quarta-feira, 26 de abril de 2023

Chega de vergonha, a comunicação social e a Escola

 

O que se passou na Assembleia da República (25 de Abril) através do "partido político" Chega, não apenas o envergonhou, mas envergonhou a esmagadora maioria dos portugueses, quando foi Portugal que convidou, sublinho, para a nossa casa, o Presidente da República do Brasil, Luís Inácio Lula da Silva. Tratou-se de um acto vexatório, de desonra, eu diria mesmo, indecoroso, que nada tem a ver com o exercício da política feito de oposição mas com decência. No dia evocativo da conquista da Liberdade, um partido demonstrou não ter um mínimo de decoro e de respeito o que, para mim, significa ser inferior no quadro da democracia. 



Aliás, se já estavam bem definidas, neste 25 de Abril, as suas atitudes demonstraram, claramente, o sentido da sua existência: um partido de protesto rasca, jamais um partido de proposta séria. 

Bem disse o Coronel Vasco Lourenço, um dos operacionais do 25 de Abril de 1974, que nesse tempo "soubemos travar o ELP" - 1975 (Exército de Libertação de Portugal, organização terrorista de extrema-direita criada por Barbieri Cardoso (ex-subdiretor-geral da PIDE/Direção-Geral de Segurança), hoje, tal como ontem, sublinhou Vasco Lourenço, é povo que tem de travar este tipo de organização que esconde os verdadeiros objectivos e que, portanto, não se enquadra nos parâmetros de uma Democracia adulta e civilizada.

Há tanta forma de discordar, de fazer oposição e de propor novos caminhos. Há lugares e momentos para o fazer, nunca numa sessão solene de boas-vindas a um Chefe de Estado de um País com o qual temos uma História comum e centenárias ligações afectivas e empresariais. A questão é determinarmos por que razão se chegou a este ponto. Por que razão, ainda que escassa, uma determinada percentagem eleitoral segue esta lógica de descontrolada berraria? 


Ora bem, não sendo eu sociólogo, nem tendo estudado, profundamente, esta tendência para a radicalização discursiva e o afrontamento, venha de que quadrante político vier, atrevo-me dizer que tudo isto não surge apenas por um certo descontentamento popular. Obviamente que tem outros contornos vastos e bem evidentes, a avaliar pelo que se passa em vários países, com o despontar de figuras (entre outros, Marine Le Pen, Alice Weidel e Alexander Gauland, Matteo Salvini, Jussi Halla-aho, Viktor Órban, Santiago Abascal, Trump, Bolsonaro), e com ataques e mortes perpetrados por essas "sementes" populistas que varrem não apenas a Europa mas um pouco por todo o Mundo. Daí que, sustento eu, só existam três formas de conter esta escalada, pelo menos no nosso país: 1. através do combate democrático, nas instituições próprias, estabelecendo princípios e valores que a Democracia e a concomitante liberdade jamais possam considerar como linhas ultrapassáveis; 2. com a responsabilidade da comunicação social que deve deixar de ir à procura de "sangue"; 3. preventivamente, a Escola, mais do que exigir definições para esquecer, eduque para a cidadania. Aliás, a tarefa da escola está por realizar. É evidente um vazio, quando estas questões delicadas e profundas não podem ser do tipo toca-e-foge, isto é, falar o mínimo, não debater e não questionar para além de uma certa treta programática. Quando assim acontece significa que estamos a deixar caminho aberto para a incapacidade de ver à distância o que alguns pretendem. Porque LIBERDADE não significa LIBERTINAGEM.

Ilustração: Google Imagens.

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