terça-feira, 11 de abril de 2023

Sem comprometimento a Escola continuará aquilo que é!

 

Não é que não me preocupe em demasia. Sinto, sim, o problema com alguma tristeza, mas, simultaneamente, com algum distanciamento. Sei que o poder político tem muita força e mor das vezes reage sem base científica; tenho uma leitura sobre a idiossincrasia das pessoas; sinto que qualquer atitude, primeiro, que sugira inquietação, depois, o debate e a necessidade de mudança, é sempre susceptível de desconfortos em função do rame-rame da vidinha diária; tenho, também, noção que há uma ausência de algum estudo e até de interrogação permanente sobre o que se faz e por que motivo assim se faz; sei, ainda, do peso da palavra de Bernard Shaw (1856-1950) quando enalteceu que "quem pode cria e que quem não pode ensina".



Porque vivo dentro da realidade, de uma designada normal anormalidade, sei que é mais fácil seguir John Stuart Mill (1859): "(...) a recusa em escutar uma opinião porque se tem a certeza que é falsa, é o mesmo que supor que a sua certeza é absoluta", do que escutar, colocar em dúvida, estudar, argumentar e produzir pensamento sobre qualquer assunto. No contexto em que vivemos e no sentido de uma melhor política educativa, não é por isso fácil, serena e humildemente, contribuir para que, na esteira de Édouard Claparéde (1873/1940), a "aprendizagem seja uma resposta" aos desafios de cada momento histórico.

Deixei aqui três sínteses de figuras de uma mesma época. Conjugadas com aquelas são tantas as personalidades, de investigadores a pedagogos, de médicos a psicólogos, que ao longo do Século XX e nos vinte e dois que já se passaram deste século, que abordaram e concluíram, com uma irrepreensível profundidade científica, que a escola tradicional, mesmo que remendada nas margens, não responde ao funcionamento que hoje temos do cérebro. "Com temas autoconclusivos e com todas as conexões cortadas", diz-nos o matemático Salman Khan, só podemos esperar, por um lado, respostas únicas que bloqueiam o acto de pensar, de criar e de submeter-se a essa maravilhosa palavra que é a curiosidade, por outro, grosso modo, repito, só podemos gerar seres dóceis, obedientes e limitados. Disse o Professor Miguel Tamen, da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, interpretando o sentimento dos empregadores: "ensinem-lhes a pensar, ensinem-lhes coisas diferentes... não fiquem ansiosos com o mundo real porque do mundo real tratamos nós" - disseram-lhe.

Pois, é isso. Não se trata de "inventar", mas seguir os testemunhos sobre o que esta IV Revolução Industrial nos impele. É a própria OCDE que diz que o desafio para Portugal "é educar para as próximas gerações. Educar para o futuro e não para o passado. Isso significa dar às escolas mais protagonismo para alargar o tipo de conhecimentos, aptidões e competências" - Andreias Schleicher, Director da Direcção de Educação e Competências. Mas há quem pense que tudo isto são tretas, que quem assim diz ou escreve desconhece o que de bom e muito bom se faz nas escolas. É isso que me entristece, porque é a forma simplificada e inútil de, por desconhecimento ou comodismo, manter-se nas águas pantanosas do sistema, ao invés de enfrentar, com coragem e desprendimento, o mar revolto, mas também de oportunidades, que temos pela frente. Se a atitude é a de indiferença, ora bem, resta o pântano, o lamaçal, o atoleiro! É aí que se encontra o estado da educação e que muitos, focados no seu pequeno mundo, não conseguem vislumbrar.

Mas porque há sempre uma brisa de esperança, espero que, após esta justa luta que os professores estão a enfrentar no sentido da dignificação da carreira docente, iniciem uma outra de uma enorme grandeza: a da mudança de paradigma que conduza à ruptura estrutural desta falhada Escola, rotineira, previsível, insuportável, burocrática, cansativa para todos e pretensamente inclusiva, na perspectiva de uma outra geradora de espaço para o talento e o sonho de cada um. Continuarei a lutar por isso, no  meu canto de professor aposentado, embora reconheça a existência de muita ausência de conhecimento e de comprometimento.

Ilustração: Google Imagens.

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