guerra Mundial, situei-me em um pormenor de relevante importância na formação de um Homem culto. Contou que o seu pai chamou Álvaro Cunhal (1913-2005), um dos seus mentores, juntamente com o filósofo Agostinho da Silva (1906-1994) e o ensaísta e crítico literário Álvaro Salema (1914-1991) e disse-lhes: "(...) eu acho que este rapaz está emperrado, era bom dar-lhe uma certa cultura, falem com ele, abram a cabeça, falem de tudo, levem-no ao cinema, ao teatro (...). Isto é, o Colégio Moderno que frequentava, o currículo e os programas das disciplinas de então não eram suficientes.


Esta passagem da entrevista, do meu ponto de vista, é notável. Entendia o pai que a formação cultural de características abrangentes e universais é que poderia servir de alicerce na construção do Homem que Mário Soares acabou por ser. Não foi à toa que o pai escolheu aquelas três figuras: um político notável, um filósofo para, certamente, obrigá-lo a pensar e um homem licenciado em História, ensaísta e crítico literário. Quando escutei aquela preocupação do seu pai, exclamei para mim próprio: tudo o que a escola de hoje continua, teimosamente, a não facultar. Uma escola entretida com o manual, com a papa feita, com o comportamento, com a avaliação de tudo, com a burocracia, mas não com a cultura enquanto motor de todo o restante conhecimento. A inflexibilidade da hierarquia não permite, o professor não pode e a mentalidade reinante é de decompor a vida em disciplinas quando ela é um todo indivisível. 
Este dia de luto Nacional pela morte física de um Homem que marca a nossa História, é o mesmo dia que, certamente, o eternizará pela sua luta em prol de um Portugal livre e DEMOCRÁTICO. Continuarei, por tudo isto, a lamentar que este Sistema Educativo, na esteira das palavras do pai de Mário Soares, continue emperrado e a emperrar a formação de homens e mulheres de cultura. Porque se esse fosse o caminho, tudo o resto viria por consequência.
Ilustração: Google Imagens.

Sem comentários:

Enviar um comentário